quarta-feira, 31 de outubro de 2007
ALICE NO PAÍS DOS COITADINHOS
POR FIM, ENFIM, NUNCA MAIS
terça-feira, 30 de outubro de 2007
PORTUGAL MARRÃO
- Não sei bem meu caro, apenas considero que as mudanças eram necessárias, como era necessário também inverter a tendência de crescente desinteresse com que os nossos jovens encaravam o ensino - respondi
- Eu lembro-me de, nos meus tempos de liceu, ainda no 11º ano, não saber muito bem que curso havia de escolher. Era um completo desnorte, parecia que andava para ali com os livros debaixo do braço. O que me preocupava era o 2º toque para, partir dali, poder ficar descansado durante 45 minutos.
- Também me recordo dessa situação. Lembro-me inclusivamente de ouvir falar constantemente na Escola Avelar Brotero quando o mote eram os cursos que preparavam os alunos para exercerem uma profissão.
- Mas Mário, tudo isso acabou com o 25 de Abril. O tempo das liberdades perdidas tinha passado à história e os jovens pretendiam afirmar-se a todo o custo e, por norma, a rebeldia, a provocação, o confronto e a contestação, eram as formas mais comuns de dizer basta.
- Tens razão Paulo, os tempos foram de pós-revolução onde uma geração inteira andava à procura de um rumo que os nossos governantes não souberam traçar, preocupados que estavam em apagar tudo o que cheirasse a Estado Novo, fosse bom ou fosse mau. Curiosamente, com esta nova perspectiva, está-se a tentar recuperar o tempo perdido, apostando principalmente nos cursos profissionalizantes e na responsabilização das escolas no que diz respeito ao resultado obtido pelos alunos.
- Não só mas também - disse Paulo -. Como podes verificar, o aumento dos poderes dos professores para com os alunos e a exigência de um maior envolvimento dos pais no percurso dos filhos é pelo governo considerado como a chave para o sucesso .
- Sim, estou a ver que todos chegaram à conclusão de que é necessário dar um forte empurrão ao ensino para que o nosso país não continue a ser aquele onde os jovens passam menos tempo a estudar. Só resta saber se o todo da sociedade acompanha esta preocupação e se os responsáveis pelo ensino, tanto a nível nacional, regional ou local, se comprometem, sem políticas e oportunismos eleitoralistas, a criar infra-estruturas capazes e dignas que permitam alcançar esses objectivos.
- Só espero que, a partir do momento em que não seja possível chumbar os alunos faltosos e expulsar os que constituem casos mais problemáticos, exista coragem para, de certa forma, os reeducar. - disse o Paulo
- Creio que, por parte dos governantes, é a derradeira tentativa de formar os portugueses obrigando-os, mesmo que eles não queiram, a terem sucesso escolar. - disse eu
- Pois é - disse o Paulo -, Portugal tem, a todo o custo, que atingir os objectivos propostos, só não sei se, pelo meio, não vão existir passagens administrativas, tipo aquela acerca da qual se falou bastante e de repente se deixou de falar.
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
MESMO AO PÉ DA PORTA
- Como assim? - perguntou a Susana.
- Então não queres saber que, durante a noite passada, uns meliantes pegaram fogo a uma série de contentores do lixo e à camioneta de transporte dos "Móveis Viseu". - responde a Luísa
- Mas isso é terrível!!! - exclamou a Susana indignada - Nunca, nem no pós 25 de Abril, altura em que as coisas andavam mais agitadas, tiveram lugar tais actos de vandalismo.
Entretanto chega à cozinha a D. Rosalinda que, ao vê-las tão atormentadas, de imediato lhes perguntou o que se passava.
- Não é possível!!!! - exclamou igualmente - Mas o que é que os agentes de autoridade andam a fazer? - perguntou ela indignada.
- Olhe D. Rosalinda - disse a Susana -, andam a fazer o que sempre fizeram desde que há relatos que, no fundo da vila, recrudescem os actos de vandalismo, com arrombamento de portas, danos no património quer público que privado, distúrbios nocturnos e algazarras constantes.
- Aí mais devagar Susana - disse a D. Rosalinda -, os agentes de autoridade actuam quando para isso são solicitados e, claro, não podem adivinhar o que vai acontecer.
