segunda-feira, 29 de março de 2010

Ecologia dispendiosa

O João mantém o hábito de ver futebol na Pensão. Só lamenta não poder estar sempre presente para  ver todos os jogos, mas faz sempre um esforço para ver a grande maioria. O meu tio Mário falou-me dele. Deu melhores referências acerca da sua pessoa e garantiu-me que seria uma boa companhia. Talvez por isso não tenha sido difícil para mim simpatizar com ele.
 - O Porto lá conseguiu fazer um brilharete. Não foi João?
- E bem merece Matias. Há um tempito que não ganha nada e uma equipa daquelas não se pode dar ao luxo de ficar abaixo do terceiro lugar....De qualquer maneira, convenhamos que o Porto este ano não tem equipa.
- Pode ser que com o regresso do Hulk as coisas melhorem para os lados do Dragão. Sim porque não tenho dúvidas nenhumas que este ano o campeonato é para o Benfica.
- Já não era sem tempo! E por falar em Benfica, aderiste à Hora do Planeta?
- Mais ou menos!! Sabes que numa casa como esta é impossível trabalhar às escuras e apagar as luzes àquela hora seria complicado.

- Pois, compreendo e aceito. Só não aceito que, pelo menos grande parte dos edifícios públicos não tenham aderido ao movimento, apesar de este ano terem aderido o dobro dos municípios em relação ao ano passado
- Tens toda a razão João!! Além disso, deviam penalizar as pessoas que não optam por iluminação mais amiga do ambiente. Se todos contribuirmos um bocadinho que seja, o resultado será bastante satisfatório e o planeta agradece.
- Penalizar não digo, porque penalizado já é quem adquire, por exemplo, uma lâmpada economizadora. O preço é uma exorbitância comparado com o das convencionais e as pessoas na hora da compra, olham para o preço, e mandam a ecologia às urtigas.
- Talvez por isso as coisas não andem mais depressa. Como é moda, e são bastante procuradas, quem as vende aproveita para as encarecer, não permitindo assim que o cidadão com menos rendimentos as instale, também ele, na sua casa. É a lei da oferta e da procura meu caro João.
- Pois, mas não deixa de ser injusta, apesar de ser de mercado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Boa noite, vou verificar

Sempre que dá um clássico de futebol na televisão, o ambiente da Pensão fica um pouco mais animado, por vezes até animado de mais. Embora tenha as minhas preferências clubísticas, não as devo manifestar, pois como recepcionista, tenho o dever de receber com simpatia e profissionalismo todos os hóspedes, independentemente das suas militâncias.
Da sala onde se encontra a televisão, ouço alguma agitação, perfeitamente normal a meu ver, ou não fossem as duas equipas em jogo as mais rivais do futebol português. Quando posso vou pondo o olho e, tal como eles, também me detenho perante um ou outro passe mais perigoso.
Neste momento o jogo entrou nos minutos finais e parace que a equipa azul branco não consegue dar a volta o resultado. Já conta com dois golos lá dentro, sem resposta.
Entretanto senta-se na mesa junto à lareira um jovem casal. Pela forma como se apresentam só podem ser recém-casados, talvez sejam eles que vão ocupar a suite principal da Pensão a qual, decorada como está, só pode estar mesmo destinada a uma bela noite de núpcias, pena a lua que teima em não se mostrar....
O jogo lá acabou, não sem antes o Benfica ter marcado mais um golo, o terceiro. Palermas!!!
As notícias dão conta naquilo em que se transformou a chegada dos adeptos portistas ao Algarve. Tanta violência, tanta destruição! Quem é alimenta toda esta raiva? É pena que o futebol seja também isso e não consiga libertar-se dessas euforias, muitas das vezes levadas ao extremo.
- Boa noite. O que vão desejar?
- Boa noite. Fizemos reserva em nome de Inês Monteiro.
- Um momento, vou verificar.
De relance vejo o primeiro-ministro a falar. Foi correr mais uma meia-maratona de Lisboa. O homem lá continua a correr.....
- Desculpem-me, são o casal Monteiro?
- Exatamente.
- Acompanhem-me por favor à receção
- Vêm por quantas noites?
- Esta e a próxima.
- Podem subir. Têm aqui a chave do quarto. Desejo-vos uma boa noite. Se precisarem de algo, por favor, não hesitem em ligar.

domingo, 21 de março de 2010

Contra as lixeiras, limpar, limpar!

