segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Corredor de Fundo


- Mas há um coisa que eu ainda não percebi, muito bem meu caro Herberto.
- Diz amigo Daniel, qual é a dúvida desta vez?
- Afinal, quantas juntas de freguesia é que o partido socialista ganhou nas últimas eleições autárquicas em Penacova?
- Bem, pelas minhas contas, foram cinco. Mas porquê essa pergunta?
- É que a sensação que fica, para quem não sabe quantas foram, é que o p.s. apenas ganhou uma.
- Ai sim, então porquê?
- Então, desde que tomaram posse, o único, que eu me lembre, que até agora fez algum coisa com conteúdo e digna de ser visitada, foi o presidente da junta de Travanca do Mondego, e digo-te que de muito melhor qualidade do que aquelas que se fazem na própria sede do município, o que me leva a pensar que não existe mais nenhuma junta ganha pelo p.s. em Penacova, e que aquela serve de exemplo para todas as outras.
- Bem, nesse aspeto sou obrigado a dar-te razão. De facto, não me lembro que outro presidente de uma outra junta socialista, se tenha destacado tanto na realização de eventos que envolvam toda a sociedade, como o da junta de Travanca, talvez o espaço que lá tem se proporcione, mas não deixa de ser verdade que o tem sabido aproveitar.
- Sim, e convém não esquecer que o Parque Infantil António O. Veiga e Costa foi concebido e concretizado no mandato do p.s.d., e pelo presidente cessante António Dias inaugurado, num sinal de grande maturidade, política, social e humana, por parte do presidente que foi substituir.
- Tens toda a razão, a césar o que é de césar! Não haja a menor dúvida, que a atitude do atual presidente da junta, se pautou por um enorme sentido de respeito e solidariedade para com todos os habitantes da freguesia e muito particularmente para com o seu presidente.
- Sem dúvida que sim! Sou amigo do sr. presidente e tenho a dizer-te que a atitude que nessa altura teve e presentemente tem para com a sua freguesia, é demonstrativa da sua enorme sensibilidade. Por isso, direi até que se trata de um político com muitas possibilidades de vir a obter um pelouro no próximo executivo camarário se, obviamente, for socialista, não achas?
- Bem, tudo esse empenho, não só dele mas também da equipa que o acompanha, vai dar os seu frutos. Agora se são amargos ou não, tudo depende da verticalidade com que cada um procura desempenhar as funções que lhe foram por sufrágio confiadas. Se assim for, digo-te que o seu futuro político passará pelos paços do município, para fazer o que hoje faz, mas numa outra dimensão e para um público mais exigente ou, pelo menos, mais crítico.

domingo, 6 de novembro de 2011

Arrebanhados

- Estava aqui a ouvir o sr. presidente na TSF e lembrei-me do quanto necessário é aos nossos governantes apelarem ao nosso espírito de sacrifício para ultrapassarmos este momento de privações.
- Mas conta lá o que estavas a ouvir! Afinal é sempre bom conhecermos aquilo que o sr. presidente vai dizendo aos portugueses.
- Bom, estava recordar a vida do lendário Moiral, que conduzia os rebanhos para as terras altas e que não tinha fins-de-semana, férias, feriados, ou tão pouco pontes.
- Não foi muito feliz a escolha, penso eu.
- Como assim?
- Então, se o homem vai com os rebanhos para as terras altas, como é que ele poderia ter esses tais dias de descanso. Se os tivesse que cumprir à risca, passava o tempo no caminho. Para mim, a escolha deveria recair sobre Viriato, esse sim, um verdadeiro lusitano, que não contente com o avanço dos romanos, decidiu lutar contra o fim do deu povo.
- Eu também acho, que nesta altura nos faria mais falta um Viriato do que um Moiral, apesar de ambos serem pastores, mas creio que a maior parte dos portugueses preferem um discurso de alguém que apele à calma e ao espírito de sacrifício, do que de alguém que lhes venha com ideias revolucionárias e lhes  alimente o descontentamento.
- Pois é, pelo que se vê até parece que ninguém nos está a pedir alguma coisa que vá para além das nossas reais possibilidades. Para comer os milhões de Bruxelas, bastaram alguns, por sinal bem identificados, agora para pagar a fatura já não chegam os poucos que se consolaram a gastar o dinheiro e já temos que ser todos a desembolsar o pouco que temos para ajudar a pagar a dívida. Sabes uma coisa, só espero que da próxima vez que o sr. presidente se ponha a falar de coisas sem pés nem cabeça, lhe dê uma diarreia tal, que o obrigue a quebrar o protocolo sem poder acabar a frase.
- Ora toma, assim é que se fala!

sábado, 5 de novembro de 2011

Pratas da Casa



- Quer dizer então, que vais expor a partir de hoje na Pensão, não é José?
- É verdade Alice, assim vai ser. A tua avó convidou-me para expor aqui na Pensão, logo que terminada a exposição no CentroCultural, e pronto aqui estou de “armas e bagagens”.
- Para o orgulho de todos José. As tuas pinturas transmitem a tua serenidade, daí ficarem tão bem expostas na Pensão.
- Obrigado Alice. Eu é que me sinto orgulhoso em poder expor num local onde também já expôs um grande nome da nossa pintura, penacovense por opção.
- Bem observado José. Lembro-me perfeitamente do dia em que o prof. Martins da Costa nos presenteou com uma das suas exposições. Gostou tanto da forma como foi acolhido e do modo como tudo decorreu, que fez questão de nos oferecer aquelas duas telas que estão ali penduradas na parede, mesmo por cima da mesa que tanto gostava de ocupar.

o vale do mondego - 1982

caminhos paralelos - 1991
 - Era um homem de poucas palavras, aparentemente difícil de aceder, mas que trocou a sua terra natal por Penacova e isso já nos pode muito bem encher de orgulho por vivermos numa terra que ele escolheu para viver o resto dos seus dias.
- Sim, sem dúvida que sim. Só pelo simples facto de ter escolhido Penacova, já demonstra bem o seu amor por esta vista sobre o Mondego. Como podes ler aqui nesta brochura, "escolheu viver na província, na casa-atelier que ali construiu. Um lugar para invejar, sobre o vale do Mondego, no meio das oliveiras e dos bandos de passarada que, nas suas viagens de ida e volta, por ali passam obrigatoriamente".  
- Se fosse vivo teria 90 anos, como não está, deixou as suas obras para o imortalizar.
- Exatamente José, tal como tu.
- Sim, talvez seja um objetivo que todos gostaríamos de alcançar, mas quanto às telas, se calhar não vou deixá-las por cá desta vez.
- Claro que não José, não era essa a intenção. Além disso, terás outras oportunidades para o fazer.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Brilhos do nosso (des)contentamento

- Então D. Rosalinda, sente-se bem?
- Sim Matias estou bem, apenas um pouco comovida.
- Então porquê, posso saber?
- Sabes Matias, este Dia de Finados põe-me sempre muito ansiosa e triste. Faz-me recordar os que já partiram e sobretudo aqueles de quem eu mais gostava.
- E ainda por cima com o cemitério aqui em frente, todo iluminado, por mais que quisesse dificilmente se esqueceria deste dia.
- Pois é Matias, com esta vista ainda mais difícil se torna! Mas pronto, é sinal que cá estamos e que, apesar de não gostarmos muito, ainda vamos conseguindo viver para ver as coisas boas da vida.
- Quando as temos, não é D. Rosalinda?
- Sim claro, quando as temos. Mas também, deixa-me dizer-te que temos um grande defeito. Quando vemos muita fartura, pensamos logo que os tempos de crise já passaram, e a prova disso está na situação em que nos encontramos. Sabes Matias, sempre me disseram que devemos começar a poupar à boca do saco.
- Mas fique descansada D. Rosalinda, porque parece que as coisas vão melhorar, pelo menos não param de aparecer interessados nas nossas riquezas do subsolo, sinal de que ainda há muito para explorar neste país.
- Bem, no meu tempo de jovem, falava-se que o Salazar sabia da existência de inúmeras riquezas por explorar em Portugal, e que havia de vir o dia em que a sua exploração, nos salvaria de uma eventual crise.
- Pois olhe D. Rosalinda, parece que chegou a hora de começarmos a trocar essas riquezas por algo que nos permita sair deste tormento. Por acaso não há nada assim aqui para estes lados, pois não D. Rosalinda?
- Olha Matias, ouvir dizer uma vez, que há muitos anos, lá para os lados do Mont'alto, alguém enterrou uma pipa cheia de ouro e que só uma cabra branca, a escavar com as patas, a encontraria.
- A sério D. Rosalinda!? Está a falar daquele ouro brilhante, sem ser o dos tolos?
- Não sei de qual é, mas que eu ouvi falar ouvi, agora se é a sério meu rapaz, não te sei dizer. 
- E nunca ninguém tentou encontrá-la?
- Talvez alguns tolos o tenham tentado, mas nunca se ouviu dizer que tivessem encontrado alguma coisa.
- Seria da cabra?
- Penso que não, pois não creio que por falta delas alguém tivesse alguma vez ficado enrascado.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Saudades dos Primos


