quarta-feira, 21 de abril de 2010

Predisposição típica



O jantar tinha acabado de ser servido. O pato estufado estava com um aspecto magnífico!
Depois de ler a carta de vinhos pediu um Quinta dos Termos, Selecção Tinto da colheita de 2007. 
- Boa escolha! - pensei eu - De facto tudo parecia combinar. Na televisão passava a Grande Reportagem. Existe corrupção em Portugal e não se pense que é menos ou mais importante que nos outros lados, é exactamente igual. Com os mesmos contornos e com a mesma precisão. Os protagonistas podem ser diferentes mas o código de conduta é o mesmo para todos, ou seja, não existe!
-Todos sabemos que o crime compensa....
- Mas é disso mesmo que eles estão a falar. Só com grande espírito de missão e com uma fé inabalável nos valores de uma sociedade justa é que alguém se dispõe a denunciar casos de corrupção.
- E é que vão desde o maior ao mais pequeno!
- Claro que sim! É tipo uma máfia, com violência e extorsão à mistura. Esquemas que a todos passam despercebidos, ou por puro desconhecimento, ou então simplesmente porque não é nada connosco.
- Nos meios pequenos não se passa tanto. As coisas acabam por se saber todas rapidamente. Mas nas cidades, ou perto delas, já funciona de diferente maneira.
- Tens razão, é tudo em ponto grande.
- E muita gente disponível. E nos sítios com muita gente com muito dinheiro em jogo, as tentações são maiores.
- E depois todos querem  ter boa vida sem trabalhar. Querem bons carros, grandes casas, viagens para todo o lado, tudo do bom e do melhor. Enfim, anda meio mundo a enganar outro meio.
- Mas agora está pior!
- Claro, não há dinheiro para nada.
- E as previsões não apontam para melhorias, apesar de Cavaco ter vindo dizer que a coisa não está assim tão má.
- Então, é a única coisa que ele deve dizer. Não ia à televisão dizer que isto está mau, que devemos todos preparar-se para o pior.
- Pois não, claro que não podia! Tu já viste o que é que seria?
- Vira essa boca para lá. Nem quero imaginar no que iria acontecer!!
- Mas isso é um mal que afecta toda a gente. As pessoas têm que ter liquidez suficiente para consumir aquilo que uma sociedade de consumo produz, senão o mercado não funciona. E não funcionando, tudo pára. Os stocks aumentam, as coisas não se vendem, as fábricas fecham por não haver quem compre, o desemprego aumenta ainda mais e tudo acaba por se transformar numa autêntica crise social, onde a maior parte se vê privada de rendimentos que permita ter uma vida com dignidade.
- E olha que uma crise social não vinha mesmo nada a calhar neste momento!
- Nem neste nem noutro. Mas digo-te uma coisa, se os governos não derem prioridade às pessoas, as coisas podem ficar demasiado tensas e dificilmente controláveis.
- Nesse caso a corrupção acaba por contribuir para dar aos menos abonados a possibilidade de também eles se aproximarem mais um bocadinho dos que tem muito.
- E mais facilmente num país onde a corrupção é quase sempre encarada como um comportamento natural de quem tem o poder de decidir.
- Sobretudo se for supostamente perpetrada em benefício de uma comunidade ou por alguém cuja reputação nunca foi contestada, muito pelo contrário.
- Portanto, se durante todo um percurso de sucesso, houver a tentação de aproveitamento da situação em benefício próprio, inferior ao proveito de todo um conjunto de interesses, apesar da condenação,  é considerado perfeitamente normal.
- Por isso é que se torna muito difícil de combater o fenómeno da corrupção. Há um ou outro caso que escapa e se torna numa verdadeira dor de cabeça, mas no geral as coisas acabam sempre por acontecer.
- Além disso, convém não esquecer que somos portugueses, muito dados ao improviso e à solução imediata, por vezes mais onerosa, mas com aquele sabor a pequena vitória do tipo "já te lixei" ou “já enganei outro”.
- E sempre à espera da gorjeta, da ajuda financeira do Estado, da oportunidade para ganhar uns cobres sem declara porque "o Estado é um ladrão" e "são todos uns comedores".
- Somo tipicamente latinos. Parece que nascemos no meio de tudo e não pertencemos a nada. Conseguimos ser invariavelmente aqueles a quem puxam sempre as orelhas.