- Então Alice, tão cedo?
- Olha Luísa, começou a chover e decidiram adiar a limpeza para Abril.
- Foi pena! A Alice ía tão bem equipada. Aquelas botas de cano alto, o impermeável, a pá e aquela pinça para apanhar os papéis. Estou convencida que apanharia mais lixo do que qualquer um dos outros voluntários.
- Não exageres Luísa! Tenho pena, isso sim, de adiar por mais uns dias a recolha de toda a lixaria que por aí está espalhada. Quanto mais cedo for retirada para os locais adequados, mais depressa o ambiente agradece e mais bem cuidados ficam os nossos espaços verdes.
- Tem razão Alice. Mas eu prefiro não sujar, para não ter que limpar.
-Pois, era assim que todos os que sujam e não limpam deviam pensar. Em vez de continuarem a poluir deveriam privar-se de o fazer, porque se isso não acontecer e continuarmos a varrer o lixo para baixo do tapete, qualquer dia sufocamos com os desperdícios que por todo lado abandonamos.
- E depois já não há solução para o problema.  Provavelmente até se esgota a capacidade de regeneração da natureza.
- Não duvides Luísa! Toda este desrespeito pelo meio ambiente, já lhe provocou danos irreversíveis. São inúmeros os casos em que a capacidade de regeneração de alguns ecossistemas mais frágeis foi completamente destruída.
- Mas Alice, foi sem dúvida um movimento cívico sem igual! Foram mais de cem mil os voluntários que apareceram. Gostei muito de ver o Presidente da República a participar também na limpeza.
- Olha Luísa, só espero que valha a pena. Só espero que as pessoas tomem consciência de uma vez por todas de que não devem poluir o mundo em que vivemos, sob pena de acelerarmos ainda mais a degradação do nosso planeta. 
- Fique descansada Alice! Estou convencida que toda a gente vai mudar de hábitos. Além disso, se cada país fizer o mesmo, fica tudo limpo que é um instante.
- Olha Luísa, ainda é cedo para apurar resultados, até porque algumas localidades não puderam fazer. Porém, desde que teve início, o movimento "Let's do it!" que só no ano seguinte a ter sido criado, mobilizou cerca de 50 mil pessoas que num só dia recolheram mais de 10 mil toneladas de resíduos ilegalmente depositados. Fantástico não é?
- Só prova que o ser humano, quando quer, consegue surpreender-se pela positiva.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Excessos de confiança


Às sextas-feiras ao fim da tarde, invariavelmente se reúnem no bar da Pensão um número de habituais frequentadores. Já era assim no tempo do meu tio Mário e parece que fazem questão de manter viva a tradição. Aproveita-se para falar da semana, daquilo que de mais relevante se passou para cada um deles ou simplesmente para beberem algo na companhia de uns peixinhos do rio ou de umas enguias fritas, iguarias nossas, que muito bem casam com um bom tinto, para quem bebe claro.
Hoje ao balcão do bar da Pensão, encontrava-se o Luís, o mais assíduo dos hóspedes e o Joaquim, bancário de profissão, que também gosta de passar o final da tarde na Pensão. Às vezes pernoitam outras vezes apenas jantam , mas é sempre difícil saber o realmente pode acontecer. Para já estão por aqui e da maneira como o tempo está chovoso, podem muito bem ficar por cá até de manhã, o que não deixa de ser óptimo, tendo em conta a agradabilidade da companhia de ambos, não desfazendo claro da companhia dos outros hóspedes que, tal como eles, são muito bem-vindos à Pensão.
- Foi uma pena para o Sporting não ter conseguido passar à fase seguinte.
- Pois é, foi uma pena. Melhor sorte teve o Benfica que lá conseguiu, mais uma vez, impor o ritmo que se exigia para ganhar a eliminatória.
- Matias.
- Diga Luís?
- Tem acompanhado a polémica gerada pela morte de um indivíduo pela polícia?
- Mais ou menos Luís. Quando posso, vou deitando uma vista de olhos na televisão.
- E aqui o meu amigo Joaquim, viu alguma coisa sobre o assunto?
- Olha Luís, para ser sincero fiquei chocado com toda a situação e com a forma com que ela ocorreu. Não consigo aceitar que aqueles que existem para nos proteger se descuidem ao ponto de se tornarem nos nossos piores inimigos.
- Também acho Joaquim. Não consigo compreender como é que alguém é capaz de colocar uma arma nas mãos de um polícia sem o ter treinado primeiro a utilizá-la. É estranho que os jovens que são recrutados para serem agentes de autoridade não estejam habilitados a utilizar o equipamento que lhes é fornecido.
- É muito estranho que isso aconteça e inadmissível que ocorra nos dias de hoje. Uma coisa vos digo, ou é juventude a mais ou preparação a menos. Estou convencido que no meio disto tudo, os culpados são aqueles que têm o dever de zelar pela salvaguarda da segurança dos cidadãos e pela capacidade profissional dos elementos que compõe as instituições a quem legalmente foi atribuída essa função. Se não houver essa preocupação, então mais casos irão ocorrer concerteza.
- Mas Luís, o homem viu-se ali perante o dever de impedir a fuga do suposto meliante e a necessidade de o deter com o disparo que, provavelmente, nem soube muito bem como é que o efectuou..
- Ora aí está Joaquim. Se até aqueles que treinam com bastante frequência não têm a absoluta certeza de que o disparo que efectuam vai acertar no alvo que pretendem, como é que alguém que nem sequer conhece a arma que lhe foi distribuída pode acertar onde quer?
- Só por muita sorte é que isso acontece.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Falta de fé ou fraqueza dos homens