- Então Alice, gostaste de rever os teus primos?
- Adorei avó, foi um dia inesquecível!
- Também acho que foi Alice, e ainda por cima tivemos a oportunidade de ver primos que ainda não conhecia. Só por isso valeu a pena!
- E o mais engraçado de tudo, é que as coisas foram todas combinadas pelo facebook!
- Aquela coisa social que anda aí muito em voga?
- Sim avó, mas não é aquela coisa social, é uma rede social! Um sítio onde apesar de não nos tocarmos, conseguimos contactar uns com uns outros, em tempo real.
- Mas é preciso ter cuidado com essa coisa Alice. Sabes que há relatos de muitas experiências desagradáveis. De pessoas que se fazem passar por outras, só com um intuito de se enganarem umas ás outras.
- Sabes avó,  a quem me pergunta se devo ou não ter confiança no facebook, digo-lhes simplesmente que, tal como qualquer outra rede social, tem tudo de bom, e tudo de mau, e como tal, tanto pode ser utilizada por alguém que tenha boas ou más intenções. No nosso caso, se não fosse o facebook, quase de certeza que não nos reuniríamos tão depressa como aconteceu. Portanto, apesar de todas as as coisas más que possa ter, muitas outras boas terá concerteza, e prova disso, foi a magnífica tarde que passámos juntos. 
- Sim, tens razão. O mesmo se passa, por exemplo, com as bebidas alcoólicas, ou os doces. Quando os consumidos em excesso, causam os danos que todos nós conhecemos, e que todos dias  vitimam centenas de pessoas.
- Mas olha avó, mas não estamos aqui para falarmos de tristezas. Tenho a dizer-te que todos adoraram a refeição que lhes proporcionaste!
- Bem, não fui eu que a proporcionei, mas sim a Celeste, ajudada por um dos nossos dedicados estagiários. Eu apenas disponibilizei o espaço para que todos se pudessem reunir o mais confortáveis possível. Só tenha pena que os pais, avós e tios não estivessem também presentes, mas isso ficará para outra altura, que espero seja para breve.
- Pois é avó, realmente poderiam ter sido convidados. Mas todos fizemos questão que este almoço fosse para os mais novos. Desta vez foi assim, para a próxima será diferente.
- Sim, eu até compreendo o motivo que vos levou convidarem somente os primos. São mais jovens, gostam de estar num ambiente mais jovem, falarem de coisas mais jovens e centrarem-se em vocês jovens.
- Exato avó, esse foi o principal motivo que levou a que se optasse por esse "modelo" de almoço. Numa outra altura, será feito um almoço para toda a família, e aí sim, todos poderão desfrutar da alegre companhia dos primos, tios, irmãos, avós e pais. 
- Muito bem minha querida! Sabes Alice, agora vou deitar-me que já não aguento dos meus joanetes.
- Fazes bem avó. Não tarda nada também subo.

sábado, 29 de outubro de 2011

Chanfana dos Santos


- Então João, que fazes por cá hoje?
- Olha Matias, fui convidado para a festa da Cheira e cá estou.
- Da  Cheira e do Chainho queres tu dizer.
- Pois, claro, tens razão. É a força do hábito.
- E correu bem a viagem?
- Nem por isso. Vim pela estrada do Luso e olha que apanhei algumas surpresas.
- Porquê, encontras-te alguma árvore caída?
- Não, não se tratou de uma árvore, mas sim das obras de repavimentação que nela estão a decorrer e se não fores atento, corres o risco de ser surpreendido.
- Se assim é admira-me ainda não ter ocorrido alguma acidente!
- Também não sei o que vai na cabeça daquele pessoal. Onde é que já viu andarem a reparar uma estrada, sem que essa empreitada esteja convenientemente sinalizada?
- A estrada já de si não é uma estrada fácil. Muitas curvas, algumas delas bastante acentuadas, não tornam a tarefa fácil para quem não a conhece muito bem, e mesmo conhecendo, ser surpreendido com rasgos no alcatrão, capazes de provocar danos na viatura, ou até mesmo um acidente.
- É, tens razão, deveria haver melhor sinalização, apesar de todos sabermos que aquela estrada necessitava e uma intervenção. Mas conta-me! Será que vale mesma pena entrar agora para a faculdade, nesta altura do campeonato.
- Claro que vale! Ainda ontem começou a Latada, por isso só a partir de agora é que as aulas vão realmente começar.
- Olha Matias, espero que realmente consigas acabar ou teu curso. É bom encarar a vida como um desafio, mas nunca perdendo a noção dos custos que uma decisão dessas pode acarretar.
- Pois é, tens razão! Nos dias que correm, qualquer desvio pior calculado poderá ditar a continuidade de um percurso. Por isso tem de haver um forte empenhamento.
- Ao fim e ao cabo, o mais importante é que tudo corra bem e, a final, dês o tempo por bem empregue, seja pelos resultados, seja pelos amigos que vais encontrar.
- Tens razão João! Sempre digo que problema não está em entrar, mas sim em sair. Então dizes tu que vieste à Festa da Cheira. Então, não te escapas de comer uma chanfana.
- Claro, se não houver chanfana não há festa.
-Obviamente que sim, mas não te esqueças que a chanfana é prato do dia, todos os dias, aqui no restaurante da Pensão.
- Bem sei Matias, mas parece que sabe melhor quando à festa.
- Aqui para nós João, eu também prefiro comê-la nessa altura, apesar de aqui ela ser deliciosa todo o ano.
- Pois bem meu caro Matias. Folgo saber que está de boa saúde, que tens projetos para o futuro e que, concerteza, nos vamos encontrar num dois bailes da festa.
- Podes crer João. De todo o modo, se isso não acontecer, aparece aqui na Pensão, para conversarmos mais um bocadinho.
- Fica descansado, mas agora tenho que ir. Ainda vou comprar umas quantas flores para o Dia de Todos os Santos.
- Fazes bem João, um grande abraço para ti e para família e até um destes dias.
- Fica descansado que logo que possa, venho visitar-te para falarmos mais um pouco, e olha que tenho algumas novidade que vais gostar de saber.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os preços da cura


- Não queiras saber a inquietação que houve lá na farmácia!
- Diga-me D. Rosalinda, conte-me lá o que aconteceu!
- Então, cheguei lá e o sr. Anibal perguntou-me se preferia um genérico.
- E...?
- E eu não soube o que responder. Sei lá se devo querer o genérico ou não. O que eu quero é um medicamento que me faça bem.
- Mas, não estou a perceber o que é que provocou a confusão! Estava lá mais alguém para além da srª. e do sr. Anibal?
- Sim, estava lá um médico.
- E...?
- E perguntou logo porque razão ele estava a perguntar tal coisa, uma vez que estaria bem identificado o medicamento a aviar.
- E por isso a srª. ficou sem saber o que fazer, não é?
- Lógico!
- Mas é fácil de entender D. Rosalinda. Um estava a tentar dizer à srª. que tinha lá um medicamento mais barato, que lhe resolvia o problema da mesma maneira. O outro, estava a tentar dizer-lhe que a opinião do médico é aquela que deve prevalecer, indepedentemente de haver um sem número de opções para solucionar o problema. Agora, resta saber de que maneira, uns e outros, optam por aconselhar esta ou aquela marca. Se na perspetiva do utente, se na sua perspetiva ou se na perspetiva do fabricante.

