quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

POBRES FANÁTICOS, LOUCOS ASSASSINOS

- Então D. Rosalinda, ouvi dizer que adorou a Missa do Galo?
- É verdade Mário, nunca tinha visto coisa igual!!! Imagina que até houve um momento de teatro.
- Mas isso é coisa nunca vista realmente, não estará a senhora a confundir as coisas?
- Não estão não Mário, eu própria nem queria acreditar quando o Sr. padre anunciou aquela novidade.
- Mas Luísa, isso é passar do 8 para o 80, numa paróquia em que as coisas se mantinham demasiado austeras muito distantes dos menos beatos .
- Tens razão Mário, talvez com esta mudança de atitude o novo pároco queira cativar os irmãos desavindos.
- Talvez tenhas razão Luísa mas, mesmo assim, não me sinto muito cativado a ser um católico praticante. Então e conte-me lá, tiveram muitas prendas no sapatinho?
- Nem por isso Mário. Na minha idade já não são de esperar muitas prendas. Para mim bastou-me a presença do meu filho e da minha nora e a felicidade da minha neta.
- E tu Luísa, também és da opinião da D. Rosalinda ou, pelo contrário, aprecias umas coisas mais...como direi, valiosas?
- Olha meu querido, recebi do meu António um anel de noivado extraordinariamente belo.
- Então estás de parabéns!!!! Espero que seja aquilo que mais queiras.
- Obrigado pela tua simpatia. Já agora, desculpa lá se pergunto, também tu recebeste a prenda que desejaste?
- Bom, mais uma vez o euro milhões me falhou mas, em contrapartida, recebi um agradável perfume oferecido por alguém muito especial.
- Não me digas que....
- Não comeces a inventar Luísa.
- Vamos para baixo Luísa, que já chega de conversa.
- Sim D. Rosalinda, é para já.
Entretanto, a Cristina pede-me para preparar uma aguardente velha em copo aquecido para o cavalheiro que está sentado na mesa 10.
- Olha Cristina, adorei o teu presente!!! Foi a primeira coisa que coloquei no meu corpo assim que tomei banho.
- Gostaste? Eu também achei que cheirava muito bem e que, acima de tudo, tinha tudo a ver contigo.
- Também adorei conhecer a tua filha. Acho que para uma menina de 4 anos está muito crescida e muito desenvolvida, além disso é muito bonita.
- Sai à mãe!!!!
- E ao pai, claro.
- Claro que sim, mas não quero falar nisso porque esse indivíduo já me causou problemas de sobra.
- Pronto então, não falemos nisso. Olha, toma a aguardente, tal como pediste.
- Obrigado Mário, és muito eficiente.
Quando me voltei, já o Luís estava ao balcão do bar da pensão. Não sei se terá reparado no momento de carinho mas também já é novidade para ele o meu relacionamento com a Cristina.
- Então amigo, tiveste um bom Natal?
- Muito bom amigo Luís espero que o teu também tenha sido.
- Olha meu caro, que seja sempre assim, com saúde e junto da família.
- E novidades?
- Olha, tirando o trágico assassinato de Benazir Bhutto, só mesmo a luta pelo domínio do maior banco privado português.
- Pobres fanáticos, loucos assassinos aqueles que conseguem perpetrar tão repudiante acto.
- É o preço que se paga por ter coragem meu caro Mário.
- É bem verdade Luís e que vais beber?
- Pode ser um whisky velho, com uma pedra de gelo.
- Também te acompanho Luís, apetece-me um bom e macio whisky. Voltando à conversa, falaste do B.C.P. e da luta quase fratricida pela liderança desse gigante português.
- É verdade Mário, quando cheira a dinheiro montam logo o circo para ver quem há-de ser eleito o melhor palhaço.
- A propósito, também li hoje, num espaço que habitualmente frequento, uma opinião muito realista e directa acerca desse assunto. Raramente se engana aquele amigo e, além disso toca na ferida sem constrangimentos.
- Também por lá passei e, confesso que concordo com ele sobretudo quando diz que "é tudo a mesma merda".
- Tens razão Luís, só as moscas é que mudam.
I