sábado, 17 de abril de 2010

Chá com bolos


A hora do chá na Pensão é óptima para restaurar energias. A sala é aberta para todos os que pretendam lanchar confortavelmente. Para os hóspedes que ainda não conhecem os doces tradicionais de Penacova, temos o prazer de os propor como acompanhamento. Para os que nos visitam habitualmente, não necessitamos sequer de os sugerir.
De quando em vez, abrimos algumas excepções e podemos optar por sugerir outros doces que por algum motivo nos chame a atenção ou que nos sejam indicados por um ou outro hóspede habitual.
- Continuo a achar que nada se compara às Nevadas.
- Eu também concordo contigo, mas temos que nos ir adaptando à realidade. E essa realidade é aquilo com que temos de contar. Por isso, devemos tentar ver como é que funciona.
- Mas tu já viste o preço de cada um? É uma exorbitância!
- Pois é, mas por isso mesmo é que se vendem...
- Achas?
- Não imagino!!!
- Nem eu, mas tenho a certeza que, daqueles que para cá vêm, nenhum fica por vender. Põe uma coisa na cabeça, na sociedade em que vivemos, as coisas caras vendem-se sempre.
- Quer dizer então que vais deixar estar.
- Claro.
- E as Nevadas?
- Já te disse que Nevadas são Nevadas. Portanto, não há comparação possível. Quem vem para comprar Nevadas não compra outra coisa.
- Em princípio...
- Pois. Mas olha que não me importava nada que vendessem Nevadas numa boa pastelaria de Lisboa.
- Nem eu, pois claro.
- Então. não vejo qual o inconveniente em ter para os hóspedes uns cupcakes fresquinhos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um dia de cada vez



- Está, por assim dizer, instalado o caos nos aeroportos europeus, não é verdade Matias?
- E de que maneira sr. Luís. A quantidade de cinzas vulcânicas que por acção dos ventos se foram espalhando pela Europa, levaram ao cancelamento de inúmeros vôos, com os consequentes atrasos. Só aqui na Pensão, 20 por cento dos hóspedes não conseguiram chegar a tempo de se alojarem quando pretendiam. Esperemos que consigam fazê-lo amanhã.
- Não sei Matias, a julgar pelas notícias que nos vão chegando, não se perspectivam melhoras no estado do tempo, na próximas 48 horas.
- Se assim for, a coisa vai complicar-se ainda mais. Não quero sequer imaginar como vai ficar a D. Rosalinda quando souber que a situação se vai manter durante mais dois dias.
- A natureza é assim Matias. Nada a consegue controlar por muito tempo. Quando terminam os “ciclos”, as coisas começam a alterar-se para depois voltarem a estabilizar durante centenas ou milhares de anos.
- Ciclos sr. Luís, que ciclos?
- Os ciclos que marcaram a evolução geológica do nosso planeta e que causaram profundas alterações, tanto a nível morfológico como a nível biológico.
- Mas isso é um bocado assustador, não acha? Faz-me lembrar aquela profecia dos Maias que aponta para 2012 o fim do mundo.
- Sim, essa é uma das muitas teorias que têm atormentado o ser humano. Mas há outra de Leonardo da Vinci que aponta para 4006, portanto, vá-se lá saber quem tem razão.
- Essa última é bem mais simpática. Pelo menos já nos permite pensar num futuro mais longo.
- Pois é Matias, mas temos que ter sempre presente que catástrofes naturais vão existir sempre, com todas as perdas que delas advêm, sejam elas materiais ou humanas.
- Olhe sr. Luís, para mim tudo isso é um pouco assustador, mas não creio que venha a concretizar-se. Já viu as consequências que tinha para todos nós?
- E achas que a natureza está preocupada com isso Matias? Pensas que o homem consegue controlar a sua fúria?
- Obviamente que não sr. Luís, basta vermos o que aconteceu recentemente na Madeira ou na China, em que, em minutos, tudo desapareceu.
- Ora aí está Matias. Se tiver que acontecer acontecerá. O que eu faço é viver um dia de cada vez, sem estar muito preocupado com esse tipo de profecias. Sou da opinião que o mundo acaba todos os dias para milhares de pessoas, conhecidas ou não, e que se acontecer algo que modifique radicalmente as coisas que nós conhecemos, então pegarei na máquina fotográfica e captarei imagens dessa nova realidade.
- Mas isso acontecerá se por acaso o sr. Luís sobreviver!
- Obviamente Matias.
- E se as coisas não acontecerem com espera que aconteçam?
- Nesse caso, como te disse, continuarei a viver um dia de cada vez.
I

