quarta-feira, 19 de setembro de 2007

AMEAÇA "NUCLEAR"

Pelo menos, uma vez por semana, tenho que ir ao correio. Saio da pensão, passo pelo Terreiro, desço a Escada Grande, continuo pela Rua da Palmeira até às Portas Verdes e, em frente ao Largo de São Francisco, fica a estação dos correios, único edifício que não se integra no recém recuperado centro histórico da vila.
Sem dúvida que foi uma obra bem arquitectada, bem executada e bastante necessária. Quem passar, apenas, por aquela rua, verá que nada foi deixado ao acaso. Tudo combina, tudo se apresenta limpo e asseado. Contudo, se for pela rua das traseiras, então aí, o caso muda de figura. Parece que aquele outro lado não faz parte no mesmo centro histórico. Paredes e paredões por pintar, casas a cair e por cair, precipícios não assinalados e sem qualquer protecção, silvados e ervas daninhas a crescer sem oposição, enfim, tudo diferente como que a lembrar o caos. Pela frente uma beleza, pelas traseiras uma tristeza.
Entro naquela estação e senti frio, o ar condicionado estava ligado.
Enquanto esperava ser atendido, fui olhando para os livros que, nas estantes, esperavam por alguém que, tal como as crianças num orfanato, gostasse deles e os levasse. Um livro sobre "os melhores petiscos do mundo" chamou-me a atenção e decidi levá-lo pois, um professor calado faz sempre jeito quando nos falta a imaginação perante uma indecisão de um qualquer hóspede quando, num fim de tarde, apetece algo fresco e um tapa.
Já de volta à pensão, como o livro debaixo do braço, encontrei o Paulo, amigo de há muitos anos que, de quando em vez aparece para falarmos um pouco sobre o país e o mundo.
Convidei-o para bebermos algo na esplanada da pensão.
Aceitou com delicadeza e pediu uma cerveja fresca acompanhado com os "tremoços da Luz", vendedora por conta própria que, todos os dias os vende no muro junto da Igreja ou nas escadas do fotógrafo.
- Boa ideia. - disse-lhe eu - Acompanho-te nas duas coisas.
Falámos, preocupadamente, na crise do Irão. Do braço de ferro entre aquela (nova) nação nuclear e no perigo que ela representa para o médio oriente e para o mundo.
- Ainda há uns minutos, subiram de tom as ameaças do líder daquele país, perante o pedido de intensificação das sanções por parte da França. - disse eu referindo-me ao Irão.
- Talvez não passe de um falso alarme. - disse o Paulo com algum cepticismo.
- Tomara que sim - respondi eu - mas não creio que os E.U.A. deixem escapar esta oportunidade de encontrar aliados, na defesa da sua política para o Médio-Oriente. Até Condoolezza Rice já "puxou as orelhas" ao director-geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Mohammed ElBaradei, portanto, a coisa está a ficar muito feia.
- Assim sendo, a tensão está a crescer naquela parte do globo, tanto mais que a Rússia e a China já vieram a terreiro dizer que uma iniciativa dessa natureza e com essa envergadura, arrastará para uma guerra sem quartel, não só o Médio-Oriente, mas todo o mundo o que significaria uma catástrofe total de repercussões inimagináveis. - disse o Paulo com ar carregado.
- Sem dúvida, um cenário dantesco, ao qual é impossível dizer, com absoluta certeza, se alguém sobreviverá. - disse eu um pouco angustiado.
- De qualquer maneira, enquanto eles não se resolvem por lá, que venham para cá mais uns tremoços e mais duas cervejas porque, daqui a nada, vamos sofrer mais um bocadito pelo Sporting.
- Assim seja. – disse eu já levantado em direcção ao bar.

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