- Porque razão é que estás a mudar de canal Matias?
- Olhe D. Rosalinda, não só porque o restaurante da Pensão está cheio, mas também porque os comensais não têm, a meu ver claro, que estar sujeitos a ver os espectáculo degradante que está a pssar naquele canal.
- E é tão degradante assim?
- Olhe D. Rosalinda, para mim não tem palavras que o descrevam. Só de imaginar fico todo perturbado?
- Ai homem, não me assustes!!! O que é que estava a dar exactamente?
- Era a notícia sobre os actos de pedofilia praticados por alguns sacerdotes da Igreja Católica...
- Pois, eu sei Matias. Também tenho acompanhado como posso o desenrolar dos acontecimentos ligados a esse escandaloso processo.
- E para si deve ser muito doloroso saber que tudo isso se passou e, pior ainda, que tudo foi abafado pelos responsáveis daqueles que praticaram tão hediondos actos.
- Eu sempre fui muito devota, e continuo a ser, mas tudo isto me incomoda sobremaneira.
- E abala a sua fé?
- Claro que não Matias! A minha fé não está condicionada pelos actos que o ser humano pratica, seja ele padre ou não. A minha fé é para com Cristo e apenas tenho o compromisso para com ele, daí que não saia abalada, apenas triste com a fraqueza dos homens que se comprometeram com a Igreja, agir de acordo com os seus ensinamentos
- Mas ressente-se de alguma maneira, como é óbvio.
- Ressinto-me principalmente na maneira como passei a olhar para os sacerdotes. Não quero, nem devo, acreditar que todos são culpados, mas também não sou inocente ao ponto de achar que todos estão isentos de culpa.
- Todos!?
- Claro que sim. Seria muita ingenuidade da minha parte acreditar que não há um conhecimento geral acerca daquilo que se passou. Sei perfeitamente que uns escondem os outros e as coisas não se souberam há mais tempo, da forma como hoje de sabem, porque estavam todos convictos que tudo acabava por ser esquecido.
- Mas não isso que aconteceu.
- Claro que não e ainda bem. Nem eu, como fiel, me poderia sentir cúmplice dessa atrocidade, como aliás se sentem todos os verdadeiros fiéis. Sinto-me defraudada isso sim. Não consigo aceitar que, por detrás da batina se esconda um criminoso e, principalmente, alguém a quem a maior parte das mães confiou em algum momento da sua vida, a guarda dos seus filhos.
- E preconizaria algum tipo de castigo para tais meliantes?
- Olha Matias, não costumo ser radical, até porque tenho por norma respeitar o próximo mas, num caso desses, não me chocaria que esses pseudo-sacerdotes fossem castrados quimicamente e arredados definitivamente do sacerdócio.
- Não está mal não senhora. Eu até iria mais longe, mas provavelmente o castigo que eu proporia, seria mais fácil de suportar do que aquele que a Srª. tinha em mente.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O dom da imortalidade