domingo, 23 de outubro de 2011

Proteja-se, não só por si, mas também


- Quando vem uma chuva mais intensa, lá temos nós os nossos bombeiros a saírem para o IP3. É impressionante a quantidade de acidentes que ocorrem, tanto no IP3, como no IC6. Óh sr. agente, sabe dizer-me em qual deles foi?
- Olhe Matias, segundo informações disponibilizadas há pouco, o acidente desta tarde ocorreu no IC6 e dele resultaram 5 feridos e um morto.
- Credo, valha-nos São Cristovão! Já não chegam as intermináveis obras, as pontes a ameaçarem ruir e a perigosidade do traçado, associado ao volume de tráfego que se faz notar, principalmente aos fins-de-semana, ainda teem que acudir aos acidentes que cada vez mais ocorrem. Vocês e os bombeiros, são de facto incansávéis.
- Mas não é só meu caro Matias. Para piorar a situação, já de si bastante má, ainda temos a crise.
- Crise, mas o que é que a crise está a fazer ao trânsito? A bem ser, até deveriam diminuir esses problemas, tendo em conta que o número de veículos nas estradas também ele tem tendência para a diminuir.
- Mas engana-se meu caro. O que neste momento acontece, e isso sim poderá aumentar o número de acidentes, é que as pessoas fazem cada vez menos manutenção das viaturas, apesar de não diminuirem a sua utilização. Isso, aliado a todos aqueles problemas que enumerou, constitui a receita ideal para que os acidentes aumentem.
- Pois é sr. agente, tem toda a razão! De facto, a crise também afeta a segurança nas estradas. E ao ritmo com que somos bombardeados com mais e mais medidas de austeridade, não se prevê que as coisas melhorem nos próximos tempos.
- É bem verdade meu caro amigo. Outro remédio não temos do que continuarmos a sensibilizar as pessoas da necessidade de, cada vez mais, serem cautelosas quando conduzem.
- Olhe sr. agente, valha-nos o futebol. Pelo menos esse ainda vai trazendo algumas alegrias as adeptos, pelo menos aos do Porto que, tal como eu, estão de parabéns pelo resultado e pela sua manutenção no primeiro lugar da liga da sua grandiosa equipa.
- Com os mesmos pontos do Benfica, melhor dizendo.
- Sim claro, mas essa realidade já não nos alegra assim tanto.

sábado, 22 de outubro de 2011

Voo Picado, Molhado e Muito Bem Calculado

- Olha Alice, de uma coisa podes ter a certeza. Quando o homenzinho viu o carro a sair disparado da estrada, com direcção à água, tenho a certeza que rezou a todos os santinhos e mais alguns, para que a queda não fosse nada por aí além.
- Pudera Matias, só de me lembrar que até poderia nunca conseguir sair de dentro da viatura. Nem me quero imaginar numa situação daquelas.
- Tu já imaginaste o que seria, se por acaso ninguém se tivesse apercebido ou se caísse mesmo no meio do rio? De certeza que daquela não escapava e havia de ser um problema para o encontrar.
- Nem me fales numa coisa dessas, acho que seria horrível. E tu, lembras-te daquela vez que caíste num ribanceira, ali para os lados da Espinheira, lembras-te?
- Bem, lembro-me de ter acordado no fundo da ribanceira, de pernas para o ar, e com o carro todo espatifado.Mas depois lá me consegui desenvencilhar da situação e subi a barreira até à estrada. 
- Não te mataste por pouco, não foi?
- Se foi! Passei ao lado de uma cerejeira, que se deve ter arredado para eu passar. Depois, olha, fui a acordar um amigo que me ajudou a resolver a situação.
- E o carro?
- Bem, o carro ficou praticamente destruído e penso até que foi diretamente para a sucata, mas disso já não me recordo muito bem.
- São horas danadas Matias. E quando nos safamos, dizemos sempre que foi a uma boa hora. 
- Éh, nós, os portugueses, somo assim Alice. Apesar de termos passado por uma situação menos boa, acabamos sempre por arranjar uma outra bem pior da qual nos livrámos, para assim nos confortarmos. Como exemplo, tens aquele indivíduo que acabou de partir uma perna e logo a seguir, todo bem-diposto, diz que, apesar do azar ainda teve muita sorte, porque em vez de uma, podia ter partido as duas.
- Tens razão Matias. Basta vermos o que se passa hoje nosso país. Estamos com o cinto no último buraco das calças, mas mesmo assim ainda conseguimos arranjar uma qualquer situação, para nos colocarmos em vantagem relativamente a eles, que já nem sequer cinto têm.
- Mas esquece a crise e prepara-te para passar um bocado da tua noite, a ouvir umas histórias, contadas por quem sabe, e algumas músicas interpretadas por uma tocadora de harpa.
- Acho que vou aceitar a tua sugestão. Agora que vim da sessão de yoga, vou tomar um banho quente e preparar-me para ir então ao Centro Cultural.
- Fazes bem Alice. Depois, se quiseres companhia, diz qualquer coisa, quem sabe não estarei com disponibilidade para te acompanhar.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Progresso, ou nem por isso

- Então sr. engenheiro, o que faz por aqui hoje, e ainda por cima tão perto da hora do jantar?
- Olha meu caro Matias, venho de uma reunião como o sr. presidente da câmara.
- Ah sim, então porquê, pode saber-se?
- Claro que sim, até porque é um assunto que interessa a todos e muito particularmente às pessoas do concelho de Penacova, principalmente às que vivem junto do rio Mondego.
- Então fale, sr. engenheiro, porque que é exatamente aí que eu vivo.
- Olhe, falámos acerca da construção da mini-hídrica no Mondego, no âmbito da Plataforma Mondego Vivo.
- Então mas isso ainda não acabou, quero dizer, com os cortes orçamentais que aí vêem ainda há dinheiro para fazerem essas (e outras) obras?
- Supostamente não, mas também não podemos deixar esquecer o Movimento, até porque ainda está a decorrer uma petição, como o objetivo de impedir a construção daquela mini-hídrica que, a fazer-se, será uma morte anunciada do rio Mondego e do seu único troço ainda selvagem, ou quase.
- Não diria tanto, até porque, se fosse selvagem, nenhuma das empresas que o explora lá poderiam laborar.
- Sim claro, tem razão, mas é uma forma de abordar um problema, tornaNdo-o mais mediático, sabe.
- Pois bem sei, mas se calhar nem assim funciona.
- Espero que esteja enganado amigo Matias.
- Olhe sr. engenheiro, eu não sou daqueles que estão contra a construção da mini-hídrica.
- Ai não? É pá, você deve ser o único penacovense que eu conheço que não se opõe à construção daquele empreendimento.
- Pois é capaz, mas não acredito assim tanto no benefício da sua construção, como alguns que apenas olham para o rio como um meio para atingir um fim, que é o lucro, e esse, sr. engenheiro, atravessa-se sempre à frente das boas intenções.
- Mas é estranho! Em que é que se baseia para não estar contra?
- Olhe sr. engenheiro, em primeiro lugar, acho que daqui a 30 anos, mais coisa menos coisa, o caudal do rio Mondego, será muito menor do que é actualmente e se não houver alguma construção que impeça a descida do nível das águas, nessa altura, em vez de um rio, teremos um riacho que nem sequer dará para regar, quanto mais para tomar banho ou pescar. Em segundo lugar, não vejo que sejam os populares a manifestarem-se contra a construção da mini-hídrica, mas sim os empresários turísticos que ganham com as descidas de caiaque e que, curiosamente, não trazem ninguém para consumir o que quer que seja em Penacova. Em terceiro lugar, aquele argumento de que prejudica a agricultura não pega, pois a partir da Rebordosa, poucas ínsuas, ou nenhumas, são cultivadas, antes permanecendo abandonadas e  cobertas pelas infestantes que todos conhecemos. Em quarto lugar, não existem espécies tão raras ou selvagens para proteger, uma vez que a presença frequente das pessoas e as ininterruptas descidas de caiaque se encarregaram de afugentar o que havia de selvagem por ali. Em quinto e último lugar, a questão da construção de mais um obstáculo no rio, é uma falsa questão, pois nunca vi nenhum dos promotores da iniciativa, insurgirem-se conta a construção do açude da Rebordosa e esse, mais do que a mini-hídrica, foi e continua a ser muito mais gravoso ambientalmente do que será a mini-hídrica, tão só porque foi construído à revelia de tudo e todos, sem obedecer minimamente a qualquer estudo de impacto ambiental, tão porque não o havia, ou se existia, foi metido na gaveta. Por isso, meu caro engenheiro, não vejo porque motivo estão todos tão indignados com a construção daquela infra-estrutura a qual, segundo consta, até trará benefícios, energéticos e não só, aos concelhos que lhe são fronteiros.
- Olhe meu caro Matias, os pontos de vista que defendes, não estão tão errados como a princípio poderão parecer, porém, moralmente não posso aceitar que uma qualquer decisão tomada nos gabinetes de uns quantos senhores de Lisboa, que nunca vieram nem sabem onde é a Penacova, se imponha à vontade dos que aqui vivem todos os dias e que, ainda por cima, prejudica um sem número de empresas que, durante o verão, tiram do rio parte do seu sustento e do sustento daqueles que para elas trabalham. Além disso, não aceito que daqui a alguns anos, paisagens como aquela que hoje tens em destaque na Pensão, passem a pertencer a um passado, que nós não quisemos preservar.
- Também comungo dessa opinião. De facto, será uma pena perdermos toda essa biodiversidade mas, a propósito disso, e do impacto que constitui uma obra dessa dimensão, quando o interesse comum prevalece sobre o interesse de uns poucos, mais não teremos que aceitar a vontade da maioria, e essa, sr. engenheiro, desculpe-me mas ainda não foi chamada a pronunciar-se, logo, nada mais poderei dar, para além da minha modesta opinião.
- E por falar um opinião, meu caro Matias, estava aqui a pensar que não seria boa ideia comer qualquer coisa, és capaz de me sugerir algo para jantar?
- Claro que sim, meu caro engenheiro, até porque a barriga vazia não é boa conselheira. Olhe, a sair temos umas lascas de bacalhau, acompanhadas com umas batatinhas assadas, bem regadas com azeite do Silveirnho e acalentadas com um Quinta do Vale Meão, 2009, chambreado a gosto.
- Nem é tarde nem é cedo! E se a coisa correr bem, garanto-lhe que acabarei por pernoitar na pensão.
- Então sr. engenheiro, ciente de que vai sentir-se como em sua casa, atrevo-me a reservar-lhe já um quarto, com vista para o rio que ainda  temos, e antes que seja tarde.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Urbanidades