- Claro que não D. Rosalinda mas, se já sabem da frequência com que acontecem esses incidentes, então, a meu ver, deviam levar a cabo acções de vigilância para evitar que se repitam situações dessa natureza. - disse a Susana
- Ninguém os vê durante a noite - disse a Luísa -, apenas durante o dia, à caça da multa e da ocorrência fácil.
- Sim, aí tens razão - disse a D. Rosalinda -, não existe prevenção, apenas reacção e, depois queixam-se quando as pessoas se insurgem contra o estado das coisas e vêem para a rua manifestar-se contra tudo e contra todos.
- Mas D. Rosalinda, não é o presidente da autarquia quem deve zelar pela manutenção da ordem pública e pela estratégia para dissuadir a criminalidade.
- Não sei se é a ele que cabe zelar pela manutenção da ordem pública mas, pelo menos, é ele quem preside ao conselho municipal de segurança, a quem cabe formular propostas de solução para os problemas de marginalidade e da falta de segurança dos cidadãos do município, bem como participar em acções de prevenção através da consulta entre todas as entidades que o constituem. - explicou a D. Rosalinda.
- Puxa D. Rosalinda, a Srª. está muito bem informada!!! - disse a Cristina muito admirada.
- Sabe minha cara, nesta coisa das competências e do funcionamento dos municípios, temos que estar sempre atentos e bem informados para que, quando chegar a altura de olharmos pelos nossos interesses, não sermos apanhados desprevenidos. Além disso - continuou a D. Rosalinda -, as questões da segurança afectam-nos a todos e principalmente a quem tem uma casa aberta e acolhe os que nos pretendam visitar, sejam conhecidos ou desconhecidos.
- Pois é - disse eu entretanto chegado à cozinha, preocupado com a demora do jantar -, o desconhecimento das leis não aproveitam a ninguém, por isso, quando dizemos que não fizemos determinada coisa por desconhecermos as normas que nos regem só nos prejudicamos, pois temos obrigação de as conhecer.
- Ainda bem que chegou Mário - disse a Susana -, estávamos aqui a falar acerca da balbúrdia que foi a noite passada.
- Pois é, foi uma situação muito desagradável e, mais uma vez, coincide com a abertura do ano lectivo, até parece que estamos num subúrbio citadino, onde reina a Lei do mais forte e onde as pessoas se escondem atrás das cortinas com medo de serem identificadas pelos prevaricadores não denunciando, por isso, os atentados à sua segurança e tranquilidade. - disse eu
- Coincidências a mais para meu gosto e que contrariam tudo aquilo que fundamentou a minha educação. No meu tempo, quando o meu pai falava, apenas o ouvia, cabisbaixa, sem me atrever a olhar-lhe nos olhos. - disse a D. Rosalinda enquanto se afastava para receber os novos hóspedes que, entretanto, acabaram de chegar.
domingo, 28 de outubro de 2007
O MUNDO NO DOMINGO DE MANHÃ
Não costumo perder tempo com as futeboladas da pátria. Nutro por elas algum desprezo, na medida em que são uma coutada falida, onde umas quantas aves de arribação e rapina, tratam das suas vidas. Por isso, passo por cima dos desportivos como cão em vinha vindimada!
Mas o que retive dos dias, foi o balanço nacional-patriótico que foi feito desta semana de glórias, desde a pretérita cimeira do "Porreiro, pá!" até à encomiástica visita do senhor Vladimir Putin, o Czar das Rússias e à cimeira dos sinos de Mafra.
A União Europeia, feita importante, ficou a pensar que Putin quer verdadeiramente o que propôs, seja em matéria de direitos humanos, seja lá sobre o que for.
Coitada e pobre ingénua!
O Sr. Putin quer apenas manter o seu statos quo, pouco importado com as "demandas de Bruxelas", mais preocupado, certamente, em remontar a Rússia como potência político-económico-militar, face ao crescendo Chinês e Indiano. A Europa pouco lhe interessará.
Talvez lhe interesse mantê-la quieta e pouco poeirenta, de modo a não lhe turvar a visão reconstrutiva.
O resto, serão lérias!
sábado, 27 de outubro de 2007
ARREFECIVENTO GLOBAL
- Nesse caso Mário, o nível das águas do Mondego, vai descer ainda mais não existindo por isso, o risco de ficarmos sem areal, diria até que vamos ficar com areal a mais.