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os problemas do (v)Bento


A conversa que os dois hóspedes, que se encontravam sentados na mesa que está ao pé da sacada, estavam a ter era tão interessante, que nem eu próprio tive coragem de a interromper, apesar de ter indicações expressas que deveria fazê-lo logo que se sentassem, pois não era hábito da Pensão fazer esperar desnecessariamente os hóspedes.
- Quer dizer que agora vais mesmo ver o papa.
- O papa, porquê!?
- Então, porque o governo vai dar tolerância de ponto nesse dia a todos os funcionários públicos.
- E o que é que te leva a pensar que eu vou ver o papa.
- Nada me leva a pensar que isso vai acontecer, mas certamente irás aproveitar a folga para, pelo menos, ires passear com a família.
- Estás enganado quanto a isso. Se realmente houver tolerância de ponto nesse dia, garanto-te que não vou ver para nenhum.
- Mas deves.
- Não devo nada porque nem sequer me revejo nesse senhor.
- Então devias ir trabalhar em vez de gozar tal tolerância.
- Nada disso meu caro, vou aproveitar essa benesse que tem como objectivo permitir que os féis se desloquem a ver o supra sumo da igreja católica e como eu não me incluo nesse grupo, não lhe devo qualquer tipo de obediência. Além disso, e mesmo que eventualmente me sentisse nessa obrigação moral, depois de ter lido, ouvido e observado acerca do envolvimento do clero em questões relacionadas com a pedofilia e a homossexualidade, não me sentia minimamente motivado para ir ver desfilar quem quer que fosse da igreja católica.
- O que eu condeno acima de tudo é a forma como foi encarada toda a situação. Em primeiro lugar, depois de detectado o problema, procurou-se não dar muita às consequências que o mesmo poderia trazer às vítimas de abusos, depois os casos aumentaram de número e mesmo assim manteve-se a política do silêncio, como se os actos praticados não constituíssem um crime hediondo, por último assiste-se por parte das hierarquias da igreja católica a um esforço em tentar transformar uma questão de polícia numa coisa sem grande importância, procurando com outros assuntos, como o aborto por exemplo, desviar a atenção dos fieis do problema.
- E como se não bastasse, ainda se atrevem a vir dizer que “muitos psicólogos e psiquiatras mostram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros revelam que existe uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, tudo isto para tentarem afastar a ideia de que o celibato dos padres não aumenta a tendência para a pedofilia.
- Acho uma grande estupidez andarem a tentar explicar o inexplicável, mas quanto a essas declarações e tendo em conta as reacções que entretanto ocorreram, o Vaticano já veio “esclarecer” as declarações do seu secretário.
- Éh, para por água na fervura, como tão bem sabem fazer.
- Mas a coisa não fica por aí.
- Então?
- Já há quem queira deter o papa quando ele for ao Reino Unido.
- Mas isso nunca irá acontecer porque poderia desencadear uma onda de vingança contra todo o clero o que, naturalmente, não é de todo desejável que aconteça, até porque não é razoável julgar a parte pelo todo.
- Mas o problema é que essa parte é também responsável pela educação religiosa de cerca de 1/6 população mundial, que é o número de fiéis com que conta actualmente a igreja católica o que, convenhamos, é muita gente.
- Olha, sabes uma coisa?
- Não, diz lá.
- Eu acabava com o problema que era um instante.
- Então como?
- Começava por acabar com celibato, para que os padres soubessem dar o devido valor à família e ao matrimónio, experimentando também eles serem maridos e pais sem terem que andar por aí quase às escondidas com as “irmãs” e depois entregava todos os prevaricadores à polícia para que fossem julgados pelas leis dos homens e não continuassem impunes a coberto das leis de Deus.
- Com toda essa convicção para resolver um problema bastante antigo, tenho a certeza que até Ele ficava contente com o teu despacho.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A hora de (continuar a) pagar