domingo, 23 de dezembro de 2007

DOCES DE NATAL

Na pensão vive-se um ambiente muito especial. Imbuídos do espírito natalício, todos fazem questão de transmitir aquela paz que só nestas alturas (infelizmente) parece tomar conta de todos, deixando toda a gente feliz, mais condescendente para com o próximo e mais receptiva à resolução dos problemas dos mais carenciados. Não é incomum irromperem pela pensão adentro algumas pessoas à procura de algo para melhor passarem estes dias festivos. A D. Rosalinda faz sempre questão de ter à disposição de quem nos visita, um sem número de doces tradicionais desta quadra. Curiosamente, este ano, não se ficou pelas tradicionais broinhas de natal ou pelas deliciosas filhoses ou até mesmo pelo indispensável Bolo Rei. Desta vez foi mais além, aproveitando a chegada do filho e da nora, optou por colocar na mesa, onde habitualmente se encontram todos esses doces, um delicioso Panettone, que a Susana tão bem soube fazer e, imagine-se, "raclete", uma espécie de tosta de queijo, com uma elaboração especial e com um queijo, tradicionalmente suiça.
Lá fora a iluminação não abunda, diria mesmo que está sobriamente instalada, a contrastar com o exagero do passado ano. Talvez a contenção de despesas a isso tenha obrigado mas, um pouquinho mais não faria a diferença e aquecia alma.
Como era de esperar, não faltou a cabana onde nasceu Jesus que, pese embora a falta de espaço, foi originalmente construída junto à torre da igreja matriz pelo Agrupamento de Escuteiros de Penacova. O burro, esse não está presente, nem poderia pois, para além de não ter espaço, foi utilizado para transportar o Pai Natal. Quanto à vaca também nem sinal, por um lado, porque a dificuldade em colocar tal animal em tão exíguo local prejudicava a sua presença, por outro, não havendo "menino" para aquecer, deixa de ser fundamental a presença daqueles seus habituais companheiros de presépio.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

RESIGNADAMENTE DE ACORDO

- Então Mário, se bem percebi, a partir do próximo ano, vamos ter que aprender a escrever de novo?
- Mais ou menos Alice, apenas algumas palavras vão sofrer alterações.
- E sabes quais?
- Bem, segundo o acordado entre os Estados cuja língua oficial é o português, vão desaparecer da nossa escrita as letras mudas e algumas palavras com hífen, assim, se agora escreves "afectivo", com a entrada em vigor do novo acordo, passarás a escrever "afetivo".
- Ou "batismo" em vez de "baptismo".
- Exacto. Quanto àquelas que habitualmente escrevemos com hífen, como por exemplo "mini-saia"...
- Passaremos a escrever "minissaia".
- Nem mais Alice, apesar de ter consciência que vai ser um bocado complicado aplicar as novas regras, sobretudo para mim que sempre escrevi desta maneira, não creio que vá ser um bicho-de-sete-cabeças ou bichodessetecabeças. (riso)
- Para mim e para os meus colegas também vai ser um bocado difícil mas, aos poucos e com o hábito, vamo-nos habituando.
- Claro Alice, o "hábito faz o monge", já não me atrevendo a dizer o mesmo relativamente à tua avó, cuja aprendizagem e mecânica vai ser mais difícil.
- Mas Mário, eu também li que algumas palavras vão perder o acento circunflexo, estou a lembrar-me por exemplo, das palavras "vêem" ou "crêem" que com as novas regras vão deixar de ter aquele sinal diacrítico.
- São inúmeras as alterações de que vai ser alvo a nossa forma de escrever mas, convém dizer que este acordo foi assinado pela primeira vez em 1990 e que só agora, após sucessivos protocolos modificativos, vai finalmente entrar em vigor.
- E concordas com todas essas alterações?
- Bom, para ser franco gosto muito da nossa forma de escrever, além disso, convém não esquecer, que a língua portuguesa "nasceu" em Portugal e, como é lógico, quem devia ditar as regras acerca desse assunto seríamos nós, contudo somos apenas dez milhões de portugueses para um universo de cento e noventa milhões, como é o caso do Brasil, o que naturalmente nos coloca num situação desvantajosa.
- E...
- E..., como contra factos não há argumentos, quando não os podes vencer, junta-te a eles, tal como aconteceu com o Euro quando substituiu o Escudo.
- Posso então concluir que está de acordo com este “acordo”.
- Mais resignado do que de acordo, será essa a forma que caracterizará a minha posição acerca do assunto.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O RISCO DE QUEM QUER CASA (R)