- Talvez não fosse má ideia começarmos a pensar num novo cartaz publicitário.
- E tem alguma ideia Mário?
- Olhe D. Rosalinda, estive aqui a dar uma vista de olhos e acho que encontrei um que se adapta perfeitamente à situação.
I
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
PUTINISSES - TENTATIVAS DE APROXIMAÇÃO
- Eu também não acho que ele seja aquilo que alguns ocidentais consideram que ele seja. Penso até que ele se saiu muito bem como restruturador de uma nação que, em tempos, conseguiu apavorar meio mundo e que agora apenas quer solidificar a sua presença numa zona geograficamente instável e, aí sim, propícia ao aparecimento de forças destabilizadoras que poderiam ameaçar a tranquilidade desejada naquela parte do globo. - disse eu
- Fazia falta alguém que conseguisse restituir o orgulho a um povo que a única coisa que tinha, eram os destroços de um "império" governado pelos ideais marxistas que, com Gorbatchev, começaram a perder e com Iéltsin viram desaparecer por completo. - disse o Paulo
- Agora, não sabendo muito bem o que havia de recuperar para restituir o orgulho ao seu povo, ressuscitou o passado monárquico e toda a sua grandiosidade, como aliás é fácil de perceber pela a exposição que inaugurou hoje no Palácio da Ajuda, em Lisboa, bem como todas as estruturas e organismos que deram à ex-U.R.S.S. o prestígio de que gozou durante as décadas do comunismo russo. - disse eu
- Mas mais curioso ainda, é que aceitou candidatar-se a primeiro-ministro para assim poder continuar a conduzir os destinos da Rússia e se poder candidatar a presidente daquele país em 2012, "caso a situação do país o exija", claro está. - continuou Paulo enquanto bebericava a última gota de whisky que ainda restava no copo.
- Só demonstra então, que o povo russo não abdica de um "imperador" que lhe garanta continuidade política e unidade territorial, numa altura em que a necessidade de uma nação tampão, capaz de forçar a estabilidade naquela zona do globo, é cada vez mais uma realidade. - disse eu tentado abrir a última garrafa do scotch preferido do Paulo.
- Não fosse o poder crescente da Rússia e a sua cada vez maior influência naquela região, já os E.U.A. teriam invadido o Irão e a Coreia do Norte e a Turquia invadido o curdistão iraquiano. - disse Paulo
- Mas Paulo, gostei da proposta que Putin lançou à Europa para que fosse criado um instituto euro-russo para a defesa dos direitos humanos.
- Sim, também achei curioso que um homem, constantemente acusado pelos seus pares, como responsável por violações à liberdade de expressão e de autodeterminação de algumas pessoas e facções consideradas incómodas à sua política, avance com tão ousada iniciativa. - disse Paulo
- Política meu caro, apenas política. - respondi eu deixando escapar um sorriso maroto, como se estivesse a ver aquele cartoon em que Putin aparece caricaturado como um urso pardo a limar as garras.
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
O REGRESSO DA MENINA DOS CINCO OLHOS
- Sabes avó, o que me leva a fazer-te tal pergunta, tem a ver com o facto de as cinco escolas privadas que alcançaram a média mais alta na primeira fase dos exames nacionais do ensino secundário serem todas católicas.
- Pois é minha querida, mas também são aquelas onde se pagam propinas mais elevadas, portanto, desde logo, uma opção secundária .
- Pois, sendo assim - disse a menina Alice -, não será muito boa ideia ir estudar para uma dessas escolas.
- Além disso - disse a D. Rosalinda -, essas escolas têm características que tu não irias gostar.
- Como assim avó? - perguntou a menina Alice.
- Então repara - respondeu a D. Rosalinda -. O estudo da religião e moral é obrigatória desde o primeiro ano e as meninas e os meninos frequentam turmas independentes, isto é, meninas com meninas e meninos como meninos.
- Quer então dizer que não podia partilhar, por exemplo, a minha carteira com o João ou com o José. - disse algo triste a menina Alice
- Exactamente. - retorquiu a D. Rosalinda
- Mas isso é muito desagradável, parece que uns prejudicam os outros e que só é possível alcançar bons resultados se os rapazes estiverem afastados das raparigas e vice-versa. - disse a menina Alice
- Assim parece minha filha, assim parece. - disse a D. Rosalinda
Ao ouvir a preocupação que a menina Alice manifestava em relação às escolas que mais garantias futuras lhe podiam dar, vieram-me à ideia as conclusões a que chegou o sociólogo americano Cornelius Riordan, e a sua equipa, acerca das vantagens que, no ensino, o formato unissexo tem em relação ao sistema misto.