- Eu sabia que iria sobrar para nós.
- Estás a falar sozinho Luís?
- Olha Joaquim, estava aqui a olhar para as notícias e a lamentar o facto de também nós termos que contribuir para ajudar a Grécia a suportar o estado caótico em que se encontram as suas contas públicas.
- E é muito dinheiro?
- Bem, segundo aqui se pode ler, são 73 euros por português.
- E para quando é que está programado esse pagamento?
- Não te preocupes que nem vais sentir que estás a pagar.
- Mas há uma coisa que eu não estou a perceber,
- Qual?
- Então, ainda há dois meses disseram que Portugal e Grécia estavam em situações semelhantes e agora vamos ter que contribuir para resolver o problema deles? E quem é que nos resolve o nosso?
- Os gregos não são de certeza!!!
- Mas está mal, alguém nos devia ajudar neste momento de dificuldades.
- Aprende uma coisa Luís, a partir do momento em que entrámos para a Europa, assumimos os prejuízos e os lucros daí decorrentes, por isso, aquilo que recebemos durante estes anos todos vai ser pago mais tarde ou mais cedo.
- Isso eu sei, mas não estava à espera que acontecesse tão cedo.
- Pois, é para tu veres que quando se está no mesmo barco, devemos remar em sintonia e sempre na expectativa de que quando começar a correr mal, os pequenos são sempre os primeiros a sofrer as consequências. Por isso, vale mais não nos cegar-mos com a hipotéticas facilidades e nos resumir-mos à nossa situação de país periférico e totalmente dependente.
- Uma coisa te garanto, se fosse hoje acho que emigrava para o Luxemburgo.
- Para o Luxemburgo, então porquê?
- Olha, acho que é um país simpático e onde vivem muitos portugueses.
- Pois, mas para tua informação, cada luxemburguês contribui com 157 euros para ajudar a Grécia.
- Bom, nesse caso, prefiro ficar por aqui. Além disso não creio que lá exista a Pensão Viseu.
- Vês, pelo menos aqui ainda tens com quem desabafar. Se por acaso mudasses de país, não terias a oportunidade de sentir o prazer de contribuíres para a recuperação económica de um governo gastador.

Inebriante


Finalmente o sol decidiu aparecer. Quase que parece um fim-de-semana de Verão. Estava-se mesmo bem na esplanada da Pensão, tão bem que não havia uma única mesa vaga, pois os hóspedes, mal almoçaram, foram de imediato para lá. Os que não conheciam ficaram deslumbrados com a vista sobre o vale do Mondego. Os que se tornaram hóspedes assíduos da Pensão, estavam como se estivessem em casa e cultivavam a cordialidade com os que, pela primeira vez, tiveram a oportunidade de desfrutar tal beleza, na sombra proporcionada por esta pérgola delineada por Raúl Lino.
- É bom para o negócio Matias. Vai-te habituando à confusão porque de Verão vai ser todos os dias assim.
- O meu tio Mário já tinha contado como eram os dias de Verão na Pensão. Muitos hóspedes, muitos amigos de longos anos e as noites que reservavam sempre alguma surpresa.
- E tinha razão o teu tio. É muito agradável o Verão na Pensão. Olha Matias, vai lá fora ver o que quer o hóspede da mesa 7.
- É para já D. Rosalinda. O sr. vai desejar mais alguma coisa?
- Basta-me este cheiro que me inebria. Este aroma que perfuma o ar é um bálsamo para qualquer pessoa. São fantásticas estas Glicínias.
- Estão aqui há cerca de 90 anos e ambas estão catalogadas como árvores de interesse público.
- Isso é óptimo!!! Será que também farão parte das comemorações do dia internacional dos monumentos e sítios?
- Bom, isso aí já não sei mas pela lógica penso que deviam, quanto mais não fosse uma breve referência.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um sítio especial