- Foi uma boa notícia para quem tem crédito à habitação, não achas Luísa?
- Se acho Susana. Eu estava a ver que esta fase da subida das taxas de juros nunca mais parava a ponto de eu e o meu António temermos pela nossa própria casa.
- Mas parece que não vai ser por muito tempo, porque a situação dos mercados internacionais não é nada favorável a que as taxas se mantenham assim por muito mais tempo.
- Quer dizer que estão previstas novas subidas?
- Claro Luísa, mas também, quando as novas regras entrarem em vigor, os empréstimos para a aquisição de habitação podem ser negociados com qualquer banco da União Europeia e, dessa forma, as prestações passarão a ser mais baixas o que, como bem deves saber, isso permite-nos respirar com um pouco mais de alívio sem temer o pior cenário.
- Tomara que sim Susana porque, da maneira que as coisas estão a ficar, qualquer dia vou ter que ir viver para casa da mãe do meu António, coisa que eu nunca desejaria.
- Porquê, também não gostas de sogras?
- Não é esse o caso Susana, a questão é que, quem casa quer casa e, como eu e o meu António estamos a pensar casar para o próximo Verão, não calhava muito bem que isso acontecesse.
- Então não te preocupes que tudo se irá resolver. Além disso, sempre podes falar com a D. Rosalinda e pedir-lhe um aumento.
- Achas? A D. Rosalinda nem sequer quer falar no assunto. Diz ela que o recente aumento do ordenado mínimo nacional já é mais do que suficiente e já se esteve a chorar a dizer que as coisas estão más, que o negócio não corre. Aquelas coisas de patrão, sabes?
- Claro que sei Luísa. Pensas que eu também já não passei por isso? A D. Rosalinda tem que gerir o negócio da melhor maneira para ver se a pensão se mantém a navegar em águas calmas como até aqui.
- Outra coisa Susana. Tu não achas que se passa alguma coisa com a Cristina?
- Como assim?
- Penso que ela está a esconder alguma coisa?
- Achas?
- Então tu não achas estranho que ela tenha recusado uma ida para o estrangeiro sem motivo aparente?
- Olha Luísa, a seu tempo saberás porque razão a Cristina não foi para a Inglaterra. Depois, compreenderás porque motivo ela optou por cá ficar.
- Então sempre há alguma coisa?
- Sim, de facto há uma coisa, que não é uma coisa propriamente dita, mas sim alguém muito próximo da Cristina e de quem ela gosta muito e de quem todos nós também iremos gostar concerteza.
- Quer dizer que a revelação está para breve.
- Sim, para muito breve.
I

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

DA PENSÃO PARA O HOTEL

Em mais uma passagem por Penacova, regresso ao meu quarto da Pensão que o Recepcionista sempre me acautela, mais os cuidados da D. Rosalinda. Tudo está posto no seu lugar e a temperatura dentro da Pensão faz esquecer a guieira que bate à porta da rua, pelo lado de fora.
Na recepção, os jornais e os panfletos do costume. Um, em particular chamou-me a atenção.
O Hotel Penacova, "concorrente" desta pensão, vai reabrir com festa de arromba e fogo de artifício e tudo...
O motivo é, de facto, para festa e o fogo de artifício na passagem de ano poderá ser uma novidade nesta tão pacata vila.
O que se espera é que a festa dure para lá do segundo da passagem de ano. É preciso dinamizar esta terra e o Hotel, sozinho, vai conseguir pouco se não existirem bares dignos desse nome, se não existir um fio condutor cultural que justifique a vinda a Penacova. Não basta ter um Hotel, por muito bem localizado que esteja na paisagem se não há nada do ponto de vista da ocupação do tempo e do lazer.
A menos que se queira que o Hotel sirva apenas para as pessoas virem para aqui dormir e descansar dormindo... Porque não há mais nada para ver ou fazer, sobretudo à noite.
Eu até nem me queixo. Passo cá em trânsito para outras paragens e basta-me o conforto do "meu" quarto de Pensão...