O diálogo decorre entre dois amigos, numa das mesas agradavelmente instaladas na zona mais solarenga da esplanada da Pensão, e depois de conhecida a assinatura do contrato de adjudicação, entre o presidente da autarquia e a empresa vencedora do concurso público, destinado à requalificação urbana da vila.


- Hoje, quando fui levar o meu filho à escola, reparei que o cemitério da Eirinha está de cara lavada. Os muros pintados, os espaços verdes bem arranjados e as zonas reservadas, aos que visitam os seus entes queridos, muito bem cuidadas, tudo como deve ser.
- Sabes que após a saída o anterior coveiro, as coisas melhoraram bastante. Além disso, convém não esquecer que existe uma escola defronte ao dito e, mal seria que, ao menos, a vista fosse minimamente agradável, se é que um cemitério alguma vez possa ser considerado agradável.
- Também nunca compreendi muito bem o motivo que levou o anterior executivo a optar pela localização de um estabelecimento de ensino junto a um cemitério, mas já que lá foi construído, ao menos que se esforcem por mantê-lo bem cuidado
- Sim, também sou da  mesma opinião, até porque espaço não faltava, mas vá-se lá saber o que vai na cabeça dos políticos, quando decidem "apetrechar" o concelho que administram em nome do povo que os elegeu.
- Sim, totalmente de acordo, e ainda por cima, não são minimamente responsabilizados pelas obras que mandam construir e que depois, poucos anos passados, se verifica que, afinal, apesar de terem custado milhões, ficam aquém das espectativas, transformando-se em "monos" que apenas servem para satisfazer a comunidade escolar e nunca para acolherem provas oficiais.
- Bom, se servirem para os estudantes, já não estão muito mal.
- Pois, mas não te esqueças dos encargos que constituem para os cofres públicos.
- O nosso dinheiro, queres tu dizer.
- Sim, exato, aquele dinheiro que eles gastam como se fosse deles, mesmo não sendo. Pois eu lembro-me da polémica dos 3 relvados sintéticos, mandados construir com objetivos claramente eleitoralistas e que, a final, se revelaram até perniciosos, por todos concluírem que se tratava apenas de mais um sorvedouro de dinheiro, que todos teremos de pagar.
 - E agora os encargos ficam para os clubes, mas como as freguesias que deles, supostamente, beneficiaram, eram da cor do partido do município, foi a contento dos seu presidentes. Portanto, se agora não podem pagar a despesa, que a paguem do bolso deles e não venham pedir ao município que os ajude a suportar a despesa.
- Tens toda razão, mas a realidade não é essa. Só se interessam com a generalidade dos munícipes que os elegem, pouco tempo antes das eleições, nesse interregno, multiplicam-se a fazerem favores aos amigos.
- Só espero que não aconteça o mesmo com a requalificação urbana dos espaços públicos e praça do município. Uma vez que alteraram o projeto inicial, alegando que seria um perfeito disparate construir um parque subterrâneo no meio do Terreiro, espero que a solução alternativa, vá ao encontro das reais necessidades dos penacovenses.
- Também eu espero que sim, pois nesta altura, não é de todo aconselhável desbaratar os dinheiros públicos, a pretexto de construir infra-estruturas para servir a população, e que depois se revelam desastrosas do ponto de vista funcional.
- Olha meu caro amigo, faço votos para que este investimento, cuja utilidade é perfeitamente discutível, seja uma mais-valia para todo o concelho.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Campeão da Contratação

- Mas olha que, em matéria de emprego, o concelho de Penacova não se pode queixar, pelo menos a julgar pelo ritmo de concursos abertos pelo município para contratação de pessoal desde o princípio deste ano.
- Com assim?
- Então repara com atenção e aponta: um no dia 19 de Janeiro, para 1 lugar, outro no dia 27 de Janeiro para 3 lugares; outro ainda no dia 28 de Janeiro, para 10 lugares; outro em 19 de Maio para 5 lugares, mais outro em 27 de Setembro para 10 lugares; um outro no dia 28 de Setembro, para 1 lugar, e dois no dia 19 de Outubro, ou seja hoje, sendo um para 9 lugares e outro para 6 lugares.
- Ena pá! O município de Penacova é o campeão das contratações, pelas minhas contas, em 10 meses foram 45 os concursos abertos para admissão de pessoal, é obra!
- É para tu veres que a crise, afinal, não é para todos e mesmo em tempo de vacas magras, ainda existem organismos do Estado, administração local compreenda-se, que olham pelos seus munícipes, não os deixando desamparados nos tempos de contenção. E todas as contratações feitas, como deves imaginar, com a maior das transparências e sem que os candidatos tenham qualquer relação familiar com alguns dos vereadores. 
- Pois, imagino que assim seja. Aliás, nem poderia ser de outra maneira. Já imaginaste o que seria se isso acontecesse? 
- Eu nem sequer ponho a hipótese de poder ser de outra maneira.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Valha-nos o Futebol