- Gosto muito dessa música Matias!
- A sério menina Alice?
- Claro que sim! Tem um ritmo que nos faz balançar e não se compara nada com algumas que hoje por aí ouvimos e que certas pessoas teimam em chamar de música 
- Eu também acho. Gosto muito do estilo de Michael Jackson, das músicas que compôs e da forma como se move em palco. É de facto um artista que me dá prazer ver e ouvir!!
- Foi, queres tu dizer..
- Sim claro, que cabeça a minha, foi e será sempre um dos meus preferidos.
- E não só teu Matias. Tendo em conta o montante do acordo assinado entre os herdeiros e a Sony, estou em crer que muitos ainda se irão render à fenomenalidade de Michael Jackson.
- Espero bem que sim menina Alice. Acho que a obra dele é extraordinária e é sem dúvida alguma um marco importante na música dos últimos trinta anos. Revolucionou toda a indústria musical a impor o seu estilo invulgar. Pena que se tenha metamorfoseado daquela maneira, sempre em busca da brancura total.
- Da brancura total e não só Matias. Era um homem um bocado estranho, com hábitos pouco ortodoxos, próprios de quem atingiu o estrelato desde muito cedo. Essa busca da ribalta obrigou-o, não só a ele como também aos irmãos, a suportar a personalidade algo violenta do pai que, pelo que dizem, não permitia que eles falhassem.
- Depois também vieram as suspeitas de envolvimento com menores e as inevitáveis e chorudas indemnizações. Enfim uma vida de ascensão e queda.
- Para ele já seria muito complicado enfrentar a realidade. Mantinha aquela fobia pelas contaminações e atrás dele arrastava os filhos, os quais acabariam de sofrer como ele e por ele...
- É assim Matias, nem sempre a fama é sinónimo de felicidade. Também para isso é preciso ter sorte...
- E inteligência menina Alice. Imagine que, tal como ele, se encontrava numa situação ascendente. Muitos êxitos, muitos contratos, muitos fãs, muitas tentações, muitas emoções e muitas frustações também. A dada altura o mundo que conhecia desde ali, começava a desmoronar-se. Outros cantores apareciam, mais ousados, mais ambiciosos e, obviamente, mais novos. É bastante provável que se começasse a sentir ultrapassada e com isso mais irritada, com tendência para começar a consumir susbstâncias que lhe iriam amenizar a dor que estava a sentir.
- Pois, és capaz de ter razão. Só não sei se me comportaria dessa maneira, mas aceito que o efeito fosse esse e que a tendência para muitas das vezes se chegar ao ponto a que ele chegou. Porém, se fosse se raça negra, estou convencida que não correria atrás do sonho de me tornar branco. Aí acho que ele exagerou e estou em crer que terá sido essa busca incessante que o levou à morte. Pelo menos a julgar pelas circunstâncias em que ela aconteceu.
- Seja como for, independentemente daquilo que o matou, o mais importante é que, pelo menos a sua obra não vai cair no esquecimento e os herdeiros sempre vão poder ficar mais confortados pela perda que tiveram. Além disso, de acordo com o que foi noticiado, vão ser editados temas inéditos que nem os fãs mais devotos conheciam.
- Quer dizer então que ainda vamos ter Michael Jackson por mais uns anos!
- Sim menina Alice! Que sejam muitos e bons para nos animar.

terça-feira, 16 de março de 2010

Tirania do ócio

- Então D. Rosalinda, ainda não conseguiu contratar uma ajudante de cozinha?
- Deixa-me aqui Matias. Ninguém quer trabalhar porque dizem que se chateiam menos e ganham quase a mesma coisa do que se estiverem no desemprego! Será possível que é mesmo assim? Será possível que o Estado paga às pessoas para não trabalharem?
- Parece que é mesmo isso D. Rosalinda. Ainda hoje li que há em Portugal cerca de doze mil postos de trabalho que ninguém quer.
- Estás a ver? Não te disse que não é normal? Como é que alguma coisa pode andar para a frente, se o próprio Estado promove a indolência? És capaz de me explicar?
- Não D. Rosalinda. De todo....
- Pois, nem eu.
- E ainda por cima o governo quer baixar o subsídio de desemprego para não estar tão perto do salário mínimo. É inadmissível que uma coisa desta aconteça!
- Olha Matias, eu sou de outro tempo e sei muito bem o que é querer comer e não ter. Hoje em dia não falta nada aos grandes ou aos pequenos e por isso é que nós temos que ser mais exigentes. Não se admite que uns trabalhem e se esforcem por manter o seu emprego e que, ao seu lado, esteja um outro que ainda por cima se esteja a gabar por estar melhor como desempregado do que a trabalhar.
- Mas não são todos D. Rosalinda. Há indivíduos que se encontram em situações aflitivas. Muitos deles sem nada de comer para dar aos filhos. Em contrapartida, outros há que até o comer lhe vão por a casa, além de a limparem e lhe pagarem a renda.
- Olha Matias, não me faças falar. Nesta terrinha há situações que roçam o descalabro. Gastam-se dezenas de euros a título de caridade e depois ninguém olha ao desperdício. Só de imaginar que naquele edifício da Eirinha já estiveram instalados uns carenciados que até faziam as necessidades fisiológicas fora da sanita.
- Horrível, D. Rosalinda! Só de pensar que o as entidades públicas, responsáveis pela classificação desses agregados familiares, poderão estar a ser injustos para com aqueles que realmente necessitam, até me arrepio.
- São os critérios Matias. Provavelmente esses é que estarão enviesados e chegámos a um ponto em que o Estado criou condições para que as pessoas dele dependam cada vez mais e não se esforcem por serem autónomos e auto-suficientes. No meu tempo o trabalho era sinónimo de verticalidade. Ai do homem que ficasse em casa sem trabalhar. Não se via uma terra a mato. Era uma beleza ver tudo amanhadinho, tudo bem tratado.
- Mudaram-se os tempos e também a vontade de, pelo menos, valorizar o trabalho e aqueles que se esforçam para se manterem socialmente dignos. Pode ser que tenha sorte D. Rosalinda e até lá, se a Matilde necessitar de ajuda na cozinha, é só dizer.
- Obrigada Matias!!! És tal e qual o teu tio Mário.
- Obrigado D. Rosalinda. Quem sabe se um dia ele não voltará.
- Nunca se sabe Matias, nunca se sabe! Olha, vou descer até à cozinha porque daqui a nada são horas de almoço e os hóspedes não podem esperar pela resolução dos nossos problemas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Memória política