Foto

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

AS ESTRELAS DE BALI

- Parece que em Bali as coisas estão um bocado "quentes", não achas Mário?
- Quentes e de que maneira Luís, principalmente depois da tomada de posição do presidente Bush em tentar protelar ainda mais as limitações às emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa.
- Sabes Mário, acho uma perfeita parvoíce estarem a contar com aquele paspalho para decidirem alguma coisa em benefício do planeta.
- Tens razão Luís, aquele indivíduo não tem um pingo de vergonha e muito menos respeito pelo nosso futuro. A economia norte-americana está basicamente dependente do petróleo, tudo nela gira à volta do ouro negro e para ele impor regras severas às suas empresas é o mesmo que estar a ditar-lhes a morte prematura e a hipotecar o seu futuro político.
- Tudo bem, até pode ser assim Mário, mas não vamos sacrificar o equilíbrio ecológico do nosso planeta por existirem meia dúzia de energúmenos que temem pelas suas fortunas ironicamente construídas à custa dos constantes atentados contra o planeta.
- E se o presidente Bush não mudar de posição, a E.U. ameaça não comparecer na reunião agendada para o final de Janeiro no Havai.
- Alguém tem que tomar uma posição de força para ver se todos invertem a tendência poluidora a que todos estávamos habituados. Até mesmo Portugal ultrapassou em 15,8 por cento o limite de emissões estabelecidas pelo Protocolo de Quioto.
- Quando o exemplo vem de cima todos se sentem no direito de prevaricar, pena é que, para muitos e sobretudo para os mais pobres, o desenvolvimento, ainda depende das energias poluidoras e, no nosso caso, com estamos praticamente dependentes do exterior, estamos reféns dessas tecnologias que, apesar de baratas e poluidoras, contribuem para o nosso desenvolvimento.
- Olha amigo, enquanto eles não chegam a consenso, vamo-nos preparar para saborear o polvo no forno com batatas que a Susana confeccionou para o jantar e beber um espumante da "Quinta da Calçada Bruto" que a Cristina fez questão de aconselhar para acompanhar aquele magnífico manjar.
- Depois Mário, vamos esperar ter sorte com o céu para ver se conseguimos observar a chuva de estrelas que está prevista para esta noite.

foto: Yusuf Ahmed Tawil/Reuters

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

(T)RATADO DE LISBOA

- Finalmente a Europa viu-se livre da presidência portuguesa.
- Não sejas assim Paulo, não me digas que não gostaste da prestação dos nossos governantes durante os seis meses em que estiveram à frente dos destinos da União?
- Bom, para falar a sério, acho que nem nos portamos muito mal. Resolvemos o imbróglio do Tratado de Lisboa e conseguimos reforçar as relações com África.
- Estás a ver que afinal não foi assim tão negativa a presidência portuguesa da União Europeia.
- Só acho que escusávamos de ter sido o país que mais ditadores e facínoras conseguiu reunir de uma só vez e em tão pouco tempo, no mesmo espaço.
- Mas agora vem a melhor parte Paulo, os nossos partidos da oposição já lançaram o desafio ao governo para referendar a ratificação do novo tratado.
- Eu acho muito bem que ele seja referendado.
- Ai sim, e porquê?
- Porque se o novo tratado vem substituir a constituição da europeia, então deve ser analisado antes de ser ratificado, para assim ver se serve ou não aos cidadãos.
- Mas isso é perder tempo e dinheiro. Nós temos, de uma maneira ou de outra, que ter regras que nos unam nas nossas diferenças e que estabeleçam as metas de actuação para a sustentabilidade da união.
- Mesmo assim Mário. Mesmo sabendo que isso é necessário não podemos acreditar nos políticos porque só se protegem uns aos outros sem olharem para a verdadeira resolução dos problemas que nos afectam todos os dias.
- O problema Paulo, não está no facto de eles não olharem mas sim no facto de eles não fazerem, porque fartos de saber o que se passa estão eles.
I

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

PROIBIR SEM FANATISMOS

Iii
- Parece que a partir do próximo dia 1 de Janeiro vai ser mais difícil fumar nos locais abertos ao público.
- Tudo indica que sim D. Rosalinda, vamos lá a ver é se os fumadores vão respeitar as limitações que a Lei vai impor.
- Olha Mário, pelo menos aqui na pensão não vão ter esse problema, uma vez que existem espaços para todos se sentirem bem. Quem quiser fumar pode fazê-lo na sala onde é permitido, sem se sentir minimamente deslocado ou rejeitado por, ainda, ser um fumador. Quem, por sua vez, não quiser fumar, ou por não ter esse vício, ou por achar que não o deve fazer e assim preferir a sala onde é proibido fumar, também tem todas as condições para se sentir em casa.
- Sem fanatismos não é D. Rosalinda?
- Claro que sim Mário, aliás até condeno bastante esse olhar de soslaio vindo daqueles que não fumam para aqueles que, ainda, fumam.
- Em alguns casos até pode causar mau estar entre uns e outros.
- Exactamente Mário e, no nosso caso, não pretendemos que os nossos hóspedes se sintam incomodados por tal motivo, se bem que, depois de analisadas as coisas, todos temos o direito de zelar pela nossa saúde e não aceitar de bom grado que nos estejam a mandar baforadas de fumo para cima.
- Sabe uma coisa D. Rosalinda? Eu acho que o Estado é o grande culpado desta situação toda.
- Ah sim Mário, e porquê?
- Então D. Rosalinda, está bom de ver, se o Estado é quem tem o monopólio da venda do tabaco, se é ele que arrecada a maior parte dos lucros, então devia por e simplesmente acabar com a venda de algo que prejudica gravemente a saúde, não acha?
- Não totalmente Mário. Em certo aspecto és capaz de ter razão, pois o Estado que agora condena, severamente diga-se, o consumo do tabaco, foi aquele que durante décadas o promoveu mas, por outro lado, é ao Estado que cabe salvaguardar a saúde dos seus cidadãos e zelar para que as regras para a proteger sejam efectivamente cumpridas, portanto, temos um Estado que, por um lado está a pagar as consequências de anos de incentivo ao consumo e, por outro, um Estado que procura evitar a todo o custo a tentação de consumir através de campanhas antitabágicas bastante severas e extremamente dispendiosas.
- Posso assim concluir que o Estado age sempre em função dos seus interesses, dependendo das tendências e das conclusões a que se vai chegando com a constatação dos erros que resultaram de políticas que, na sua maior parte, só são tomadas para favorecer grandes grupos económicos com a promessa de postos de trabalho e de outras contrapartidas que, grande parte das vezes, não dão em nada.
- Infelizmente é aquilo que se passa Mário, somos todos cobaias das "experiências" que aqueles que nos deviam defender levam a cabo para agradar não se sabe muito bem a quem, mas de certeza a alguém que, em algum momento, os beneficiou.
I