- Quer dizer então que, uma vez apresentado o orçamento para o ano que vem, somos considerados por Bruxelas um povo com coragem suficiente para enfrentar a crise.
- Então, as coisas são assim mesmo, quando não se reclama, acaba-se por ficar com o que nos querem oferecer, com a vantagem de passarmos por bons alunos. Oh João, basta ver o exemplo dos gregos. Não têm parado de se manifestar e com isso já lhes foi perdoada uma boa parte da dívida.
- Pois Matias, tens razão, mas lá as coisas piam mais fino. Quando é para parar, para-se mesmo e se for preciso deitam fogo a tudo. E aqui...
- ...aqui ainda vamos aguentando a pancada. Somos muito tolerantes. Eu diria até que desprezamos tanto essa cambada que até os deixamos a estar a pulverizarem o nosso dinheiro. Desde que não nos tirem o futebol, o folclore, o festival, a festa da terra ou o arraial, "tudo corre às mil maravilhas". Somos assim, e provavelmente nunca mudaremos. 
- Talvez por isso é que somos fáceis de governar. Não chateamos e estamos sempre à espera de alguém que venha não sei de onde para nos salvar.
- Tipo solução divina?
- Sim, qualquer coisa assim inexplicável. Um milagre ou uma coisa assim sobrenatural, que desaparece tão depressa como aparece e depois fica tudo bem outra vez.
- Dessas coisas só nos filmes, e é preciso que sejam daqueles que só passam por altura do Natal. 
- Sabes um coisa Matias? Haja a crise que houver, mas a vitória do meu Benfica contra o Basileia é que já ninguém tira
- Vês João, ainda bem que há futebol. E nada melhor do que uma boa partida, para nos fazer esquecer as inquietações dos dias.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Doces Rainhas

brasão da ordem dos beneditinos
- Parece impossível de aceitar, que uma equipa que já esteve na Liga de Honra, tenha dado tamanho tropeção!
- É assim, meu caro Armando, quem não marca sofre. E olhe que, por vezes, mais vale andar cá por baixo e jogar com uma regularidade que permita manter uma boa posição da tabela, do que, por vezes, aspirar fazer um voo mais alto, sem condições para prosseguir e não conseguir.
- Mas todos podemos sonhar, não é verdade?
- Claro que sim, não é por acaso que o sonho comanda a vida.
- E o que vai tomar sr. Armando?
- Pode ser um café e um pastelinho de Lorvão.
- Boa escolha sr. Armando! Saiba que estes foram ontem confecionados precisamente em Lorvão.
- Ah sim, e a que propósito?
- Então não sabe que ontem Lorvão comemorou as suas Santa Rainhas?
- Não sabia não Matias, sabe que ligo mais ao futebol e essas coisas da religião passam-me um bocado ao lado, tirando, claro, a missa de Domingo e as procissões da Páscoa, esses sim, os únicos eventos religiosas que acompanho. Mas fique sabendo que os pasteis de Lorvão são muito saborosos.
- Olhe sr. Armando, aqui na Pensão os pastéis, o mosteiro e até a própria vila, são do Lorvão e não de Lorvão, como alguns preferem chamar-lhe
- Então e porquê esse preciosismo Matias?
- Tão só porque aqui na pensão, gostamos de preservar a originalidade das coisas e não as adaptamos em função da vontade de quem, por comodidade ou desconhecimento, achou que ficaria melhor desta ou daquela maneira. O mosteiro, e a própria vila, foram edificados em honra de Santa Maria do Lorvão e não de Lorvão. Para além dessa, são inúmeras as referências ao Mosteiro do Lorvão, alguma delas emitidas por entidades oficiais, não havendo por isso, da nossa parte, dúvidas em utilizar essa designação, para além do facto de Lorvão, derivar do latim, como sendo lauribano ou loureiro oco, do género masculino portanto.
- Muito bem Matias, fico esclarecido, mas mantenho a dúvida relativamente à designação, não estando porém preocupado com ela, uma vez que a delícia dos seu doces, remetem para outras discussões essa tal incorreção, se é que existe.
- Ótimo sr. Armando, ficamos felizes pela sua boa disposição e com a certeza que voltará à Pensão, seja para comer ou não, um saboroso doce conventual.

domingo, 16 de outubro de 2011

Felizes (re)encontros


- Quer dizer que gostaste muito do Encontro de Coros.
- Sim Matias, claro! E olha que não fui o único. Toda a plateia foi unânime em considerar tal encontro um grande espetáculo e olha que não havia lugares disponíveis.
- Ainda bem que todos gostaram Celeste, pena não poder ter ido, mas a coisa complicou-se aqui na Pensão e não deu mesmo. De todo o modo, se foi como o do ano passado, então está aprovado o deste ano.
- Sim, foi muito bom! Mas quanto ao facto de não poderes ir, não te preocupes que não foste o único. Até comentámos acerca da frequência com que os penacovenses não aderem às iniciativas.
- Então, mas se tu me dizes que não havia lugares disponíveis no auditório, se os penacovenses lá fossem teriam que se vir embora, ou então teriam que assistir ao espetáculo de pé, não será?
- Sim, se isso acontecesse, muitos teriam que ficar em pé, portanto, muito provavelmente já estariam a adivinhar e por isso nem se deram ao trabalho.
- Portanto, conclui-se que o problema está na falta de espaço e não na vontade de aderirem ao evento.
- Pois, pode ser, mas seja como for, não sabem o que perderam. Olha, sabes, estou cansada demais para estar aqui na conversa. Acho que vou repousar um pouco.
- Fazes bem Celeste. Descansa que logo à noite tens uma sala cheia de hóspedes famintos à tua espera.
Eu também não estou com pouca vontade de aqui estar, não fossem a meia dúzia de hóspedes que preferem admirar a paisagem da esplanada da Pensão, dava um saltinho ao Campo da Serra para ver o derby que lá está a decorrer. Como não posso, mantenho-me aqui na esperança de chegar alguém com quem possa conversar mais um pouco.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Praias dos Tesos

- Então meu caro amigo, há tanto tempo que não te via, que fazes tu aqui?
- Olha, calhou passar por perto e perguntei para os meus botões "Será que o Matias está na Pensão? Sabia-me mesmo bem comer uma Nevada e beber um cházinho"
- Fizeste muito bem em passar David! Sabes aos anos que não te via, o que te traz por cá?
- Olha, estava de passagem, a caminho de Lisboa, e resolvi fazer-te uma visita, não sabendo muito bem se te encontraria por aqui.
- Vês, tiveste sorte e até calha bem porque eu estava para aqui a pensar que bem que em faria conservar com alguém.
- Pronto, aqui me tens, agora desembucha.
- Olha David, não é nada de especial, ou se calhar até é. Sabes que eu vou todos os anos para o Algarve, para casa dos teus vizinhos. Pago menos do que pagaria num outro qualquer alojamento, com a vantagem de estar numa casa de pessoas que são quase de família.
- Pois, lá ficas muito melhor instalado.
- E agora estou com receio que a D. Rosalinda siga o exemplo do governo, ao não pagar o subsídio de férias e de Natal do próximo ano. Por isso, peço-te para falares com os teus vizinhos que para o ano, não vou poder arrendar-lhes a casa.
- Mas depois também falas com eles?
- Claro que sim, mas como foste tu que me os apresentaste, por agora peço-te que lhes digas alguma coisa, para não serem surpreendidos com a notícia.
- Mas tu achas mesmo que a D. Rosalinda te vai cortar os subsídios?
- Claro que vai David, ou tu achas que os patrões vão perder a oportunidade de o fazerem. Só estavam mesmo à espera que fosse o Estado a tomar a iniciativa. E digo-te, uma vez retirados, nunca mais vão voltar.
- E as eleições Matias? Acreditas mesmo que quando elas estiverem para acontecer, não vão logo a correr repor algumas mordomias?
- Acho que poderão voltar algumas, mas não todas e essa muito mesmo. Quanto àquilo que tu classificas de mordomias, fica sabendo que mordomias têm, ou tinham, os gregos, quando auferiam quinze meses de salário por ano e um ordenado mínimo de 750 euros, esses sim tinham mordomias, agora para nós portugueses e pobres assalariados, esses subsídios só contribuíam para diminuir a injustiça de que sempre fomos alvo.
- Sim, nesse aspecto tens todas a razão, mas quanto às férias, sugiro que vás aproveitando a praia fluvial do Reconquinho para ira a banhos, pois tudo indica que para o ano ficará ainda melhor.
- É uma boa alternativa sim senhor e olha que o nome "Praia dos tesos" nunca lhe assentou tão bem! Se queremos que os turistas que nos visitam, gostem da nossa terra, temos que ser nós os primeiros a gostarmos dela, por isso, no próximo ano, não irei só à praia do Reconquinho, mas também a todas as outras do concelho, pois para além da qualidade que a maior parte delas tem, melhor ficarão quando contempladas com a minha presença e a de outros que como eu, outro remédio não têm senão por aqui ficarem.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Apesar da Crise...


