quarta-feira, 26 de setembro de 2007

LEVANTAMENTO INDISPONÍVEL

Nunca tinha visto a D. Rosalinda assim tão cabisbaixa, não que por vezes não tivesse motivos, porque esta coisa de ter uma porta aberta, não é sempre um mar de rosas, dá muitas dores de cabeça mas, continuo a dizer que o seu semblante carregado não era normal. Achava-a inquieta, quezilenta, sem paciência alguma para ouvir quem quer que fosse, sobre qualquer assunto. O negócio não estava mau, a cozinha impecável, os hóspedes satisfeitos e a lotação quase esgotada, não fosse o quarto 23, ainda à espera do carpinteiro para arranjar o roupeiro.
Achei que era altura de lhe perguntar o que realmente se passava com ela.
- D. Rosalinda, que se passa consigo? - perguntei eu.
- Sabe Mário, eu nunca fui de partidos nem de inteiros, sempre achei que todos eles queriam era poleiro e, por isso, sempre optei por manter a minha neutralidade em questões de política, excepto durante o Estado Novo, altura em que dei guarida a muitos que, a fugir da P.I.D.E., me vinham bater à porta às tantas da madrugada. - respondeu ela.
- Tudo bem D. Rosalinda - disse eu -, mas a Srª. anda inquieta com alguma coisa. Desde ontem que anda muito metida consigo.
- A questão é que - respondeu ela -, recebi pelo correio uma carta do P.S.D., com a informação de que tinha as minhas quotas pagas até ao fim deste ano e que, por essa via, estava legitimada a exercer o meu direito de voto na eleição do presidente do partido.
- Mas a Srª. nunca foi filiada no P.S.D.!!! - disse eu admirado.
- Claro que não Mário - respondeu ela, nem nesse, nem em nenhum outro, daí a minha indignação.
- Mas D. Rosalinda, provavelmente terá sido engano e alguém daquele partido necessita de militantes à força, para ganhar as eleições e, nesse caso - disse eu -, a Srª. devia tentar ligar para alguém a pedir satisfações.
- É o que vou fazer Mário - disse ela, mas não hoje que já estou com a cabeça a rebentar.
- Pois sim, D. Rosalinda, durma bem e não pense mais nisso. - disse eu para a reconfortar.
A D. Rosalinda subiu para o andar de cima e eu continuei a desfolhar jornal do dia pensando na confusão que vai naquele partido. De facto, ser oposição não é nada fácil. Rolam cabeças, zangam-se as comadres. Os que eram amigos ficam inimigos e os que não se podiam ver, fazem alianças estratégicas, a troco de benfeitorias.
Mas não deixa de ser muito conveniente (para alguma das partes) que, por exemplo, em 152 minutos, numa caixa multibanco fossem pagas 115 quotas e noutra, em 72 minutos, fosse pagas 120 . Ninguém anda para aí a desbaratar dinheiro se não fosse por um forte motivo. Se já assim, na oposição, apunhalam pelas costas os colegas de partido, imagine-se as manobras de bastidores que não acontecem quando estiverem a governar.
Só acho estranho que alguns dos habituais barões daquele partido não apareçam em público a pedir calma e bom senso neste período difícil para o P.S.D., sim porque, mais tarde ou mais cedo, vamos ter que “gramar” com eles outra vez. É tão certo como me chamar Mário. Faz-me lembrar o Rotativismo.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...