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

OS BURROS DO PAI NATAL

- Alice, parece que afinal também vamos ter a visita do Pai Natal.
- A sério Cristina, em que dia?
- Pelo prospecto que entregaram ao Mário, será no dia 22.
- Que beleza, pelo menos este ano vamos ter algo de diferente em Penacova.
- Diferente e de que maneira, vê lá tu que além do Pai Natal, também vai haver um espectáculo ao ar livre com vários personagens que vão percorrer as ruas da vila durante toda a manhã.
- Estou ansiosa para que chegue o dia 22.
- Mas há mais!!! O Pai Natal chegará de burro, acompanhado pelos seus ajudantes, e as crianças poderão dar umas voltinhas pelo Terreiro.
- Será um daqueles burros que normalmente são utilizados para fazer os passeios?
- Provavelmente será?
- Mas Cristina, há uma coisa que eu não compreendo, o Pai Natal não se faz transportar de trenó puxado por renas?
- Sim normalmente é o que acontece, mas numa terra em que abundam esses animais, é natural que os utilizem quando é necessário transportar alguém.
- E os ajudantes do Pai Natal, serão duendes?
- Talvez não, tudo depende do Pai Natal.
- Como assim Cristina?
- Se por exemplo o Pai Natal for o Presidente da Câmara, então os seus ajudantes serão, como é natural, os vereadores.
- E o burro?
- Bom, o burro....fica ao critério de cada um mas, a julgar pela abundância com que os vemos por aí, não será necessário puxar muito pela cabeça para imaginar quem seja.
I

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

ESTRELAS DE NATAL

- O Espírito do Natal começa a tomar conta de nós, não achas Alice?
- Acho sim Cristina. As pessoas começam a ficar mais simpáticas, mais compreensivas e mais tolerantes.
- Eu adoro quando vamos buscar os enfeites e começamos a pendurar as gambiarras e a preparar a Árvore de Natal. Todo este ambiente me faz lembrar os momentos que passava com a minha família e sobretudo com os meus irmãos, sempre ansiosos que estávamos por chegar a hora de abrir as prendas.
- Este ano a minha avó comprou uma enorme Árvore de Natal branca para colocar no centro da sala de estar, decorada com bolas vermelhas e com uma estrela igualmente grande e dourada.
- E onde vai ser construído o presépio?
- Normalmente é construído junto à recepção para que seja a primeira coisa que os hóspedes encontram quando entram na pensão. Além disso, o Mário gosta muito de ver todas aquelas miniaturas a movimentarem-se como se de uma comunidade ao vivo se tratasse e também por ali está, sempre que for necessário dar um jeito.
- Mas olha que este vai ser o fim-de-semana em que muitas localidades vão dar início aos festejos do Natal.
- Ai sim Cristina, então quais?
- Olha, por exemplo, estou a lembrar-me da Vila Natal em Óbidos da Feira de Natal na Lousã ou até mesmo do maior presépio animado do país em Penela.
- Que giro como alguns municípios se empenham em celebrar de forma diferente o Natal, aproveitando as características da sua paisagem e até mesmo a singularidade dos seus edifícios para os adaptarem à quadra festiva que se aproxima.
- E por cá Alice, como costuma ser o Natal?
- Olha Cristina, por cá as ruas são iluminadas, as crianças nas escolas têm as suas próprias festas e, além disso, pouco mais acontece. Aqui na pensão, decoramos tudo a preceito, saboreamos as rabanadas, as filhoses e as broinhas feitas pela Susana e vestimo-nos com aqueles pequenos gorros vermelhos que têm um pompom branco na ponta, sabes?
- Claro que sei e, confesso que me sinto muito bem assim. Gosto de transmitir a paz natalícia aos outros e, principalmente, aos nossos hóspedes.
- Olha, estás a ver esta Estrela de Natal?
- Sim estou, é grande e brilhante, faz lembrar a Estrela Polar.
- Foram os meus pais que ma deram para que todos os natais me lembre deles.
- E eles, onde estão?
- Estão na Suiça, país dos Alpes e da neve.
- Há muitos anos?
- Sim, há cerca de 12.
- Eras pequena então, quando eles foram.
- Sim, tinha apenas 4 anos, mas este ano vêm cá passar o Natal.
- Então, este Natal vai ser magnífico para ti.
- Assim espero Cristina.
I