Tais resultados, revelaram que o sistema unissexo é mais vantajoso, pois não existem problemas de assédio sexual, o plano de estudos é especial, existe mais carga horária e o envolvimento dos pais dos alunos é maior.
- D. Rosalinda, peço desculpa por me intrometer na conversa mas não resisto a manifestar a minha opinião.
- Avance Mário, não tenha problemas - disse a D. Rosalinda -, as suas opiniões são sempre bem-vindas.
- Olhe D. Rosalinda, para mim o formato unissexo poderá ter as suas vantagens relativamente àquele que hoje em dia vigora em maior número no nosso sistema educativo. Do lado das vantagens, pesa a falta de possibilidade que as meninas (adolescentes) têm para se encontrarem com os meninos (adolescentes), quer nos intervalos quer fora deles, evitando assim os encontros sexuais, fortuitos ou não, a partir dos 14 anos de idade no recinto escolar. Do lado das desvantagens, pesa a questão da exclusividade e essa mentalidade traz-me à ideia os colégios internos, as fardas e o (aparente) ar bem comportado dos alunos que os frequentam. Além disso, como a D. Rosalinda muito bem referiu, tal clivagem conduz ao encarecimento do ensino, já de si quase incomportável para uma família de rendimentos médios, criando a ideia de que a aprendizagem e o sucesso está reservado a meia dúzia de privilegiados.
- Tem razão Mário - disse a D. Rosalinda -, o tema, já de si polémico, promete longos e, quiçá, inconclusivos debates, os quais levarão à inevitável conclusão que, se fosse assim tão bom, o sistema unissexo não teria sido abandonado.
- Preferências à parte, o que é certo é que cada vez mais países estão a adoptar o que anteriormente foi banido por ser considerado desadequado. - disse eu -, dessa forma – continuei -, se a tendência for a de dar preferência às escolas unissexo em detrimento das escolas mistas, não me espantará que, daqui a uns anos, as professoras só possam casar com autorização do responsável máximo do ministério da tutela, tal como acontecida no tempo da antiga senhora.
- Tudo pode acontecer - disse gracejando a D. Rosalinda -. Não se esqueça que já houve alguém que previu (magnificamente) o regresso do botas, portanto, não se admire que as coisas possam a voltar ao que eram antes, se esse for considerado o caminho para o sucesso escolar.
- Só espero que não seja com recurso à menina dos cinco olhos que os alunos aprendam, por exemplo, todos os afluentes dos rios portugueses, a tabuada, as províncias ou as estações ferroviárias, como acontecia nesse tempo em que as crianças sabiam, porque a isso eram obrigados. Contudo, não esqueçamos, que na lancheira só levavam um pedaço de pão, que nem sempre era do dia, e metade de uma sardinha da cor da fome.
OUTONO
D. Rosalinda sorriu um pouco amareladamente e vergou-se a um silêncio estranho e com que não contava! Ainda assim, eu rematei para a tentar sossegar:
(c) Arquitecto
I
terça-feira, 23 de outubro de 2007
RADICAIS LIVRES
Lembrei-me das primeiras "pagaiadas" que dei em cima de um kayak. Na altura, há mais de 20 anos, com outros rapazes da minha idade, recebíamos do prof. Canhão e dos seus assessores, os necessários ensinamentos para nos mantermos o mais tempo possível a flutuar em cima daquela coisa que teimava em não se equilibrar (tipo touro de rodeo). Depois, era como andar de bicicleta, nunca mais de desaprendia e passava a ser um divertimento para todos nós e um desassossego quando ficávamos na areia à espera da nossa vez.