- É verdade Matias, mas já não tenho paciência para estas coisas. Viagens longas já não me atraem, sobretudo se forem feitas pela nacional. Sim porque até aí temos de poupar, e as portagens, como se sabe, são outra das formas de dar dinheiro ao Estado.
- Mas conte-me D. Rosalinda. Chegaram então ao bendito entendimento?
- Quer dizer...mais ou menos, não foi bem um entendimento. A única coisa que nos interessa é o não agravamento da taxa do IVA para os 23%, pois se assim for, temos de aumentar tudo e depois, sabes como é, os primeiros a sofrer são os funcionários.
- Pois eu bem sei como é D. Rosalinda, daí estar com esperanças numa solução que fosse boa para todos.
- Olha meu santo, para já não está nada definido. Vamos, numa primeira fase, mostrar indignação, apresentar as nossas posições, as posições dos nossos colaboradores e clientes, para depois, caso não corra bem, avançarmos com outras medidas mais duras de reivindicação, como por exemplo encerrarmos os restaurantes durante pelo menos um dia e, quem sabe, avançarmos com outras mais gravosas para a nossa economia, como por exemplo, boicotarmos o que é português.
- A questão é sempre a mesma D. Rosalinda. Enquanto não fiscalizarem, ao cêntimo, aquilo que entra e sai do nosso país, nunca seremos capazes de arrepiar caminho. Se agora nos pedem um esforço suplementar, para as coisas ficarem resolvidas, quando por fim ficarem, começam de novo a gastar como se não tivessem que prestar a mínima satisfação aos que lhes pagam as mordomias. Por isso D. Rosalinda, não vale a pena confiar nos políticos. E digo-lhe mais, se a democracia era o melhor sistema de governo dos povos, por causa desses srs. acabará por se tornar numa política suicida, que só conduz a sociedade ao caos.
- E esse caos é que favorece o aparecimento do conservadorismo, do obscurantismo, da concentração de poderes e na manutenção de uma ordem pela força. Mas deixemo-nos de cenários catastróficos, se bem que está mais para isso do que para outra coisa. Conta-se então como foi o dia na pensão?
- Nada de especial D. Rosalinda, tirando o vergonhoso resultado com que nos presentou a seleção, foi mais um dia de calor quase insuportável.
- Mas estou aqui a ver um cartaz novo no placard da Pensão.
- Eh, as meninas da Forja pediram que o afixa-se e aí está ele a anunciar um momento de Contos, interpretados pela Dolores e pela Ana Rita, com a participação especial da harpista Ana Silva.
- Quem? Aquela senhora que esteve presente na Feira do Livro?
- Sim, essa mesmo?
- Que bom que vai ser rever essa senhora e as magníficas músicas que ela tocou.
- Mas Outubro não nos traz somente o evento da Forja! Para além desse, também no Centro Cultural, ainda podemos ver a exposição do José da Fonte, o Encontro de Coros e um filme português, integrado no ciclo com o mesmo nome. Para além desses, também temos em Lorvão, as Comemorações das Santas Rainhas. Portanto, como vê D. Rosalinda, não há motivos para ir à procura de momentos agradáveis que nos ocupem os tempos livres que temos noutras paragens, porque afinal aqui também os podemos encontrar, só basta procurá-los.
- Ainda bem que assim é Matias, sinal de que Penacova mexe e que, pesar da crise, ainda existem alguns que teimam em se manterem ativos e úteis.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Desabafos de um Outubro quente


- Ai credo, esta sirene não tem parado ultimamente! Chega a um ponto que até irrita.
- Irrita e, pior do que isso, dá arrepios. Principalmente esta aqui de cima, que até parece que está a chorar!  
- Olha menina, dizem que é das ondas de rádio.
- Das quê, das ondas de rádio, então pode lá ser?
- É o que dizem para aí.
- Bem não percebo nada disso, mas que não é normal, isso não. Porque eu nunca ouvi sirene a tocar como esta isso posso jurar que nunca ouvi.
- Nem nos filmes?
- Nem nos filmes!
- Então o que se passa meninas?
- Olha Matias, estamos aqui a falar da sirene, e deste tempo que não há meio de arrefecer!
- Olha minha amiga Celeste, segundo li, o calor vai prolongar-se até quarta-feira. Portanto, ainda poderás ouvir a sirene mais algumas vezes esta semana.
-  Então nunca ouviste dizer que "Outubro quente traz o diabo no ventre"?
- Pois já, e olha que se está a confirmar o provérbio. Mas é uma pena ver os nossos bombeiros dia e noite a tentarem apagar os incêndios que cada vez são mais frequentes.
- Andam numa roda viva. Mas olha que não são todos os bombeiros que se entregam assim à causa. Uns trabalham por outros, como aliás acontece em todo o lado.
- Estavas à espera de quê Natália? Que todos os que lá andam encarassem as coisas da mesma maneira?
- Claro que não! Sempre me lembro-me de ouvir falar daqueles que só vestem a farda quando há festa. 
- Pois também eu ouvi falar, aliás, quem é que não ouviu falar? Mas não são esses que mais se sacrificam e que mais contribuem para que a corporação se mantenha. Portanto já fico contente por existirem alguns que fogem a essa matemática e se entregam à causa da "vida por vida", muitas das vezes com o sacrifício da própria, e sempre com o sacrifício da família.
- Vamos então esperar que as coisas melhorem, que os nossos bombeiros fiquem mais descansados, para assim poderem voltar a frequentar a pensão.
- Pois assim é que se fala Matias! Vamos tratar de arranjar a ceia porque ainda a noite é uma criança e já vejo os hóspedes a ficarem "desapacientados" com a demora da comida.
- Tens razão Natália, vamos a despachar o serviço, porque senão, daqui a um bocado chega aí a D. Rosalinda e depois a coisa tem que andar a correr e olha que eu hoje não estou para correrias, porque este dia arrasou comigo.
- Contigo e comigo, ou pensas que só foi mau para ti? Tenho aqui um joanete que me está a consumir toda. Só quero ver isto acabado para ir para casa descansar.

domingo, 9 de outubro de 2011

Casas, Ilhas e outras Maravilhas

- Então Matias, gostaste da noite de ontem?
- Claro que sim Lúcio! Estiveram muito bem os jovens músicos.
- Gostei da forma teatral como deram início ao espetáculo e da interpretação de alguns temas que já não ouvia há séculos.
-Ah pois foi! Aquela música do "D'artacão", que tantas vezes ouvi quando ainda só existiam dois canais de televisão.
- Não te esqueças onde vais Matias!
(silêncio)
- Então Lúcio, já se sabe alguma coisa?
- Pois, eu sei, mas por quantos?
- O suficiente para manter a maioria, com 25 deputados eleitos! Mas o maior vencedor foi o CDS, com 9, seguido do PS com 6, este sim o grande perdedor.
- Pronto então, ficamos na mesma. Também parecia mal, agora que está quase tudo alaranjado, mudarem de cor. Já bem chegam os Açores.
- A ver vamos Matias, a ver vamos. Agora com a mudança anunciada, nada nos garante que as coisas se mantenham como até aqui. Mas olha, eles que escolham o que acharem melhor para eles. Então e continua lá com o que estavas a contar.
- Ah pois, tens razão. Estava eu a dizer que os jovens músicos tocaram bem.
- Mas o dia de ontem até foi animado por aqui! Durante o dia festa da Casa do Benfica e durante a noite, música pelo Quarteto Maravilha da Casa do Povo. Muito bem, estou admirado!
- Quinteto, qual quarteto!
- Mas só lá estão quatro!
- Então, é um quinteto de quatro! Não, não, estou a brincar, um deles ficou doente e não pôde vir. E é assim Lúcio, o importante é que se vá fazendo alguma coisa, quer agrade ou não a todos.
- Mas com utilidade que se veja, não é Matias?
- Pois claro, não chega só abrir mais um espaço onde se pode beber um copo. É necessário transmitir a força e a dinâmica do clube que representam, pois só assim se justifica um Casa, seja ela do Benfica, do Sporting ou até mesmo do Porto, se bem que este último iniciou há uns anos um processo de criação de uma casa e não se ouviu falar mais nada acerca do assunto. Por isso, se não é para envolver a comunidade, despertar o desportivismo e a vontade de fazer desporto nas pessoas, de nada vale ter uma mais uma Casa.
- Espero que sim, que os responsáveis por esses centros de convívio, mantenham e reforcem a relação com a sociedade, de forma a saírem todos a ganhar, independentemente das cores clubísticas de cada um.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A propósito de Raúl Lino