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

CONTADORES DE PLÁSTICO

-Então, se bem percebi, vamos ter que pagar 5 cêntimos por cada saco de plástico que trouxermos com as compras do supermercado.
- Claro Susana, agora de cada vez que quiseres ir comprar a mercearia ou outra coisa qualquer, tens que levar uma cesta para trazer as coisas que comprares.
- Sabes uma coisa Luísa, também vou ser sincera contigo, a mim incomodava-me imenso que os sacos fossem dados sem qualquer tipo de controlo e tu bem sabes que a D. Rosalinda era a que mais trazia. Ou porque precisava deles para a lã dos arraiolos, ou para pôr as folhas caídas do jardim, enfim, por qualquer coisa lá trazia um saco e isso, a multiplicar por centenas senão milhares de pessoas, imagina só a poluição que não significa.
- Mas, por exemplo, na Irlanda esse imposto já foi criado em 2002 e não foram só 5 cêntimos por cada saco mas sim 15. Cá em Portugal, se por exemplo fores ao LIDL, também tens que os pagar e sempre me lembro, de cada vez que lá vou, de ver as pessoas com as caixas vazias que por lá vão encontrando para trazerem as compras.
- Vês Luísa, a moda já não é nova, nós é que estamos habituados à fartura, por isso é que eu concordo com o pagamento dessa taxa ecológica.
- Pois tens razão Susana e se alguém quiser, que os leve de casa ou que vá de cesta, como tu disseste, para o hipermercado. Havia de ser giro tu entrares num hipermercado qualquer com uma cesta à cabeça.
- Uma cesta não direi mas um carrinho com rodas. Há-de ser mais uma maneira para eles inventarem alguma coisa que nos leve mais dinheiro.
- Meninas acalmem-se que, afinal já houve recuos na cobrança da taxa dos 5 cêntimos por saco.
- Oh D. Rosalinda, nem a ouvimos chegar. Então quer dizer que já não teremos que pagar para trazermos os sacos do hipermercado?
- Sim é verdade, mas estão em estudo campanhas de sensibilização para evitar o uso desnecessário dessas "bombas ambientais" que, ao ar livre e sem tratamento, podem demorar até 500 anos a desaparecer por completo.
- É horrível D. Rosalinda, longe de mim imaginar que um simples saco de plástico durasse tanto tempo até se desfazer.
- É verdade Luísa, mas agora, o que mais me preocupa, é termos que pagar os novos contadores que a E.D.P. quer instalar em substituição dos actuais e que custam quase 200 euros.
- Então os que temos não servem?
- Parece que não Susana, os novos são contadores de telecontagem que comunicam a leitura à distância.
- Afinal o que eles pretendem é não ter o trabalho de andar de contador em contador a fazer a leitura.
- Pois deve ser, mas não é justo que se pague uma coisa que nunca é nossa pois, o que actualmente acontece, é que descontamos todos os meses para o contador e nunca somos donos dele.
- Éh, os contadores em Portugal são muito caros, parece que andamos a pagar uma casa, só somos donos dela quando formos velhos e, se calhar, até depois de mortos a continuamos a pagar.
I