segunda-feira, 22 de outubro de 2007
CORTANDO O MATO
Hoje, sem excepção, a Cristina saiu por volta das 17 horas em direcção a um desses percursos que entretanto consegui elaborar. Penacova com montes e vales a perder de vista e frescos planos à beira do rio, é óptima para a prática dessas e doutras modalidades fazendo as delícias de qualquer atleta. Em tempos, destacaram-se nesta terra indivíduos que, do nada, conseguiram competir ao lado de importantes nomes do atletismo português, lembro-me do Mário Marcelo, do Mário Linhares e do Fernando Sêco, quando corriam com as cores da Casa do Povo, no tempo do Sr. José Pimentel, eu próprio ainda consegui um 2º lugar numa prova de atletismo que decorreu nas Torres do Mondego, à custa, diz a minha mãe, de um cão que não parava de ladrar atrás de mim (coisas de mãe). Hoje, os clubes dedicam-se mais ao futebol, talvez à procura de uma forma mais rentável que os ajude a sobreviver neste presente incerto para tantas colectividades.
Quando a Cristina saiu, eu e a menina Alice jogávamos a nossa habitual partida de xadrez, reparei que o equipamento que vestia, denotava alguma preocupação em se proteger e em tirar o melhor rendimento do seu desporto de eleição.
- A Cristina vai muito bem equipada! - exclamava a menina Alice
- Claro - disse eu -, se o que ela pretende é obter o máximo rendimento sem se prejudicar fisicamente, então tem que se equipar convenientemente.
Escusado será dizer que o meu pensamento foi com a Cristina o que, naturalmente, provocou um ataque furtivo ao meu Rei, mal protegido, por um (simples) Bispo e um posterior xeque-mate com a Rainha, inocentemente deixada à vontade.
Quando chegou, isto passado 1 hora e meia, a Cristina vinha como devia vir, toda suada e algo cansada, mas não muito, o que me levou a concluir que o seu organismo já estava habituado a percorrer grandes distâncias. Subiu para tomar um duche e, quando desceu, já vinha fresca como um alface, perguntando que obras eram aquelas que estavam a decorrer junto aos bombeiros.
- Olhe Cristina, para lhe ser franco, nem lhe sei dizer muito bem. - respondi
- Parece-me um circuito de manutenção. - disse algo entusiasmada.
- Sim, creio que sim, creio que é algo desse género - esclareci -, mas mesmo que a queira ajudar não consigo porque, no local, não fazem qualquer referência ao que dali vai sair.
- Bom...., mas se estão com intenções de fazer algo desse género, pelo menos, deveriam colocar no local um painel informativo acerca do objectivo daquele movimento de terras, acerca de quem o projectou, por quem está a ser levado a cabo e para quando se prevê a finalização da obra. - disse a Cristina.
- Sabe Cristina, em Penacova pouco se sabe acerca daquilo que se passa, os responsáveis vão fazendo o que consideram mais prioritário e os munícipes, um pouco alheios ao que se passa, vão vendo e tentando adivinhar o que vai acontecendo para depois avaliarem o impacto da nova realidade que, de certa forma, lhes é imposta. - disse eu.
- Sim compreendo, ou melhor, não compreendo mas, tudo bem, para mim é suficiente poder aproveitar estas condições que por aqui existem e praticar o meu desporto preferido, é pena que não exista informação suficiente para quem, não sendo de cá, pretenda aproveitar estas magníficas condições. - disse a Cristina enquanto se afastava para tratar da vida dela, ou melhor, do bem-estar dos nossos hóspedes.
domingo, 21 de outubro de 2007
DE LORVÃO ATÉ AO MAR
Confesso que, por momentos, não conhecia a Luísa que todos os dias vejo vestida de bata e com o cabelo apanhado, hoje parecia-me mais solta, mais fresca e com uma carinha mais laroca. Ainda dizem que um pouco de baton, rímel e alguma maquilhagem não realça aquela beleza que todas as mulheres têm.
- Olhe Mário, vou à missa ao Mosteiro do Lorvão. - disse a Luísa
- Mas a que propósito? - perguntei eu
- Então Mário, não sabe que, naquela vila, durante todo o fim-de-semana, estão decorrer as Festas das Rainhas Teresa e Sancha e que hoje, pelas 11 horas, vai ter lugar uma solene eucaristia, presidida por S. Reverência o Bispo D. Ximenes Belo
- Bom...- disse eu -, que estão a decorrer as festas em honra das santas rainhas eu sei, não sabia era que iria ter lugar, na igreja daquele mosteiro, uma eucaristia presidida por tão distinta personalidade.
