terça-feira, 9 de outubro de 2007

A MELHOR FEIJOADA DO MUNDO

A Susana preparou para o jantar uma sopa de cação e uns lombinhos de javali com framboesas. O cheiro "subia" pela escada acima e invadia levemente a sala de jantar. Os hóspedes, esses, estavam impacientes de tanto esperar pelo momento em que seria servido tão delicioso manjar, notava-se pela ansiedade com que constantemente olhavam para a campainha que era costume tocar, quando o jantar estava pronto a ser servido.
Nesta pensão sempre assim foi. A campainha toca quando alguma refeição está a ser servida, sendo que, se for doçaria, toca sempre duas vezes.
No tempo do Sr. Ricardo, havia dias em que a campainha estava sempre a tocar. Eram momentos de muita diversão, muitos hóspedes e muita confusão, tanta, que às vezes não acreditava que a campainha tocasse por haver comer, mas tão só, porque todos gostavam de puxar o cordel. Hoje as coisas estão ligeiramente diferentes mas a diferença não se nota em relação à campainha, apenas quanto ao número de hóspedes.
Depois de todos estarem servidos, volto até ao pequeno escritório onde me encontrava a preparar a lista das compras que, todas as sextas-feiras, tenho que fazer. Desta vez a D. Rosalinda fez questão de me lembrar de trazer algumas limas, uns quilos de feijão preto e farinha de mandioca.
- Mas para quê D. Rosalinda? - perguntei eu.
- Olha Mário, porque na quinta-feira chega à pensão um hóspede muito especial. - respondeu.
- Mas tão especial como? - perguntei curioso.
- Especial porque, além de ser brasileiro, canta muito bem. - respondeu entusiasmada.
- Bom - disse eu -, se é brasileiro e canta muito bem, provavelmente também gostará de comer bem e, nesse caso, penso que não há necessidade de comprar feijão preto, bastando dizer à Susana que mantenha o nível que tem vindo a manter até aqui.
- Tens razão Mário mas feijoada à brasileira como a Susana, ninguém mais sabe fazer e, como é bom de ver, quero que esse, quase, convidado, saia daqui bem tratado, com vontade de cá voltar e, convenhamos que um pouco de (boa) publicidade nunca é de mais. - disse a D. Rosalinda.
- E as limas D. Rosalinda? - perguntei.
- Essas são para tu fazeres a caipirinha, que tanta fama tem dado à pensão. - respondeu com um sorriso engraçado.
- Mas D. Rosalinda, estou cheio de curiosidade acerca do hóspede/convidado, que a Srª. faz tanta questão de receber dessa maneira, diga-me por favor de quem se trata. - pedi eu não aguentando mais o mistério.
- Olha Mário, quem vem cá passar o fim-de-semana é o Caetano Veloso. Aproveita o facto de estar em Coimbra no dia 17 deste mês e já me contactou para reservar a suite principal e para eu providenciar pela "melhor feijoada à brasileira do mundo". Além disso, a Susana e a menina Alice, quando souberam, deram pulos de alegria só de pensarem que iriam ter, de novo, uma noite como aquela que ele tão bem soube dar na última vez que cá esteve. - disse a D. Rosalinda.
- Lembro-me bem como foi - disse eu -, à média luz, aquelas melodias que só ele poderia cantar, adornadas com aquelas letras que só ele podia escrever, enfim, um momento único e inesquecível.
- Exactamente por isso é que eu o quero receber ainda melhor do que da última vez. - disse a D. Rosalinda cheia de convicção.
- Assim será - disse eu -, não me posso é esquecer de comprar as duas cordas que me faltam na guitarra de Coimbra, para o acompanhar na canção com o mesmo nome e, se calhar, até vou convidar uns amigos fadistas para virem cá fazer-nos companhia.
- Fazes bem Mário, para que ele se sinta em casa. - disse a D. Rosalinda já a caminhar em direcção à cozinha, mas não sem antes insistir acerca do feijão preto.

1 comentário:

Anónimo disse...

A melhor feijoada do mundo é a da minha Mãe.

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