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

(RE)INSERÇÃO (A)SOCIAL

- Então Mário, alguém ficou a dever um "favaios"?
- É verdade D. Rosalinda, imagine a Srª. que, na 2ª feira, o Xavier, saiu daqui esbaforido, sem sequer pagar o que bebeu?
- Mas ele agora faz o quê?
- Olhe D. Rosalinda, até há bem pouco tempo, andava a dar serventia a pedreiro, agora parece que lhe pagam o rendimento social de inserção.
- Mas será que ele e a família se conseguem governar apenas com esse tal rendimento?
- A julgar pela aparência, tudo indica que sim.
- Olha Mário, eu não concordo nada com esse subsídio que dão a pessoas que, tal como o Xavier, ainda têm forças e idade para trabalhar.
- Oh D. Rosalinda, não seja assim tão mazinha.
- É verdade Mário, então admite-se, que quem aufere desse rendimento, se considere inapto para trabalhar?
- Bom, nessa perspectiva sou capaz de lhe dar razão.
- E tem que dar mesmo Mário. O exemplo do Xavier é óptimo para ilustrar a minha opinião. O Xavier era um pobre coitado a quem a segurança social deu a mão. Não se sabia governar, o que ganhava era todo para o vinho e os filhos em casa a gemer com a fome. Depois lá lhe arranjaram uma casita, com quartos para as crianças e com tudo aquilo que uma casa de família deve ter.
- Até aí tudo bem D. Rosalinda.
- Pois sim, até aqui tudo bem, contudo, o Xavier está nessa situação há quase um ano, não se vê que ele tenha gosto por fazer alguma coisa, mas continua a receber as ajudas da segurança social que, além de lhe entregar um dinheirão por mês, ainda lhe enchem a casa de mercearia. Diz-me só se não é uma injustiça aos olhos de quem trabalha?
- Sim, é certo, tanto mais que o Xavier podia andar aí, por exemplo, com as pessoas da PENSAR, a limpar o mato das serras ou a fazer outra coisa para, ao menos, mostrar que tem vontade de trabalhar e que merece o dinheiro que lhe dão.
- Sabes uma coisa Mário, as pessoas falam e com razão. As assistentes sociais e os responsáveis pela atribuição desses subsídios, haviam de levantar o traseiro da cadeira para ir ao local onde vivem as pessoas e avaliar a verdadeira necessidade que elas têm e até que ponto elas são realmente carenciadas.
- Tem toda a razão D. Rosalinda. Em vez de andarem para aí a pavonear-se para trás e para diante, deveriam era ir para o terreno, ver os casos de miséria gritantes que arrepiam qualquer um e, aí sim, atribuir esse rendimento a quem realmente precisa.
- Exactamente Mário, além disso, tal subsídio faz com que as pessoas que o recebem nunca abandonem os vícios que têm porque sabem que aquele é certinho e que com ele podem continuar a fazer uma vidinha sem problemas.
- Olhe D. Rosalinda, a Srª. pôs-me tão nervoso que até vou pagar já o "favaios", apesar de saber que nunca mais vou ver este dinheiro.
- Deixa lá Mário, “quem ajuda os pobres, empresta a Deus.”
- Pois sim, D. Rosalinda, pois sim.
I