- É verdade Mário - disse a Luísa -, e é para lá que eu vou mal chegue o meu António.
- Quer dizer que não vens almoçar à pensão. - depressa conclui.
- Lógico Mário. Depois vou passear com o António até, quem sabe, à Figueira da Foz para ver o mar. - disse a Luísa
- Fico muito contente por vós e parece que vão ter sorte pois o dia está solarengo, coisa que normalmente não acontece nos meses de Outubro. - disse-lhe eu, enquanto preparava a taça de ração para o Riças que, de tanta vontade de comer que tinha, não saía da porta da cozinha só para sentir o cheirinho da chanfana que já começava a tomar conta de (quase) toda a pensão e que nos deixava a todos com água na boca.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
ACIMA DAS NUVENS
A D. Rosalinda faz questão de manter intactas as máquinas fotográficas que o Sr. Ricardo possuía enquanto fez parte do mundo dos vivos. Era um hobby que exercitava constantemente tirando fotografias a tudo aquilo que o rodeava, desde que, como é natural, lhe interessasse e de preferência se o motivo fosse Penacova e as suas belezas.
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
PARADOXILIDADES AMORAIS
Na televisão, além da cimeira europeia que está a decorrer em Lisboa, mostravam um pai comovido que, em desespero, apelava à justiça italiana que autorizasse o fim do coma irreversível em que a sua filha se encontrava há já quinze anos. Chocou-nos aos dois esta indecisão por parte da justiça em fazer....justiça.
- Para aquele pai a filha já morreu há bastante tempo. - disse o Paulo
- Desde que entrou em coma. - disse eu
- Eu também não sei como reagiria se tivesse que passar por um situação daquelas - disse eu -, porque, apesar de ser defensor da vida humana, após a dez semanas claro, não consigo aceitar muito bem o facto de, perante a impossibilidade da medicina em proporcionar uma vida digna àquela pessoa, não se optar pela morte clinicamente assistida.
- Eu também sou da tua opinião - disse o Paulo -, mas existem casos em que as pessoas saíram do coma passados 15 ou mais anos.
- Sim claro, mas no caso da moça italiana, as perspectivas de recuperação são praticamente nulas, encontrando-se a senhora em estado vegetativo - disse eu.
- Não é preciso ir mais longe - disse o Paulo -, aqui bem perto de nós, temos um caso idêntico. Uma rapariga bastante jovem, mãe de uma filha com 4 anos de idade, sofreu um acidente há mais de um ano e agora está em casa, a ser limpa, alimentada e acompanhada pela mãe.
- Sim eu recordo-me dessa situação. - disse eu
- Dizem que aquela criatura vai estar assim até ao fim dos dias dela - continuou o Paulo -, vai ter necessidade de acompanhamento constante porque, além de não conseguir fazer rigorosamente nada pelos próprios meios, todos desconhecem se está ou não consciente. Valerá a pena mantê-la nessas condições, sendo certo que, nem ela própria, ao ter consciência da situação em que se encontra, gostaria de se manter assim.
- São tudo questões muito complicadas - disse eu -, para uma mãe ou um pai que todos os dias vêm uma filha naquela situação, sabendo que assim se vai manter por tempo indeterminado, só por muito amor é que aguentam tratar dela, na esperança claro, de algum dia ela reagir.
- Depois, também existe a questão do Vaticano (mais uma vez a religião) que contesta veemente a opção pela eutanásia, por segundo eles, ser "inaceitável o relativismo dos valores, sobretudo quando estes se referem à conservação da vida". - disse eu.
- Sim - disse o Paulo -, também temos que contar com a questão dos valores que "assaltam" os mais devotos fiéis da igreja católica, a mesma que escondeu durante anos os escândalos sexuais dos seu padres e das suas freiras.
- Pois é - disse eu -, a questão da eutanásia que, a meu ver, merece ser analisada e discutida, é mais uma barreira psicológica e moral que a nossa sociedade tem que ultrapassar, contudo, não sou da opinião que, artificialmente, se tente manter a dignidade de um ser humano quando a sua dignidade depende, entre outras, da capacidade que tem para decidir naturalmente e em consciência.