- Então Alice, que trazes tu na mão?
- Olha Matias, tenho ouvido falar tanto de Raúl Lino nesta terra, que não resisti a comprar o livro que hoje lhe é dedicado em mais coleção do Público.
- E acerca de que é que tens ouvido falar em Penacova, que tenha alguma coisa a ver com Raúl Lino?
- Mas tu não és de cá, ou quê?
- Sou, claro que sou, mas há coisas que mesmo os que cá moram não vêem, apesar de todos os dias por elas passarem.
- Bem, se assim é, as duas únicas coisas que temos da autoria do arquiteto, e que eu conheço, são as duas pérgolas mandadas construir pela Sociedade de Propaganda de Portugal. Uma que fica mesmo encostada aqui à Pensão, e a outra, a maior e mais prazenteira, fica junto à fachada nascente da câmara municipal. De resto, apesar de termos edifícios com arquitetura do Estado Novo, tais como o preventório, as escolas primárias e as casas florestais, não creio que existam outros edifícios, em Penacova, da autoria de Raúl Lino.
- Olha Alice, também não sei se para além das pérgolas (ou pérgulas), existem outros edifícios saídos do lápis do arquiteto, mas fiquei elucidado com a tua explicação.
- Ainda bem Matias! Quanto ao livro, vou colocá-lo junto ao último que adquiri, desta vez na Visão, e que faz parte da coleção "guias dos rios e barragens" na mesinha da sala de estar da pensão.
- Fazes bem Alice! É bom saber que continuas a contribuir para divulgar Penacova e a Pensão, só tenho pena que nesse livro não apareça a "nossa" pérgula. Porém, sinto que não devo defraudar os nossos hóspedes e por isso vou presenteá-los com uma magnífica foto da pérgula maior, como lhe chamaste, captada pela máquina de um admirador da nossa terra, pois se não fosse, nunca conseguiria obter tão bela perspetiva.

[foto]

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Coisas que nos apaziguam


- Óh eng., já ouviu as palavras de encorajamento que o nosso presidente proferiu no discurso do 5 de Outubro?
- Já, por acaso até ouvi! E deixe-me dizer-lhe que houve uma frase que me tocou particularmente.
- Então qual foi?
- Foi aquela que em que ele diz que "se acabaram os tempos de ilusões".
- Confesso que também fiquei a pensar nela. Só espero que o sr. presidente estivesse a falar para dentro dos ministérios, porque se foi cá para fora, já vem atrasado, pois há muito que, infelizmente, todos chegámos a essa conclusão.
- Tem toda a razão Luís, mas mesmo assim não nos vai tirar o prazer de degustar mais um pouco desse magnífico duriense, que tão bem nos está a saber.

A Re(s)pública por aqui

- Então Sebastião, correu bem a apresentação do livro "Penacova e a República na Imprensa Local"?
- Sim Matias, não se pode dizer que correu mal! Um número razoável de espetadores, que estiveram, tanto no hastear da bandeira, como na dita apresentação e que deram a importância digna ao evento, para além dos oradores que também estiveram à altura do acontecimento.
- Mas diga-me, a aceitação do livro foi a que se esperava?
- Bom, se foi a que se esperava não sei, mas que os presentes reagiram com visível satisfação, isso é inegável, para além do facto de todos terem tido direito, a troco de 10 euros, a um livro devidamente dedicado pelo autor.
- Que bom, é disso que Penacova precisa! Alguém que se interesse pela sua história e sobretudo, pela importância que adquiriu ao ser o berço de um dos mais destacados presidentes da república, o único que cumpriu os quatro anos do mandato para o qual tinha sido eleito.
- Tens razão! Ainda bem que vamos tendo alguém que ainda assim se vai interessando pelo imenso património desta terra.
- Perfeitamente de acordo! Só tenho pena que nem todo património seja alvo de intervenções tendentes à sua recuperação, mas como estamos em crise e ela vai servindo para desculpar esses esquecimentos, aproveita-se a penúria para iludir o Povo acerca das prioridades do investimento.
- Pode ser que a partir de agora, se olhe para "esse" tal património esquecido e se invista na sua recuperação, assim fazendo jus ao destino turístico que se pretende que Penacova seja, pondo de parte as décadas de retórica que têm caracterizado o discurso de todos os políticos que até aqui ocuparam os Paços do Concelho.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Queres fiado.....

A conversa desenrola-se à volta da polémica gerada com a cobrança antecipada, por parte do município, das refeições aos alunos do primeiro ciclo. A indignação com que muitos pais encaram a medida, prende-se com o facto de tal atitude visar somente garantir o pagamento das refeições e não com outra qualquer tentativa para aliviar as famílias já de si sobrecarregadas com os aumentos extraordinários dos bens de primeira necessidade.
- Só sei que não vou ter possibilidades de custear o preço das refeições no princípio do mês.
- Então quer dizer que a tua filha não vai comer na escola?
- Não, não se trata disso, só acho que não foram tidas em conta as verdadeiras necessidades das crianças  e dos pais. Onde é que já se viu alguém pagar aquilo que ainda não consumiu?
- Olha Susana, não posso avaliar o impacto da decisão porque não tenho filhos em idade escolar, mas sei que a comissão política do PSD de Penacova veio a público manifestar a sua indignação perante a política de cobrança antecipada das refeições pelo município, alegando que "não hájustificação para que os pais paguem as refeições dos filhos nas escolas porantecipação, independentemente dos dias em que beneficiaram do serviço" para além de a considerarem "de uma enorme injustiça e falta de consideraçãopara com os pais, que tantos sacrifícios fazem actualmente para que os seusfilhos frequentem o ensino."
- Claro que sim Natália! Estou completamente de acordo coma posição tomada por aquela comissão política, até porque a ideia que passa, é a de que, quem não tiver dinheiro não come e essa decisão está a contrariar a solidariedade que deve pautar as políticas educativas do município, as quais devem, isso sim, garantir as refeições às crianças mais carenciadas, independentemente da possibilidade que têm para as pagarem e não agir numa perspetiva unicamente economicista.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Exemplo de Solidariedade

Todos os dias, na cozinha da Pensão, a D. Celeste prepara duas refeições que eu me encarrego de levar a duas pessoas nossas conhecidas as quais, ultimamente, têm passado por graves dificuldades financeiras que as têm impedido de satisfazer as necessidades mais básicas. 
- Estão prontas Matias, podes ir levá-las.
- Certo D. Celeste! Mal acabe de atender o sr. Manuel, tratarei de as levar.
- Levar o quê Matias?
- Olhe sr. Manuel, vou levar duas refeições a duas pessoas nossas conhecidas que não as podem custear.
- Áh sim, aqui também existe esse tipo de carências?
- Nem o sr. imagina quanto! Pessoas que até eu nunca pensei virem algum dia a necessitar, fora aquelas que por aí andam que nós não conhecemos e que já se habituaram a comer à custa do sistema.
- Pois, bem sei, há inúmeros casos iguais a esses por esse país fora. E olhe que são os que mais exigem das entidades que lhes põe o comer na mesa todos os dias, lhes pagam renda, a mercearia, enfim tudo aquilo que nos custa dinheiro e que para eles lhes cai do céu.
- É o estado social no seu melhor sr. Manuel. E assim vamos vivendo, sem prespetivarmos dias melhores!
- E de que maneira meu caro Matias. Mas no que diz respeito à intervenção dos municípios, fique sabendo que o de Penacova, fez publicar hoje em Diário da República, o Regulamento do Fundo de Emergência Social com vista a implementar medidas de apoio a estratos sociais mais desfavorecidos.
- Quer isso dizer que vou deixar de ir levar as refeições às tais pessoas?
- Não necessariamente, mas pelo menos já está criado mais um mecanismo que permite avaliar as verdadeiras carências das pessoas, e sinalizar os casos que necessitam de uma intervenção mais urgente.
- Bom, dessa forma poderão vir a ser identificados novos casos de agregados familiares com dificuldades.
- Sim, esse poderá ser um dos resultados.
- Então, em vez de duas refeições, poderei ter que ir levar muitas mais?
- Não será o caso, meu caro Matias, mas com o agravar da crise a D. Celeste poderá vir a ter pena de muitas outras pessoas vossas conhecidas e dessa forma, aumentar o alcance da sua bondade.

