domingo, 23 de setembro de 2007

POVO SUPERSTAR

Já todos tinham subido para os quartos e eu, apenas me encontrava no bar da pensão, à espera que o Paulo acabasse de tomar a cerveja que lhe tinha servido. Enquanto isso, na SIC, estava a dar a "Família Superstar", o novo programa dos serões de Domingo daquele canal, onde algumas famílias portuguesas dão o seu melhor para conseguir convencer o júri de que as suas qualidades vocais são extraordinárias, a ponto serem dignas de passar à fase seguinte. O que me chamou à atenção não foi tanto o facto de uns serem melhores intérpretes que outros, de conseguirem colocar a voz mais acima ou mais abaixo ou até mesmo de conseguirem acompanhar o parceiro e entrar no momento certo. O que de facto me chamou à atenção foi a forma como encaravam o passagem ou não à fase seguinte. Nota-se no olhar de quem vence uma alegria imensa como se tudo aquilo que fizeram parecesse, momentaneamente fabuloso. Quando acontece o contrário, nota-se uma sensação desgosto, de desalento por mais uma tentativa falhada, tornando este concurso mais um igual a tantos outros que, durante o dia, a semana e os meses, nos invadem a "caixa que mudou o mundo".
O Paulo, ao ver-me de olhar tão fixo a olhar para a televisão, perguntou-me em que é que estava a pensar e eu, respondi-lhe que estava a ver nas pessoas momentos de alegria e de tristeza, mas sobretudo, estava a ver a forma como cada um ali chegou e, depois, dali saiu.
- Sabes Paulo, admiro o povo português. Apesar da crise, apesar das dívidas, apesar de serem constantemente usados e abusados pelos políticos, pelos patrões, pelos maridos, pelas mulheres, pelo polícia, pelo fiscal, pelo vizinho, ainda conseguem sorrir, amar e lutar, quando lhes dão a oportunidade de mostrarem aquilo que realmente valem.
Em todas as circunstâncias - continuei eu - em que foi necessário alguém seguir à frente ou ficar para trás à espera de quem não conseguia, esse alguém era português.
- É por isso que todos abusam de nós - disse o Paulo muito seguro de si -, sendo por isso também, que todos sabem com quem podem contar, quando chega a hora de ter que ser. Somos verdadeiramente extraordinários.
- Só é pena termos ficado, apenas, como este pedaço de território, todo virado para o mar e, como se não bastasse, termos com a Inglaterra, uma relação de subserviência e a mais antiga aliança do mundo. - disse eu para rematar.

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