- Tens razão Mário - disse o Paulo - , mas o mais caricato de tudo isto é que, por um lado, o Vaticano defende a utilização de uma máquina, criada pela ciência, para manter, artificialmente, uma vida sem futuro e, por outro, condena o recurso a métodos científicos para impedir o nascimento de outros e, mais grave ainda, para impedir a propagação de doenças que matam milhões de pessoas que, curiosamente, vivem em países onde maioritariamente se professa a religião católica.
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
O SR. ARQUITECTO
QUARTO COM VISTA
terça-feira, 16 de outubro de 2007
CURTISUBIR - A LENDA DE GUTERRES
IN MEMORIAM - 1982 - 2007
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
O PÚBLICO DA PENSÃO
domingo, 14 de outubro de 2007
LUIS E A SOMBRA
sábado, 13 de outubro de 2007
SENSAÇÕES (DE)GUSTATIVAS
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
OLHA PARA O QUE EU DIGO...
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AMBIENTALIDADES ELEGÍVEIS
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
BLASFÉMIAS, BARBARIDADES E OUTRAS REALIDADES
A D. Rosalinda estava muito impressionada com o que tinha ouvido nas notícias das 13 horas, acerca da detenção de 18 indivíduos (presumíveis) autores de cerca de 100 furtos em automóveis e residências em Portugal. Para ela era inadmissível que tal acontecesse, ainda por cima quando os autores daqueles actos de vandalismo tinham idades compreendidas entre os 16 e os 26 anos.
- Aqueles jovens ainda deviam andar na escola - dizia ela - ou, se assim não fosse, a trabalhar para começarem a ter consciência do que custa a vida e do sacrifício que por vezes é, ter que ir trabalhar nos lugares mais indesejáveis e a troco, em alguns casos (mais frequentes do que o desejável), de remunerações que mal chegam para comer.
- Partilho em absoluto da sua indignação D. Rosalinda - disse eu também indignado -, tenho a certeza que, se esses jovens fossem educados de outra maneira, comportar-se-iam de forma diferente.
- De outra maneira como? - perguntou a D. Rosalinda.
- Olhe, por exemplo, da maneira como são educados os adolescentes canadianos. - respondi.
- Mas canadianos porquê? - perguntou sem perceber muito bem.
- Porque são habituados, incentivados e quase obrigados pelos progenitores, a fazerem-se à vida desde cedo para, entre outras coisas, suportarem os encargos dos estudos. - respondi
- Mas como é que o Mário sabe dessas coisas, como é que sabe que os jovens canadianos são educados, desde cedo, a serem responsáveis pela sua formação e pelas suas despesas? - perguntou de novo a D. Rosalinda, ainda não muito convencida de que aquilo que eu dizia correspondia à verdade.
- Muito simplesmente porque, a julgar pelas palavras de alguém que lá esteve e lá viveu durante vários anos, é exactamente isso que se passa. - disse eu -. E mais, D. Rosalinda, das palavras (sempre discutíveis) dessa pessoa, tal comportamento deve-se, essencialmente, ao facto de termos sido educados à luz dos ensinamentos da Igreja Católica.
- Não blasfeme Mário, vejam lá se a Igreja Católica tem alguma coisa a ver com o facto dos rapazes e raparigas andarem para aí a cometer essas "barbaridades". - disse a D. Rosalinda já a ficar um pouco corada.
- Pode ter razão, D. Rosalinda, mas o que é certo é que o indivíduo de quem lhe falo, explica as coisas tão claramente, que somos levados a pensar que ele tem razão. - disse eu, já a tentar baralhar a D. Rosalinda.
- Olhe Mário, não estou como muito tempo para brincadeiras mas, já que falou no assunto, mostre-me lá onde é que foi ler isso para que eu possa dizer algumas coisas a esse Sr. - disse a D. Rosalinda indignada.
- Mostro-lhe como todo o gosto, D. Rosalinda, chegue-se um pouco para aqui e leia. - disse eu, afastando-me um pouco do monitor do computador da recepção da pensão.
E a D. Rosalinda lá começou a ler, fazendo-o em voz alta para não se perder.
"Nos países de tradição protestante as crianças são educadas desde cedo, na família e na escola, a tornarem-se independentes e auto-suficientes, e essa educação prossegue pela adolescência. Pelo contrário, nos países católicos as crianças são profundamente mimadas na família, essa atitude prossegue na adolescência, com o resultado final de que os jovens ficam até muito tarde, às vezes até à idade adulta, dependentes da família, e ocasionalmente dos amigos."
