quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Brilhos do nosso (des)contentamento

- Então D. Rosalinda, sente-se bem?
- Sim Matias estou bem, apenas um pouco comovida.
- Então porquê, posso saber?
- Sabes Matias, este Dia de Finados põe-me sempre muito ansiosa e triste. Faz-me recordar os que já partiram e sobretudo aqueles de quem eu mais gostava.
- E ainda por cima com o cemitério aqui em frente, todo iluminado, por mais que quisesse dificilmente se esqueceria deste dia.
- Pois é Matias, com esta vista ainda mais difícil se torna! Mas pronto, é sinal que cá estamos e que, apesar de não gostarmos muito, ainda vamos conseguindo viver para ver as coisas boas da vida.
- Quando as temos, não é D. Rosalinda?
- Sim claro, quando as temos. Mas também, deixa-me dizer-te que temos um grande defeito. Quando vemos muita fartura, pensamos logo que os tempos de crise já passaram, e a prova disso está na situação em que nos encontramos. Sabes Matias, sempre me disseram que devemos começar a poupar à boca do saco.
- Mas fique descansada D. Rosalinda, porque parece que as coisas vão melhorar, pelo menos não param de aparecer interessados nas nossas riquezas do subsolo, sinal de que ainda há muito para explorar neste país.
- Bem, no meu tempo de jovem, falava-se que o Salazar sabia da existência de inúmeras riquezas por explorar em Portugal, e que havia de vir o dia em que a sua exploração, nos salvaria de uma eventual crise.
- Pois olhe D. Rosalinda, parece que chegou a hora de começarmos a trocar essas riquezas por algo que nos permita sair deste tormento. Por acaso não há nada assim aqui para estes lados, pois não D. Rosalinda?
- Olha Matias, ouvir dizer uma vez, que há muitos anos, lá para os lados do Mont'alto, alguém enterrou uma pipa cheia de ouro e que só uma cabra branca, a escavar com as patas, a encontraria.
- A sério D. Rosalinda!? Está a falar daquele ouro brilhante, sem ser o dos tolos?
- Não sei de qual é, mas que eu ouvi falar ouvi, agora se é a sério meu rapaz, não te sei dizer. 
- E nunca ninguém tentou encontrá-la?
- Talvez alguns tolos o tenham tentado, mas nunca se ouviu dizer que tivessem encontrado alguma coisa.
- Seria da cabra?
- Penso que não, pois não creio que por falta delas alguém tivesse alguma vez ficado enrascado.

2 comentários:

Sonhador disse...

Grande foto, Pedro Viseu! E os textos como sempre, muita imaginação!

Pedro Viseu disse...

Obrigado António! Tento fazer por isso. Abraço

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