- Uma coisa te garanto meu caro amigo, o homem é um resistente!!!!
- Um resistente? Eu acho é que o homem é achacado a escândalos. Ainda o Face Oculta não acabou, já lá vem a continuação do Freeport...
- Mas se ele está alegadamente ligado a todos esses subornos então, digo-te sinceramente que já devia ter resignado ao cargo, pois não é possível para o país, para o homem e para o político resistir a tanta pressão, não só mediática como também judicial.
- Da fama de ser caloteiro, aldrabão e mentiroso ele não se livra, mas temos que admitir que foi com ele que se fizeram grandes reformas no país.
- Quais?
- Não me digas que durante todo este tempo não há nada que de positivo possa ser apontado!
- Claro que há muitas coisas que foram positivas e outras que nem por isso. Mas em política como na vida, tudo vale o que vale e se há coisa que não dura muito é a memória dos eleitores, ou de um povo se preferires. Há dias li que os políticos são mais depressa lembrados pelos erros que cometeram do que pelas boas políticas que realizaram. Portanto, a julgar pelas trapalhadas em que o nosso primeiro anda supostamente metido, é correcto pensar que ele será considerado o pior político português de sempre.
- Pois, corre esse risco. E digo-te mais, no lugar do homem já me tinha posto a andar.
- Para onde, se todos o consideram um político da pior espécie?
- Para Bruxelas, está claro! Não é para lá que vão os políticos portugueses que mais polémica geraram enquanto governaram o nosso país?
- Sim, lá isso é verdade. Foi para lá o Durão Barroso, vai para lá o Constâncio. O Guterres não foi para lá mas anda lá perto e, muito provavelmente, quando Sócrates for dispensado pelos portugueses, será para lá que vai. Se calhar ocupar um lugar de destaque nas instâncias europeias. Sim, porque só nós é que sabemos avaliar um verdadeiro político.
- Exactamente, é por termos esse magnífico dom que andamos sempre descontentes com os que temos, achando-nos uns abandonados pela sorte, sempre em crise, sempre a pagar a crise...enfim!
- Pois, é isso mesmo. O único que se aguentou mais tempo foi Salazar e porquê? Exactamente por ter governado este país com mão-de-ferro, num tempo em que se estivessem mais do que três pessoas juntas a falar, já era considerado uma conspiração contra o regime.
- Mas isso já lá vai e não volta.
- Voltar não volta, mas que a vontade de alguns dos nossos políticos em pôr isso em prática ainda permanece, ai isso permanece. Vê só a decisão que foi aprovada no último congresso do PSD.. Até já recebeu o epíteto de Lei da Rolha.
- É um princípio que tem maior acolhimento em partidos conotados com ideologias extremas mas, provavelmente os líderes do P.S.D. receiam ser vítimas do próprio veneno. Além disso não me surpreende que essa “norma” tenha sido criada ainda na vigência do mandato de Manuela Ferreira Leite, uma vez que foi ela quem uma vez sugeriu o fim da democracia, por um período de tempo necessário ao restabelecimento da ordem.
- Sim, tens razão, mas agora estamos a falar de Sócrates.
- Bom, Sócrates já está gasto e agastado. Já está defunto para a política activa, cabendo-lhe apenas um gabinete tranquilo, sem muito poder de decisão porque se ele cai no erro de voltar a decidir alguma coisa, tem logo um quantidade de indivíduos à perna, a tentarem descobrir e posteriormente provar a ilegalidade das decisões que ele tomou.
- Pois é, vistas bem as coisas, és capaz de ter razão. O anonimato será a melhor opção de Sócrates para os próximos anos.

