sábado, 6 de outubro de 2007

ENERGIAS ALTERNATIVAS

O homem da lenha falhou. Disse que vinha até ao meio-dia e nem sombra dele. Pode ser que durante a tarde apareça mas, é a tal coisa, já vai estragar os planos que tinha para o dia. Enfim, não fosse o aquecimento a lenha que temos na pensão, não estaria tão incomodado com o facto de ele não ter aparecido (nem avisado).
O sistema de aquecimento da Pensão já tem cerca de vinte anos. Na altura pensou-se que seria (e era) a melhor opção. A madeira não faltava por aí, havia sempre um ou outro que aparecia a querer vender cavacas de acácia, oliveira, pinho ou até eucalipto a preços quase simbólicos. Hoje em dia já não se compra um metro de madeira por menos de trinta euros e, provavelmente, estará na altura de pensar numa alternativa.
Entretanto chega o Daniel, o homem do gás que, mês sim, mês não, vem trocar as botijas .
- Bom dia Daniel, então, de novo por cá? - perguntei.
- Bom dia Mário, tem que ser, senão nem o vosso nem o meu negócio andam. - respondeu.
- Então e o que é que vais tomar? - perguntei.
- Bom, a esta hora e como ainda não almocei, poder ser um Favaios, cai sempre bem antes de almoço. - respondeu.
- Nesse caso, e porque estou nas mesmas condições, vou fazer-te companhia - . disse eu.
A D. Rosalinda anda às voltas com um folheto que lhe foi enviado pelo correio. Nele pode ver-se, na capa, uma elegante mulher, com o mar aos pés e o sol a pôr-se. Consegue ver-se também o logótipo da E.D.P., imaginando eu que será mais uma campanha lançada por aquela empresa, dirigida, neste caso, a quem quiser adquirir sistemas de aproveitamento de energia solar ou painéis solares, como são mais conhecidos.
As propostas que nos são dadas a conhecer, ficam entre os 2000 e os 5000 euros, dependendo da marca do aparelho e do número de pessoas que se pretendam servir com água quente.
- Para a pensão nunca iria resultar - disse de imediato a D. Rosalinda -, além disso, o preço é um pouco exagerado quando, o que se pretende é incutir nas pessoas a necessidade de se começar a utilizar as energias alternativas.
- Olhe D. Rosalinda - disse o Daniel -, se eles quisessem realmente que as pessoas preferissem as energias alternativas, não as oneravam tanto. Ainda por cima, começam logo a falar de financiamentos, prestações, etc. e as pessoas, já com o orçamento apertado, põem logo de parte essa hipótese, continuando a fazer as coisas como sempre fizeram até aqui.
- Tens razão Daniel - disse eu -, se o objectivo é fazer com que as pessoas adiram às energias limpas, então, que as coloquem a preços acessíveis para que todos possam fazer a escolha certa e quebrarem de vez os hábitos que mantinham até aqui.
- Ainda vamos andar muito tempo a gastar gás e lenha. - disse a D. Rosalinda andando e chamando o Daniel para lhe pagar.
Nisto, olho para o exterior e vejo o meu amigo Luís a estacionar a viatura no parque da pensão. Pela cara não vem muito bem disposto.
- Bom dia. - disse assim que entrou.
- Bom dia Luís, o que é que te traz por cá? - perguntei.
- Olha Mário, tive que passar por Penacova e resolvi vir aqui para tomar um café. - respondeu.
- Fizeste bem. Mas que cara é essa meu caro? - perguntei.
- Olha Mário - responde -, vinha aqui a pensar numa entrevista que o Mário Crespo fazia na S.I.C. Notícias, ao economista Medina Carreira, a propósito do lançamento do seu mais recente livro "O dever da verdade"
- Tem graça que também vi e, confesso, fiquei um pouco impressionado com as palavras do entrevistado. - disse eu.
- Sabes Mário - continuou o Luís -, eu nunca gostei do 1º ministro José Sócrates, acho que ele é de uma falsidade tal que, a troco de meia dúzia de "rebuçados", nos está a conduzir para um autêntico beco sem saída.
- Também fiquei com essa sensação - respondi -, além disso, também reparei que, a dada altura, o Dr. Medina Carreira, exagerava na adjectivação, isto é, classificava, de tal forma negativa, a actuação deste governo que, por momentos, pensei não estar em Portugal mas na Birmânia ou no Burundi.
- O que ele quis dizer durante a entrevista, foi que este governo age sem procurar resolver os problemas que realmente afectam o país através da mentira e da calúnia - disse o Luís -, repara no estado de medo em que colocou, por exemplo, todos os funcionários públicos, a forma como encarou as perspectivas de carreira de cada um e o clima de perseguição e de intimidação que, por causa disso, entretanto se instalou em toda a administração do Estado. Desde a justiça à educação, desde a agricultura à saúde, todos levam por tabela e ai de alguém que ouse levantar-se a dizer basta.
- Nesse aspecto, vejo-me obrigado a dar-te razão, ainda bem que não sou funcionário público. Vi também que o homem trazia a lição bem estudada, não fosse ele professor e, acima de tudo, conseguia fundamentar aquilo que dizia através de cálculos e mais cálculos que fazia questão de enunciar e que se encontravam no livro que lançou, em conjunto, com Ricardo Costa, director daquele canal televisivo.
- Mas, o mais grave de tudo - disse o Luís -, é que andamos todos a pensar que isto está muito bem entregue, que existem computadores para todos, que o desemprego só está a aumentar porque a crise é mundial, não se devendo, nem de longe nem de perto, à política levada a cabo pelo governo, que os 150.000 postos de trabalho não tardarão a ser uma realidade, como se fosse possível, com um estalar dedos, fazê-los aparecer . Enfim - disse o Luís um pouco cansado -, resta-nos esperar que, da próxima vez, nos saia melhor prémio na rifa.
- Talvez não meu caro amigo - disse eu -, vais ver que 2008 vai ser um ano para dar tudo e mais alguma coisa a troco de um voto. E tu, mais do que ninguém, sabes que o povo português tem memória curta e, concerteza, vai, mais uma vez, morder o isco.
- És capaz de ter razão Mário, mas, enquanto isso não acontece, vamos desmascarando esta palhaçada toda que, cada vez mais, me faz pensar na pobreza em que vivemos porque, essencialmente, gostamos. - disse o Luís algo desiludido.
- Olha Luis, para atenuar o teu desencantamento, vamos almoçar Luís, que hoje ofereço eu. - disse para o confortar.
- Boa ideia Mário, vamos nessa, estou mesmo a precisar de uma refeição na pensão. - disse mais aliviado.

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