O regresso do tempo quente tem destas coisas. Um passeio à noite pelas ruas da vila, dão prazer a qualquer um, sobretudo àqueles que o fizeram pela primeira vez. A iluminação amarela favorece o percurso pelas ruas estreitas da parte mais antiga da vila, emprestando-lhe um ar mais acolhedor.
É agradável passear à noite! Tão agradável que alguns hóspedes fazem questão de fotografar os sítios de que mais gostam.
- Desta vai ter que me arranjar uma cópia para colocar num sítio especial da Pensão!
- E que sítio é esse, posso saber?
- Então, basta olhar à sua volta e verificar de que sítio especial se trata.
- Bom, o que vejo são várias fotografias de Penacova penduradas nas paredes da Pensão, logo, presumo que seja nelas que pretende pendurar a cópia que me está a pedir.
- Exactamente! É numa dessas paredes que a pretendo pendurar, para dar seguimento a uma tradição da Pensão.
- Que é?....
- Cada hóspede da Pensão que queira deixar um testemunho fotográfico da sua passagem por Penacova pode, e deve, fazê-lo, entregando a mim directamente ou ao Matias. Depois, serão afixadas em função da sua beleza ou oportunidade.
- Quer dizer então que gostou desta fotografia, não é?
- Gostei bastante! Principalmente por mostrar um dos monumentos de Penacova que, após de já ter sido colocado em três lugares diferentes, parece que finalmente está onde deveria ter estado sempre.
- Olhe que gostei bastante da forma como o colocaram e sobretudo da disposição das luzes que o iluminam.
- De facto favorece-o bastante. Por acaso sabe que foi construido em 1909.
- Bem sei. Deu para ver a data que tinha inscrita. Faz 101 anos este ano.
- Precisamente!
- E não houve festa de aniversário?
- Não, Penacova não tem cultivado muito o hábito de preservar e respeitar os monumentos que tem. Salvo raras excepções, tem-se verificado um abandono quase total de grande parte do nosso património edificado.
- É pena que assim seja. Por aquilo que me foi dado a conhecer, Penacova consegue rivalizar com algumas das mais bonitas vilas históricas do nosso país. Está como que situada num promontório e a disposição das casas forma uma seta imaginária cuja ponta se situa no Mirante, que por sinal também é centenário. Por isso é importante trabalhar no sentido de preservar essa singularidade e o legado dos mais velhos.
- Olhe caro hóspede, nem sempre temos à frente desses departamentos pessoas com sensibilidade suficiente para zelar por eles.
- Então D. Rosalinda, se assim é, fique com a foto para que, pelo menos desse, se mantenha uma boa recordação.

sábado, 3 de abril de 2010

Virtuosidades


Nesta época do ano a Pensão é muito procurada sobretudo por casais que, recém-casados ou não, procuram a calma que se vive nesta vila apenas "perturbada" pelos festejos pascais que são sempre dignos de serem apreciados, sobretudo pelos fiéis mais devotos. Além disso, também procuram apreciar a qualidade da cozinha da Pensão, antes com a Susana, hoje com a D. Rosalinda porque ainda não apareceu outra cozinheira com capacidade para as substituir. É certo que a Luísa dá uma mãozinha, mas não tem aquela sensibilidade necessária a uma cozinha com a qualidade que se pretende para a Pensão.
Os hóspedes que hoje chegaram à Pensão só o puderam fazer, como habitualmente, até às 17 horas. Todos fizeram as reservas com a devida antecedência e de certeza que daqui a pouco começam a descer para se instalarem na sala de estar onde, de aperitivo em aperitivo, aguardavam ansiosamente pela refeição. Curiosamente, um hóspede, porventura o mais actualizado, perguntou se servíamos um vinho do Porto Dow`s Vintage 2007, ao que eu, orgulhosamente, lhe servi um cálice de tão afamado néctar, que o diga Robert Parker, reconhecido provador da Wine Spectator. Satisfeitíssimo, levou o cálice para  virtuoso canapé, onde deliciosamente continuou a ler o seu jornal.
Entretanto, o apetite para o jantar começou a ser tema de conversa entre os hópedes. Uns tentavam adivinhar aquilo que os outros iriam escolher para comer. Alguns adivinhavam, outros nem por isso, mas as escolhas andavam todas à volta do Cabrito, das Migas, da Chanfana ou até mesmo da Lampreia. Curiosamente alguns optavam por um Filé-mignon em crosta de 4 pimentas sob uma Galette de Batatas acompanhado de um Molho Rosé ou até mesmo por uma costeleta de cordeiro com mostarda, nada que me espantasse, tendo em conta a variedade com que gostamos de presentear os nossos comensais. Mas mais curioso ainda, foi o pedido feito por aquele hóspede que há pouco me pediu que lhe servisse o vinho do Porto. Perguntou-me se por acaso, serviamos Trufas. Surpreendido com tão inusitado pedido, de imediato respondi  que sim, apenas lhe perguntado se preferia as pretas ou as brancas. Respondeu-me que preferia as pretas, por terem qualidades extraordinárias.