domingo, 14 de março de 2010

Quase perfeito



- Pessoalmente não concordo com a adopção por casais do mesmo sexo. Acho que uma criança tem todo o direito de ter alguém a quem chame mãe e outra a quem chame pai.
- Eu não sou tão radical ao ponto de considerar que uma criança tem que ter pais de sexos diferentes, tendo em conta que, se for de tenra idade, não necessita de ter esse tipo de preocupações. Basta-lhe ser bem tratada e respeitada e isso, meu caro Artur, creio que qualquer pessoa, independentemente do sexo, o sabe fazer muito bem, não tendo que forçosamente ser o progenitor.
- Bem vistas as coisas Matias, acho que tenho que te dar alguma razão. São inúmeros os casos em que os menores são maltratados e violentados por familiares, dentro dos próprios lares  e muitas vezes com o  consentimento dos restantes membros da família.
- Mas essas situações ocorrem com mais frequência em famílias de baixa condição económica e moral ou em famílias desagregadas, onde não há a mínima noção da consequência desse tipo de comportamentos. Em todo o caso, não creio que seja por aí que as pessoas do mesmo sexo tenham que ser impedidas de adoptar crianças.....
- Então porque será?
- Tão só porque aos olhos de uma determinada facção da sociedade, a questão da adopção não poderá ser colocada se não ocorrer entre pessoas de sexo diferente, mais concretamente na constância do matrimónio. Prefiro ver uma criança feliz, independentemente de ter sido adoptada por pessoas do mesmo sexo, do que saber que poderá sofrer as mais hediondas sevícias em casas onde supostamente deveria ser bem tratada, acarinhada, educada e respeitada.
-  Pois é Matias, nunca tinha pensado na coisa dessa forma!  Mas deixa-me dizer-te que isso nunca seria bem aceite em meios pequenos como o nosso. Estou em crer que se levantaria logo um movimento para decidir sobre a aceitação ou não dessa situação.
- Dessa nova realidade queres tu dizer. Sim porque era a única coisa que mudava, desde que cada um continuasse a viver a sua vida, sem preconceitos e sem sobressaltos tudo acabava por acontecer com naturalidade. Se outros comportamentos, bem mais graves se aceitam, só porque são socialmente suportáveis, independentemente de serem moralmente condenáveis, porque razão a felicidade dos outros incomoda tanto alguns sectores mais conservadores da sociedade.
- Olha Matias, todos têm legitimidade de reagir, perante uma transformação social tão ousada, mas o que é certo é que noutros países as coisas já funcionam e parece que não têm havido reclamações.  Agora a questão da adopção é que poderá criar uma verdadeira celeuma talvez por isso mesmo é que Cavaco Silva  tenha decidido não mandar para o Tribunal Constitucional, a norma que proíbe a adopção de crianças por casais do  mesmo sexo.
- Pois, compreendo. Está a ser cauteloso quanto ao futuro e não quer ferir susceptibilidades. Além disso é um devoto assumido e sabe as fricções que uma possível autorização provocaria no seio da nossa sociedade.
- Talvez mais tarde isso aconteça, até porque o mais importante é a criança e, relativamente a isso, sabemos bem o que algumas sofrem perante a insanidade de pessoas aparentemente sãs.
- Olha meu caro para suavizar a conversa, acompanha-me num brandy. O último até subir para me ir deitar.

