segunda-feira, 10 de setembro de 2007

JULGAR PELAS APARÊNCIAS

Todos os dias, ao serão, os hóspedes que podem estar presentes, fazem questão de se sentarem em frente ao televisor que se encontra na sala de estar da pensão e cuja qualidade e o tamanho do ecrã são suficientemente grandes para proporcionar uma visão magnífica de tudo o que por ele é transmitido.
Se durante o dia todos têm formas diferentes de passar o seu tempo, quer estejam de férias ou não, durante a noite e muito especialmente à hora em que é transmitida a série protagonizada por Hugh Laurie e cujo personagem central é o conhecido Gregory House (Dr. House, como todos lhe chamam), todos se sentam confortavelmente nos sofás, para dali não perderem todo o enredo em que aquela série os envolve.
Aquele homem é tão paradoxal, que tanto é capaz de despertar as maiores paixões como os maiores ódios. É, por assim dizer, aquele médico que todos gostaríamos de ter (só) quando estamos doentes porque quando isso não acontece, é capaz de transformar o indivíduo mais desprezível na nossa melhor companhia.
Pessoalmente, creio que o personagem foi uma criança muito mal amada, vítima de uma disciplina bastante rígida a qual, naturalmente, contribuiu para que a sua maneira de se relacionar com os outros seja aquela que, quem o vê, conhece perfeitamente. Acontece que, e olhando um pouco para a nossa realidade, aquilo que mais se destaca na sociedade em que vivemos, é a forma como uns, no seu dia-a-dia, se relacionam com os outros.
Por norma, a tendência é para bajularmos as pessoas, como boas maneiras e sorrisos disfarçados, para assim conseguirmos alcançar os nossos objectivos. A sociedade funciona dessa forma. As regras existentes têm que ser cumpridas, apreendidas e transmitidas, pois só dessa maneira é que o "todo" funciona e se garante da sua sobrevivência. Quando isso não acontece, e damos de cara com alguém que não esconde os seus sentimentos e a sua maneira de ser, então passamos a estar perante uma pessoa que não interessa e arranjamos logo maneira de lhe dificultar a vida. Esquecemo-nos porém, que esse indivíduo poderá ser um Dr. House em potência, seguro de si e do seu conhecimento, muito mais esclarecido do que aparenta ser, com muito mais capacidade do que aqueles que se riem na nossa cara e depois se mostram incapazes de resolver o problema.
Quero com isto dizer que, todos conhecemos, pelo menos, uma pessoa que, tal como o médico que todos detestam, é incapaz de manifestar a sua hipocrisia, mesmo quando a situação assim o exige. Não consegue vestir a pele de alguém que diz que sim a tudo só para não se chatear e porque, ao agir dessa forma, pensa que consegue levar mais facilmente a água ao seu moinho. Não conseguimos perceber que, por detrás dessa cara feia, desse ar arrogante, desse tom sarcástico e inconveniente, poderá estar, apenas, um grande profissional, altamente qualificado e capaz de arranjar, mesmo que no limite, soluções eficazes e duradouras para os problemas que se lhe apresentam e só não se comporta da maneira que todos esperam porque não está para "embarcar" em representações teatrais que em nada o enriquecem, antes dão uma imagem errada daquilo que realmente é.
Paro, por agora, porque está prestes a começar outro episódio desta magnífica série e eu não quero perder um momento que seja. Só espero que desta vez, não transmitam um episódio repetido, como tem sido hábito ultimamente nas nossas televisões.

2 comentários:

António Luís disse...

Exacto!
Por norma também não perco.
House é de um cinismo brutal, mas de uma competência quase total.
Estou a gostar muito do teu blog.
Força para ele continuar!

recepcionista disse...

Modestamente agradeço o teu (sincero) comentário. Espero que passes um dia pela Pensão Viseu e permitas dialogar sobre um pouco de tudo.

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