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

MÍSCAROS COM ENTRECOSTO

- E a confusão ontem na feira da Espinheira?
- Deixe-me aqui D. Rosalinda. Quando vi aqueles homens todos encapuzados, com armas a tiracolo a apontar para toda a gente, confesso que fiquei de tal maneira apavorada que só me apeteceu largar tudo e vir embora.
- Mas oh Luísa, tu não achas que todo aquele aparato foi desnecessário?
- Claro que acho D. Rosalinda. Se andassem à procura de terroristas ou de indivíduos violentos ou de criminosos evadidos, ainda se compreendia, agora, chegar ali naquele preparo, a querer assustar toda a gente, só por causa de material contrafeito, acho que foi muito exagerado por parte da ASAE. Por causa disso acabei por não comprar umas calças de ganga ao meu António e o último CD do Toni Carreira, tudo por 15 euros.
- Pois minha cara, foi exactamente por causa disso que eles lá foram.
- Mas D. Rosalinda, umas calças de ganga parecidas com aquelas que eu queria comprar, não custam menos de 50 euros e o CD do meu Toni, não o trago para casa por menos de 15 euros, por isso, vale a pena aproveitar.
Nisto, chega Xavier à recepção. É um indivíduo pacato, pouco falador, e metido consigo, apenas sai do seu "casulo" quando falam do seu Benfica que, por sinal, não foi muito bafejado pela sorte neste fim-de-semana que passou.
- É assim a vida caro Xavier, quem não marca sofre.
- Pois é Mário, mas para castigo, haviam de receber o ordenado mínimo durante dois meses para saberem o que custa a vida.
- E tu Xavier, quanto é que ganhas por mês?
- Pouco mais que 500 euros.
- E mesmo assim, ainda foste ao Estádio da Luz ver o teu Benfica.
- Bem...., sabes como é, um homem não se pode privar de tudo.
- E também fumas, gostas de beber o teu copinho com os amigos e além disso a tua mulher está desempregada.
- Sabes que um homem não é de ferro Mário.
- Claro que sei Xavier, como também sei que esses vícios todos, aos quais tu (legitimamente) tens direito porque não és de ferro, não te ficam nada baratos.
- Claro que não, só quem tem dinheiro é que tem vícios.
- Mas os teus filhos andam um bocadito mal vestidos e, segundo me consta, as refeições lá em casa não são nada por aí além. Além disso deves 2 meses de renda à D. Rosalinda que, ao que tudo indica, vão passar a três.
- Olha Mário, eu não vim aqui para receber lições de moral, nem para que tu me lembres aquilo que eu devo e que posso vir a dever, por isso, aponta aí o meu "favaios" que eu vou-me embora.
E saiu disparado pela porta fora, sem pagar o "favaios" e, ainda por cima, a vociferar acerca da minha pessoa.
Parece que já o estou a ver a chegar a casa e a correr toda a gente à bofetada e ao pontapé, sem receio que dele façam queixa porque, nestes pequenos meios, "entre marido e mulher, ainda há quem não meta a colher".
- E tu Paulo, está aí há muito tempo?
- Olha meu caro, há tempo suficiente para ver que te ficaram a dever um "favaios".
- Aquele rapaz não tem emenda.
- Nem adianta estares com isso preocupado. Então e o Chávez?
- Lá levou por tabela, sinal que o povo ainda não esqueceu que aconteceu recentemente no Chile.
- E o que está a acontecer em Cuba.
- Mas mesmo assim, aquela derrota ainda não o convenceu.
- Não duvides Mário, vais ver que daqui a uns tempos vai voltar à carga.
- Na Rússia foi o esperado, com o Putin a vencer confortavelmente os seus opositores, apesar das alegadas irregularidades e das manifestações de força que antecederam as eleições.
- De lamentar meu caro Mário, de lamentar que os opositores continuem a ser calados tal como acontecia no tempo da U.R.S.S.
- Tens razão Paulo só que neste caso, é um silenciamento democrático.
- Olha, sabes uma coisa, apetece-me um "favaios", mas desta vez a pagar.
- Acompanho-te Mário, para ver se fico mais relaxado, porque o apetite já cá tenho. Sabes o que é que a Susana preparou para o jantar?
- Arroz de Míscaros, com entrecosto.
- Jura?
- A sério, só que de viveiro, claro.
- Pois, bem sei, mas ao menos servem para matar saudades daqueles que tu e eu íamos apanhar por esses pinhais fora, fossem amarelos ou pretos.
- Velhos tempos Paulo, mas desde que começaram a plantar eucaliptos por todo o lado, sem qualquer tipo de coerência, desapareceram essas e outra maravilhas que a terra nos dava.
- É o progresso meu caro.
- Claro que é o progresso, mas o progresso também não pode servir de desculpa para tudo. Não ouviste o que disse ontem o Sr. Arquitecto acerca do caos urbanístico que tomou conta de Penacova?
- E tem toda a razão, só quem manda não quer saber disso, constroiem-se depois ficam para aí às moscas como aquele edifício que foi construído junto à "Fonte do Castanheiro".
- E nas "Malhadas" também. Naquela zona só se vêm imóveis edificados em total desencontro com os já existentes e em desrespeito pela harmonia paisagística.
I

domingo, 2 de dezembro de 2007

ARQUITECTURA DESAFIADA


Foto: (c) Arquitecto

Nas minhas passagens por Penacova, como Arquitecto, não fico indiferente ao caos urbano em que, paulatinamente, se está a transformar a Cheira e os "arredores" da vila de Penacova.
As perguntas que se me colocam são muitas, mas algumas delas, pelo seu carácter dramático, erram sistematicamente em busca de respostas.
Se é certo que o progresso tem muitas caras, não me parece evidente que "este" progresso se construa ao arrepio de elementares regras estéticas e de integração na paisagem.
Quem permite estas "singularidades" arquitectónicas, espalhadas pelas encostas de Cheira e Penacova?
Bem sei que a morfologia do terreno não augura nada de fácil, mas o bom senso, nestes casos, deveria ser muito mais acautelado.
Portanto, o desafio está colocado. Ou Penacova cresce de braço dado com a sua paisagem, ou estamos a criar um "monstro" e a semear de abencerragens um lugar singular, onde deveria ser obrigatório cumprir com as regras estabelecidas pela própria natureza.
Pelo que se vê, o caminho não está a ser esse...
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