sábado, 13 de março de 2010

A moda do bulling


- Avó, achas normal que um menino se atire para o rio por estar constantemente a ser vítima de bulling?
- Ao rio filha? Então ele sabia nadar? Alguém o foi buscar?
- Não avó. Ninguém o foi buscar porque ele acabou por morrer!!
- Morrer? E porquê?
- Olha avó, andavam sempre chateá-lo, sempre a gozar com ele, que acabou por se fartar e....
- E depois decidiu por fim à vida. Mas é estranho que um pequeno tenha pensamentos dessa natureza. Não é normal nestas idades tomar uma decisão dessas. Que me lembre só os adultos são capazes de decidir assim, ou porque estão velhos e não querem viver mais, ou porque se arrependeram bastante de algo que tenham feito...não sei...é tudo muito estranho!!!
- Seja como for avó, dizem que o menino se mandou ao rio porque estava farto de ser agredido.
- Olha minha querida......já tenho algum idade e em toda a minha vida soube que os mais fortes agrediam os mais fracos e que os mais fracos nem sempre conseguiam resistir a toda essa agressividade. Por outro lado, e conhecendo um pouco do mundo de hoje, consigo perceber que as coisas mudaram radicalmente sem que os valores se tenham sabido salvaguardar. O respeito pelo próximo, a necessidade de parar perante alguém que se reconhece como autoridade, têm sido coisas que quase desapareceram. Por isso, nas escolas de hoje, não se vêm os alunos a respeitarem os professores, a respeitarem os colegas e os funcionários, enfim, a aceitarem que acima deles há alguém a que, eles devem obediência e que os pode prejudicar o seu percurso académico, castigando-os e fazendo com que eles não consigam alcançar os seus objectivos.
- Isso era terrível para mim avó. Se me impedissem de estudar, acho que não aguentava!!!
- Claro que sim Alice. Sei perfeitamente que não serias menina para alguma vez permitires que coisa tão inquietante te atormentasse. De qualquer maneira, não concordo com toda esta confusão. Não quero com isto dizer que devíamos voltar ao tempo antigo, porque aí também não gostava que alguém estivesse. Só digo que quem ensina tem que ser suficientemente firme para saber impor disciplina na hora de aprender. Não é possível permitir que uns prejudiquem os outros e que por isso paguem todos. Mas....
- Mas o quê avó?
- Mas também sei que alguns professores são muito amigos dos alunos, tratam-os como colegas, apaixonam-se pelos alunos e permitem que os alunos se apaixonem por eles.....enfim, uma tremenda confusão.
- Olha avó, só espero não ter que estar sujeita a uma situação desse tipo. Se alguma vez me acontecer, faço logo queixa ao director da escola!!!
- Vais ao director da escola e vens logo ter comigo ou com a Luísa. Nós sabemos como actuar se isso acontecer.
- Mas para além dos alunos, também os professores sofrem com isso.
- Sofrem com isso como?
- Soube hoje que um professor se atirou da ponte 25 de Abril, por não aguentar a pressão dos alunos durante as aulas. Disse que não conseguia aguentar as chacotas de que era alvo constantemente, que não o deixavam ensinar, chamando-lhe careca e outras coisas....
 - Credo Alice, anda tudo tolo!!! Agora também um professor!?
- Mas não é certo que tenha sido por causa disso que ele se suicidou. Só sei que foi depois de ter enviado sete reclamações aos superiores e nada ter acontecido.
- Olha Alice, hoje em dia tudo é notícia e notícia que se espalha para toda a parte do mundo em minutos. A nossa sociedade tem necessidade de viver em constante sobressalto. As emoções são efémeras mas acabam por ser o combustível que permite viver o dia-a-dia. O mundo está sempre me mudança e não devemos permitir que tudo isso nos afecte, apesar de estarmos sujeitos a todo tipo de situações, inclusivamente aquelas que mais nos afectam, ou porque não as conhecemos ou porque achamos que nã correspondem àquilo no dizem os nossos verdadeiros amigos.
- E então, qual será a soluça para “sobreviver” a tudo isso?
- Bem, não se trata de sobreviver ou deixar de sobreviver, o que deves fazer, é continuar a seguir os conselhos que te dou e a ouvir os professores. Se agires dessa maneira, concerteza que terás mais facilidade em encontrar as soluções que procuras e as respostas para as tuas dúvidas que, nestas idades, são imensas…..

sexta-feira, 12 de março de 2010

Nada de novo

- Apesar de todos os altos e baixos do partido de governo, ainda assim os portugueses votariam nele novamente para continuar a conduzir os destinos do país.
- Para o abismo, claro.
- Bom, depende do ponto de vista. Há quem diga que não havendo alternativa são os que em melhor posição estão para nos governar...
- Achas? Só se for por já conhecerem os cantos à casa.
- Bem, Cavaco Silva nada disse a esse respeito, antes preferindo adoptar uma posição de Estado, obviamente pensando no melhor para o país e na sua possível recandidatura ao cargo.
- Pelo sim e pelo não, portanto.
- E também para dar tempo a Passos Coelho que, depois de ganhar as eleições para líder do PSD, ainda vai necessitar de mais algum tempo para arrumar a casa.
- Achas mesmo que vai ser esse o desfecho do Congresso do P.S.D.?
- Bem, a julgar pelas sondagens, tudo indica que sim....
- Se assim for, fico mais contente porque até tenho alguma simpatia por ele. Pelo menos não é tão brejeiro como o Rangel e nem tão soturno como o Aguiar Branco.
- Só pelo simples facto de não agradar a Manuela Ferreira leite, já tem pontos a favor, eh, eh, eh....
- Pois é. És capaz de ter razão!!! Mas olha que Santana Lopes já veio avisar que "algumas candidaturas à presidência do PSD estão a tentar manipular os comportamentos dos congressistas através de mensagens enviadas por sms"....
- E sabes porquê?
- Mais ou menos....
- Porque cheira a poder e quando assim é, todas as manobras são válidas, desde que sirvam para criar confusão e dessa forma condicionarem o resultado.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Convites e sugestões


