quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A pontaria do voto


O tempo está terrível e ainda por cima há hóspedes que, descuidadamente, colocam o chapéu-de-chuva fora do recipiente, fazendo com que a água se espalhe sem controlo pela recepção. Nem o aviso a sensibilizá-los para essa situação adianta. O que eles querem é entrar depressa na pensão, para se instalarem confortavelmente, sem cuidarem de deixar as coisas como devem ser. Mas enfim, são hóspedes e têm todo o direito de colocarem as coisas como lhes dá mais jeito, sabendo que haverá alguém responsável por repor a  situação.
É a segunda vez que me chamam àquela mesa e ainda não decidiram o que vão querer. Pode ser que seja desta!
- Então o que vão tomar?
- Olhe, estávamos aqui a olhar para estas deliciosas Nevadas e, se calhar, vamos querer duas, acompanhadas por um chá de cidreira, óptimo para nos aquecer neste dia de Inverno.
- Concerteza, vou já pedir.
Entretanto, não pude deixar de reparar num casal jovem que se dirigia para o salão de jogos da pensão. Falavam sobre a necessidade de votarem, ou não, nas eleições presidenciais do próximo dia 23. Ela dizia que não estava com vontade de votar, tão só porque achava que nenhum dos candidatos iria resolver a grave situação do país e, pior do que isso, aqueles que mais probabilidades têm de serem eleitos, são o produto dos nossos 36 anos de democracia.
Disse ainda, que um deles, sempre foi e continua a ser deputado da nação, eleito pelo partido socialista desde o fim da ditadura salazarista, sem que desde então algo de relevante tenha feito e o outro, que já foi ministro das finanças, primeiro-ministro e presidente da república, sem que, por via disso, o nosso país tenha melhorado, antes pelo contrário.
Quase sem palavras, o rapaz tentou defender-se com o argumento de que o voto é necessário para a manutenção da democracia, que muitas pessoas morreram ao defenderem esse direito e que agora os números da abstenção disparam, permitindo que, apenas as forças partidárias que conseguem seduzir os seus militantes, são capazes de conseguir uma base de apoio regular, daí interessar-lhes a abstenção, pois sabem que os que votarem são suficientes para continuarem a garantir-lhes a representatividade necessária no parlamento.
Bem vistas as coisas, tanto um como outro têm razão. Os mais fortes candidatos à presidência, conhecem os meandros da política. Os esquemas e os artifícios que permitem àquela classe continuar a viver de forma opulenta e apenas a pensar manter as receitas, sem se preocupar muito com as despesas.
É triste mas é verdade. Quando um povo não se revê nos seus governantes, a democracia não pode continuar a depender da vontade de uma minoria. Além disso, se a maioria insiste em não votar, permite que sejamos sempre governados pelos mesmos. Por isso, seria desejável que todos os que pudessem fossem votar, sem que obrigados a isso tivessem que ser, apenas porque, só assim, poderão depois dizer que  é “o povo é quem mais ordena”.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O novo ano


Aos poucos começam a chegar. Não estão tão divertidos como estavam quando daqui saíram ontem à noite, mas também não trazem aquele ar carrancudo com que chegaram à pensão. Pelo menos aparentam estar mais libertos, sinal que extravasaram grande parte das suas inquietações.
Este ano não se festejou o fim-de-ano na pensão. Decidiu-se fechar durante este período, uma vez que se achou não estarem ainda reunidas todas as condições para que isso acontecesse. Instalámo-nos há relativamente pouco tempo e a clientela ainda não se apresenta regular, para além de ainda não estarmos em pleno funcionamento, sendo necessário apetrechar a sala e alguns quartos do segundo andar.
Temos que avançar aos poucos, ainda mais num ano que se adivinha difícil e tudo está ainda em suspenso, sem se saber muito bem o real impacto que as duras medidas tomadas pelos nossos governantes para este ano vão ter no bolso dos portugueses. Pelo menos aqui no jornal as perspectivas não se mostram muito animadoras, com cortes em tudo o que é benefício, afecte ou não os mais carenciados.
Para já, contento-me com o espectáculo proporcionado com as ainda frescas imagens dos vários "reveillons" que por todo lado foram acontecendo. Sem dúvida que são um espectáculo bonito de se ver, mesmo que para isso se tenham gasto uns milhares de euros que dariam para aliviar um pouco mais a dura vida de alguns mais carenciados. Mas se assim não fosse, tudo isto pareceria demasiado triste e cinzento, pelo que se perdoa o excesso, esperando que todo esse entusiasmo não se esgote numa só noite.


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