segunda-feira, 22 de outubro de 2007

CORTANDO O MATO

A Cristina já tinha dado uns passeios por alguns dos sítios mais bonitos de Penacova. Foi ao Reconquinho, ao Penedo do Castro e também ao Mirante, disse-me que andava a tentar construir mentalmente um percurso onde pudesse praticar o seu corta-mato diário. A Cristina é natural de Vildemoinhos, Viseu, terra que viu nascer o nosso mais internacional atleta, Carlos Lopes, por isso, não é de estranhar, que também ela se dedique a praticar a modalidade que fez daquele extraordinário atleta o campeão mundial em 1976, 1984 e 1985.
Hoje, sem excepção, a Cristina saiu por volta das 17 horas em direcção a um desses percursos que entretanto consegui elaborar. Penacova com montes e vales a perder de vista e frescos planos à beira do rio, é óptima para a prática dessas e doutras modalidades fazendo as delícias de qualquer atleta. Em tempos, destacaram-se nesta terra indivíduos que, do nada, conseguiram competir ao lado de importantes nomes do atletismo português, lembro-me do Mário Marcelo, do Mário Linhares e do Fernando Sêco, quando corriam com as cores da Casa do Povo, no tempo do Sr. José Pimentel, eu próprio ainda consegui um 2º lugar numa prova de atletismo que decorreu nas Torres do Mondego, à custa, diz a minha mãe, de um cão que não parava de ladrar atrás de mim (coisas de mãe). Hoje, os clubes dedicam-se mais ao futebol, talvez à procura de uma forma mais rentável que os ajude a sobreviver neste presente incerto para tantas colectividades.
Quando a Cristina saiu, eu e a menina Alice jogávamos a nossa habitual partida de xadrez, reparei que o equipamento que vestia, denotava alguma preocupação em se proteger e em tirar o melhor rendimento do seu desporto de eleição.
- A Cristina vai muito bem equipada! - exclamava a menina Alice
- Claro - disse eu -, se o que ela pretende é obter o máximo rendimento sem se prejudicar fisicamente, então tem que se equipar convenientemente.
Escusado será dizer que o meu pensamento foi com a Cristina o que, naturalmente, provocou um ataque furtivo ao meu Rei, mal protegido, por um (simples) Bispo e um posterior xeque-mate com a Rainha, inocentemente deixada à vontade.
Quando chegou, isto passado 1 hora e meia, a Cristina vinha como devia vir, toda suada e algo cansada, mas não muito, o que me levou a concluir que o seu organismo já estava habituado a percorrer grandes distâncias. Subiu para tomar um duche e, quando desceu, já vinha fresca como um alface, perguntando que obras eram aquelas que estavam a decorrer junto aos bombeiros.
- Olhe Cristina, para lhe ser franco, nem lhe sei dizer muito bem. - respondi
- Parece-me um circuito de manutenção. - disse algo entusiasmada.
- Sim, creio que sim, creio que é algo desse género - esclareci -, mas mesmo que a queira ajudar não consigo porque, no local, não fazem qualquer referência ao que dali vai sair.
- Bom...., mas se estão com intenções de fazer algo desse género, pelo menos, deveriam colocar no local um painel informativo acerca do objectivo daquele movimento de terras, acerca de quem o projectou, por quem está a ser levado a cabo e para quando se prevê a finalização da obra. - disse a Cristina.
- Sabe Cristina, em Penacova pouco se sabe acerca daquilo que se passa, os responsáveis vão fazendo o que consideram mais prioritário e os munícipes, um pouco alheios ao que se passa, vão vendo e tentando adivinhar o que vai acontecendo para depois avaliarem o impacto da nova realidade que, de certa forma, lhes é imposta. - disse eu.
- Sim compreendo, ou melhor, não compreendo mas, tudo bem, para mim é suficiente poder aproveitar estas condições que por aqui existem e praticar o meu desporto preferido, é pena que não exista informação suficiente para quem, não sendo de cá, pretenda aproveitar estas magníficas condições. - disse a Cristina enquanto se afastava para tratar da vida dela, ou melhor, do bem-estar dos nossos hóspedes.

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