domingo, 2 de outubro de 2011

Entre golos e detenções

- Bom dia sr. Armando, então está de regresso à Pensão?
-É verdade Matias, decidi passar este magnífico dia sentado na esplanada da Pensão.
- Todo o dia sr. Armando?
- Não todo, mas pelo menos o almoço e o lanche passarei concerteza.
- Tem razão Matias, o meu Benfica esteve à altura dos acontecimentos! Foi um excelente vitória!
E por falar em Benfica, queria perguntar-lhe um coisa. Você sabe algo sobre a mudança de instalações do Glorioso?
- Qual, o de cá?
- Sim o de Penacova.
- Olhe sr. Armando, soube há dias que se vão mudar, ou já se mudaram, para aqui ao lado.
- Mesmo ao lado?
- Sim, onde esteve o "Sapatilha" e mais recentemente a "Pastelaria Barca Serrana".
- Problemas com o senhorio?
- Sim, penso que sim, qualquer coisa relacionada com o montante da renda.
- É a crise Matias, é a crise! Quando não há cedência e as coisas se tornam incomportáveis, vale mais mudar, quando há alternativa, logicamente.
- É bem verdade, quando a crise aperta, há que tomar decisões. E o que vai ser para já sr. Armando?
- Pode ser um aperitivo.
- Muito bem sr. Armando, trago já!
Entretanto outros hóspedes chegaram e, tal como o sr. Armando, também eles se sentaram na esplanada da Pensão. Não pude deixar de ouvir o assunto que estavam a discutir. Também eu sou da opinião que se o Isaltino Morais não tinha que ser detido, por ainda se encontrar a decorrer o prazo de recurso da decisão que o condenou a 7 anos de prisão efetiva,  e por isso não percebo porque raio de motivo é que aquela juíza havia de mandar deter o homem?
- Inexperiência, juventude, vontade de mostrar serviço ou até mesmo falta de sentido de responsabilidade. - dizia um dos hóspedes.
- Talvez todas elas. - dizia o outro não menos indignado
Eu, na minha modesta opinião, e só para os meus botões, diria que é um autêntico atestado de incompetência, não só para a nova juíza, mas também para toda a justiça portuguesa.

sábado, 1 de outubro de 2011

Sugestão de Sons

- Quer dizer que a partir de hoje vamos pagar o gás e a eletricidade mais caros, não é verdade Matias?
- É sim sr. Álvaro, a troika assim o impõe e nós, como bons alunos que somos, obedecemos sem pestanejar.
- Mas não devíamos! De todo modo não temos solução.
- E parece que não vai ficar por aí. Segundo o ministro das finanças o próximo orçamento do Estado vai ser terrível.
- Mas sabe sr. Álvaro, todo este clima só contribui para que as pessoas se privem ainda mais. Olhe que não me lembro de haver tão pouca gente aqui na Pensão. Temos os hóspedes habituais que, tal como o sr. ainda conseguem usufruir de grande parte dos serviços que proporcionamos, mas tirando isso, os mais novos apenas ficam pela meia pensão e nunca se instalam por mais do que uma semana, o que só prova que não têm a liquidez dos mais velhos!
- Mas também poupei bastante Matias! Agora, admito que com a minha idade, não é difícil controlar os custos, já sabemos o que queremos e aquilo que devemos gastar para mantermos um nível de vida razoável, agora para aqueles jovens em início de vida, com família, casa para pagar e com todos aquelas "exigências" da nossa sociedade, não é nada fácil conseguirem manter um equilíbrio financeiro desejável sem terem que recorrer ao crédito e aí é que começam as chatices.
- Pois é sr. Álvaro, e eu que o diga! Se a D. Rosalinda não mantivesse a Pensão com a sabedoria de quem já passou por algumas crises, estava desgraçado da minha vida, sem saber o que havia de fazer. O que vale é a qualidade do serviço, e a fidelização dos hóspedes.
- Olhe Matias, por falar em qualidade do serviço, sirva-me um chá de hortelã, com duas torradas barradas com aquela deliciosa geleia de dióspiro que só a Celeste sabe fazer.
- É para já sr. Álvaro e olhe que a geleia deste ano está uma autêntica maravilha!
Entretanto chegavam os hóspedes que ficaram na Pensão para irem ao Lorvão. 
- A que horas começam os "Sons" no Mosteiro?
- Pelo que sei, e de acordo com o publicitado, começas pelas 21 horas, mais coisa menos coisa.
- E garantem transporte para Lorvão?
- Sim, claro! A Pensão tem ao dispor um mini-autocarro para transportar os hóspedes, seja nesta, seja noutras ocasiões, sempre que se verificar necessário.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Exposição em "Séries"


- Então meu caro José vais expor na Biblioteca Municipal?
- Pois é amigo Matias, assim será, durante todo o mês de Outubro.
- Ótimo! Então, já poderei dizer a todos os hóspedes que por aqui estiverem, que se poderão o dirigir à sala de exposições da biblioteca e deliciarem-se com as tuas criações.
- Sim, claro que sim, mas não te esqueças de lhes dizer que a próxima exposição será aqui na Pensão, pelo que se não tiveres oportunidade de a visitar agora, certamente que poderás ver enquanto trabalhas.
- Melhor ainda, pois assim já poderei dizer à D. Rosalinda que mande fazer uns flyers com essa indicação, para colocar nas mesas do bar e aqui na receção.
- Que bom, e não te esqueças de dizer à D. Rosalinda que depois lhe ofereço um exemplar da minha coleção para ela colocar numa das paredes da Pensão.
- Ela vai adorar! E quanto a ti  José, espero que continues a ter grande sucesso.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Passeio inédito, com património exagerado


- Bom dia Matias!
- Bom dia Sr. Luís. Então que me diz da "Noite em Busca do Património"?
- Bem, não sei porque não pude estar presente, mas pelo que vem hoje aqui no jornal, terá sido um a noite e tanto.
- Por acaso até foi, mas também não foi assim como refere esse jornal .
- Ai não! Então conte-me lá como foi.
- Bem, notei que por parte dos protagonistas da noite, aqueles que estiveram trajados a rigor, houve grande a preocupação em se aproximarem o mais possível da realidade da época, agora no que diz respeito à organização do evento, verifiquei que o único local que realmente esteve à altura do evento, foi a Igreja Matriz, todos os outros não foram alvo de preocupação por parte dos organizadores.
- Outros? Que outros locais é que não estavam como deveriam?
- Então olhe, ao fundo das escadas, a fonte que deveria estar iluminada, não estava, a Casa da Freira, repositório de grande parte do património artífice de Penacova, encontrava-se encerrada, ao que soube, por necessitar de obras
- Então e as colchas festivas?
- Olhe Sr. Luís, a única colcha que vi ser pendurada, e à pressa, foi quando o desfile já retornava do Mirante.
- Então, quer dizer, que tudo isto é mentira!
- Não, claro que não, mas não é de todo verdade, pecando até pelo exagero. Não fossem os funcionários municipais estarem presentes, e uns quantos forasteiros terem aparecido, os habitantes contavam-se pelos dedos.
- Ora bolas, e eu a pensar que tinha perdido um grande evento.
- E perdeu, mas não foi tão grande como aí vem descrito, apesar de ter que admitir que a iniciativa foi louvável, por ter sido inédita na nossa terra.
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