Parados no tempo


- A chuva não ajuda em nada a 46ª edição dos Solteiros X Casados.
- Pois, se não parar vai ficar complicado jogarem no Campo da Serra, se bem que agora tem outras condições e a água já não será um problema para quem lá joga.
- Tens razão. Desde que lá instalaram o relvado sintético, aquele campo de futebol ficou mais favorecido, não só para estas alturas, como é óbvio, como também para os jogos do próprio clube.
- Estava aqui a ler o suplemento "Fugas", do Público, e dei-me com um artigo sobre os moinhos.
- Ai sim, e o que escrevem acerca deles?
- O habitual, mas desta vez tem a ver como o Dia Nacional dos Moinhos. E curiosamente fazem referência à azenha que existe no Vimeiro, em São Pedro de Alva.
- Qual, a do sr. Américo Dinis?
- Exactamente essa, como é que sabes!?
- Bem, não é difícil de identificar porque é a única que, com mais de 160 anos, ainda funciona.
- E segundo aqui diz, pode ser visitada sempre que se quiser, desde que o sr. Américo por lá se encontre, como é lógico.
- E se não estiver, como é que se pode encontrar?
- Deixa cá ver.....há encontrei! Pode ser contactado pelo telemóvel nº 938247880
- Isso quer dizer que ainda lá vamos?
- Sim, se tudo correr bem.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tecnologia divinal


A D. Rosalinda encontra-se acamada, não que tenha tido algum acidente ou alguma indisposição, mas apenas porque apanhou uma gripe que a mandou de molho para a cama.
- Olhe sr. doutor, tenho o meu corpinho todo dorido. Quando me viro parece que se quebram os ossos todos!
- Sabe D. Rosalinda, a srª. já não é nenhuma criança e com a sua idade é preciso ter muito cuidado. Por acaso tomou a vacina para a gripe?
- Por acaso tomei sr. doutor! Não fosse a minha neta Alice tinha-me esquecido, mas aquela menina não se esquece de nada e, mal viu chegar o tempo frio, disse-me logo para a ir tomar.
- Pois, fez muito bem. Se assim não fosse, esta gripe atacava-a com muito mais força e os resultados não seriam os mesmos. Poderia até apanhar uma pneumonia.
- Credo sr. doutor, vire essa boca para lá!
- É verdade D. Rosalinda, hoje em dia todo o cuidado é pouco. Lembra-se da gripe suína?
- Olhe sr. doutor, tudo isso foi um grande embuste para encher de dinheiro alguns laboratórios farmacêuticos. Sem dúvida que foi uma gripe, mas a maneira como a apresentaram é que foi um exagero.
- Sim, por um lado foi, mas por outro não deixou de ser uma gripe muito perigosa que em alguns casos conduziu à morte do paciente. Mas o que eu pretendia dizer com o exemplo da gripe AHN1, foi que a vacinação é importante e, em determinadas idades, é indispensável, como muito bem sabe. De qualquer maneira, não deixa de ser necessário um repouso absoluto, agasalho e um leitinho quente com mel.
- Olhe sr. doutor, já não bebo leite desde os meus 13 anos...
- Então se não bebe leite, beba chá que também faz bem.
- E quando é que me posso levantar?
- Talvez lá para sexta ou Sábado..
- Nem pense nisso sr. doutor. Já viu que estamos na Semana Santa e eu tenho que fazer as minhas orações.
- Então, pode fazê-las em casa!!
- Mas não é a mesma coisa sr. doutor. Não temos companhia, nem sequer ouvimos toda a gente a rezar, tal como eu gosto.
- Engana-se D. Rosalinda, agora para rezar com acompanhamento já não necessita de sair de casa.
- Ai não, então como é que pode ser isso!?
- Muito simples. Vai à internet, ao site Passo a Rezar e com a voz de Ruy de Carvalho e da sua filha, pode ouvir todas as orações da Semana Santa, de segunda a sexta-feira.
- Mas eu não percebo nada de internet...
- Pede à sua neta, ou ao Matias que eles são capazes de saber.
- Bom, sendo assim, e se a coisa for tão boa como o sr. doutor diz, até posso começar a gostar de ficar doente. O sr. doutor, por acaso, não sabe se essas orações se prolongam para além da Páscoa?
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