terça-feira, 30 de outubro de 2007

PORTUGAL MARRÃO

- Será que o novo estatuto do aluno vai trazer ao ensino aquela utilidade que se pretende ou vai apenas ser mais uma tentativa falhada de "preparar" os estudantes para a vida activa? - perguntou o Paulo
- Não sei bem meu caro, apenas considero que as mudanças eram necessárias, como era necessário também inverter a tendência de crescente desinteresse com que os nossos jovens encaravam o ensino - respondi
- Eu lembro-me de, nos meus tempos de liceu, ainda no 11º ano, não saber muito bem que curso havia de escolher. Era um completo desnorte, parecia que andava para ali com os livros debaixo do braço. O que me preocupava era o 2º toque para, partir dali, poder ficar descansado durante 45 minutos.
- Também me recordo dessa situação. Lembro-me inclusivamente de ouvir falar constantemente na Escola Avelar Brotero quando o mote eram os cursos que preparavam os alunos para exercerem uma profissão.
- Mas Mário, tudo isso acabou com o 25 de Abril. O tempo das liberdades perdidas tinha passado à história e os jovens pretendiam afirmar-se a todo o custo e, por norma, a rebeldia, a provocação, o confronto e a contestação, eram as formas mais comuns de dizer basta.
- Tens razão Paulo, os tempos foram de pós-revolução onde uma geração inteira andava à procura de um rumo que os nossos governantes não souberam traçar, preocupados que estavam em apagar tudo o que cheirasse a Estado Novo, fosse bom ou fosse mau. Curiosamente, com esta nova perspectiva, está-se a tentar recuperar o tempo perdido, apostando principalmente nos cursos profissionalizantes e na responsabilização das escolas no que diz respeito ao resultado obtido pelos alunos.
- Não só mas também - disse Paulo -. Como podes verificar, o aumento dos poderes dos professores para com os alunos e a exigência de um maior envolvimento dos pais no percurso dos filhos é pelo governo considerado como a chave para o sucesso .
- Sim, estou a ver que todos chegaram à conclusão de que é necessário dar um forte empurrão ao ensino para que o nosso país não continue a ser aquele onde os jovens passam menos tempo a estudar. Só resta saber se o todo da sociedade acompanha esta preocupação e se os responsáveis pelo ensino, tanto a nível nacional, regional ou local, se comprometem, sem políticas e oportunismos eleitoralistas, a criar infra-estruturas capazes e dignas que permitam alcançar esses objectivos.
- Só espero que, a partir do momento em que não seja possível chumbar os alunos faltosos e expulsar os que constituem casos mais problemáticos, exista coragem para, de certa forma, os reeducar. - disse o Paulo
- Creio que, por parte dos governantes, é a derradeira tentativa de formar os portugueses obrigando-os, mesmo que eles não queiram, a terem sucesso escolar. - disse eu
- Pois é - disse o Paulo -, Portugal tem, a todo o custo, que atingir os objectivos propostos, só não sei se, pelo meio, não vão existir passagens administrativas, tipo aquela acerca da qual se falou bastante e de repente se deixou de falar.

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