-Boa noite.
-Boa noite. O que é que vai tomar?
- Um  café, por favor.
- Concerteza, é para já!!
Pego no jornal e, distraídamente olho para a nova decoração Pensão. Está mais bonita, mais alegre e espaçosa! Tiveram bom gosto!
O Mário já não está, algo estava diferente. Muito diferente.
Sabe, eu e ele éramos muito amigos, e continuamos a ser na verdade. Com ele conversava quando estava na Pensão, às vezes durante uma semana ou duas, e o Mário era como se fosse de família.
- Bem sei sr. Luís! O Mário falava-me muito de si, quando eu vivia com ele, claro.
- Mas como é que sabe o meu nome!?
- Bom, como lhe disse, o Mário já me tinha falado de si e da Pensão, propondo-mo inclusive,como seu substituto à D. Rosalinda.
- Áh, estou a ver.... E você é familiar do Mário?
- Sim, sobrinho...
- Que óptimo! E chama-se?
- Matias.
- Aqui tem o seu café.
- Muito obrigado Matias.
Parece bom moço. Hoje em dia a vida não está fácil para rapazes como ele. Tentam, a todo o custo, manter um emprego para conseguirem ter as suas coisas. Comprar, no fundo, um pouco de liberdade. Por isso, terem a sorte de encontrar um que lhes dê segurança e um pouco de satisfação, quantas vezes menos do que remuneração, é uma sorte. 
Se todos fossem como o Rui Pedro Soares, aquele rapaz que aproveitou o "convite" do governo para se tornar em administrador da PT, estariam um pouco melhor do que o Matias mas, concerteza com menos notoriedade. Sim, notoriedade, porque quando passar a tempestade, tudo acaba, como de costume, por ser esquecido e o rapaz retoma a vida e a tranquilidade a que estava habituado, com um chorudo ordenado ao fim do mês, para toda a vida. Muito melhor!!

Velocidade de Cruzeiro

- Ao segundo dia tudo parece normal! Os clientes e hóspedes  que antes vinham à Pensão para almoçar ou simplesmente tomar um café ou um digestivo, logo regressaram quando souberam que tínhamos reaberto. Estava com saudades de ver toda esta confusão, este entra e sai da Pensão e, principalmente, o sorriso de satisfação com que todos se despedem!!!
- É mesmo D. Rosalinda! Já tinha saudades deste ritmo!
- E o novo recepcionista, achas que ele satisfaz?
- Penso que sim! É desenrascado, bem falante, gosta de consultar aqueles livrinhos sobre os vinhos e outras bebidas a fim de esclarecer os nossos comensais,.
- Eu também acho que sim, pelo menos não tem compromissos para além da Pensão, o que já é bom, pois garante alguma estabilidade, coisa que o Mário já não podia dar, desde que se apaixonou pela Susana.
- E para onde foram D. Rosalinda?
- Parece que foram trabalhar para o estrangeiro.
- Sim, parece que também ouvi dizer alguma coisa parecida.  Foram viver para casa de um tio da Susana...
- Que sejam felizes por lá, é o que eu desejo.
- Também eu D. Rosalinda, também eu...
- E agora?
- Agora? Agora vamos ao trabalho, que os clientes não esperam....

Sabor selvagem

- E para comer, o que é que vai escolher?
- Para ser franco ainda não sei muito bem. Não sei se fico pela lampreia ou se opte pelo pelo sável grelhado.....
- Seja qual for a sua escolha, vai concerteza gostar pois, quer um quer outro prato, são de uma qualidade excelente, como aliás é apanágio da Pensão. Se os hóspedes nos escolheram, muitas vezes sem saberem muito bem se a escolha é boa, devem apreciar o que encontraram para, como é nossa intenção, voltarem sem sequer pensarem duas vezes....
- Mas eu tentei cá vir nos últimos meses e a informação que me davam, era de que a Pensão tinha encerrado e que não havia  data provável para abrir de novo.
- Pois, aconteceram algumas coisas que condicionaram a reabertura da Pensão, mas que depois foram ultrapassadas e de  momento, parece que as coisas poderão melhorar ....
 - Pois, assim espero também. A vista do quarto é extraordinária e só de pensar que poderei voltar a vê-la, sempre que desejar descansar, só por si é meio caminho andado para me sentir ainda mais bem-disposto.
- É assim que pretendemos que os nossos hóspedes se sintam. Como se estivessem em casa!
- Ainda bem que é assim. Quanto ao prato, vou  optar pelo pela lampreia, tão característica que é em Penacova, nesta altura do ano.
- Muito bem, vai comer a melhor lampreia de sempre! E para beber?
- Bom, para beber, talvez me possa aconselhar um bom vinho.
- Sim, com todo gosto! Para começar, aconselho um bom tinto, de preferência um vinho, novo, forte e adocicado para contrastar com o sabor selvagem da lampreia. Talvez um "Vinha do Rosário", colheita de 2008, seja uma excelente escolha para tornar o prato ainda mais saboroso.
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...