A certa altura, já com os olhos a arder por não ter colocado os óculos, a D. Rosalinda disse-me para não sair do sítio onde aquele texto se encontrava porque, entendi eu, o seu conteúdo lhe estava a despertar bastante interesse e, quem sabe, a pensar naquilo que poderia fazer em relação à menina Alice, não que ela necessitasse, pois a menina Alice, durante as férias de Verão, trabalhava com afinco na pensão mas, nunca se sabe o porquê do interesse manifestado. Talvez quisesse dar razão ao autor daquele texto mas, não o devia fazer, por causa da religião.
ABSOLUTAMENTE ILUSTRATIVA
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
O VOO DAS ANDORINHAS
terça-feira, 9 de outubro de 2007
A MELHOR FEIJOADA DO MUNDO
Nesta pensão sempre assim foi. A campainha toca quando alguma refeição está a ser servida, sendo que, se for doçaria, toca sempre duas vezes.
No tempo do Sr. Ricardo, havia dias em que a campainha estava sempre a tocar. Eram momentos de muita diversão, muitos hóspedes e muita confusão, tanta, que às vezes não acreditava que a campainha tocasse por haver comer, mas tão só, porque todos gostavam de puxar o cordel. Hoje as coisas estão ligeiramente diferentes mas a diferença não se nota em relação à campainha, apenas quanto ao número de hóspedes.
Depois de todos estarem servidos, volto até ao pequeno escritório onde me encontrava a preparar a lista das compras que, todas as sextas-feiras, tenho que fazer. Desta vez a D. Rosalinda fez questão de me lembrar de trazer algumas limas, uns quilos de feijão preto e farinha de mandioca.
- Mas para quê D. Rosalinda? - perguntei eu.
- Olha Mário, porque na quinta-feira chega à pensão um hóspede muito especial. - respondeu.
- Mas tão especial como? - perguntei curioso.
- Especial porque, além de ser brasileiro, canta muito bem. - respondeu entusiasmada.
- Bom - disse eu -, se é brasileiro e canta muito bem, provavelmente também gostará de comer bem e, nesse caso, penso que não há necessidade de comprar feijão preto, bastando dizer à Susana que mantenha o nível que tem vindo a manter até aqui.
- Tens razão Mário mas feijoada à brasileira como a Susana, ninguém mais sabe fazer e, como é bom de ver, quero que esse, quase, convidado, saia daqui bem tratado, com vontade de cá voltar e, convenhamos que um pouco de (boa) publicidade nunca é de mais. - disse a D. Rosalinda.
- E as limas D. Rosalinda? - perguntei.
- Essas são para tu fazeres a caipirinha, que tanta fama tem dado à pensão. - respondeu com um sorriso engraçado.
- Mas D. Rosalinda, estou cheio de curiosidade acerca do hóspede/convidado, que a Srª. faz tanta questão de receber dessa maneira, diga-me por favor de quem se trata. - pedi eu não aguentando mais o mistério.
- Olha Mário, quem vem cá passar o fim-de-semana é o Caetano Veloso. Aproveita o facto de estar em Coimbra no dia 17 deste mês e já me contactou para reservar a suite principal e para eu providenciar pela "melhor feijoada à brasileira do mundo". Além disso, a Susana e a menina Alice, quando souberam, deram pulos de alegria só de pensarem que iriam ter, de novo, uma noite como aquela que ele tão bem soube dar na última vez que cá esteve. - disse a D. Rosalinda.
- Lembro-me bem como foi - disse eu -, à média luz, aquelas melodias que só ele poderia cantar, adornadas com aquelas letras que só ele podia escrever, enfim, um momento único e inesquecível.
- Exactamente por isso é que eu o quero receber ainda melhor do que da última vez. - disse a D. Rosalinda cheia de convicção.
- Assim será - disse eu -, não me posso é esquecer de comprar as duas cordas que me faltam na guitarra de Coimbra, para o acompanhar na canção com o mesmo nome e, se calhar, até vou convidar uns amigos fadistas para virem cá fazer-nos companhia.
- Fazes bem Mário, para que ele se sinta em casa. - disse a D. Rosalinda já a caminhar em direcção à cozinha, mas não sem antes insistir acerca do feijão preto.