segunda-feira, 24 de setembro de 2007

À MESA COM MAGIA

Aquela cara não me era estranha. Pediu para ficar numa mesa junto à janela virada para o rio. Para comer, escolheu o cabrito assado no forno, prato que desde logo aconselhei por saber que a Susana o prepara divinamente.
- Para beber? - perguntei.
- Talvez um "Cabeça de Burro", colheita de 2004. - respondeu.
Acenei afirmativamente com a cabeça e, de imediato, fui preparar o decantador para receber aquele magnífico néctar que as vinhas do Douro nos dão o privilégio de degustar .
Reparei que aquele quase conhecido, tinha um gosto refinado, talvez por estar habituado a frequentar locais onde se serve bem, tanto de comer, como de beber. Modéstia à parte, tenho quase a certeza que a "Pensão Viseu" é o local ideal para quem aprecia um bom prato acompanhado por um bom vinho.
Para as entradas sugeri um polvo em vinagrete ou uns pastéis de bacalhau. Ficou pelos segundos e quase que pedia mais uma doze de quatro, não fosse o pouco tempo que teve que esperar pela refeição que escolheu.
Deixei aquele, quase, forasteiro apreciar a paisagem por entre garfadas demoradas de cabrito e grêlos.
O tempo foi passando, outros foram chegando e perguntando se podiam jantar. Alguns preferiram acomodar-se em primeiro lugar e vestir umas roupas mais adequadas, para depois descerem e instalarem-se numa das (já) poucas mesas disponíveis.
A D. Rosalinda não tirava os olhos daquele que fez questão de tomar a refeição junto à sua janela preferida. Disse igualmente que o conhecia, só que não sabia de onde. Que aquela cara de menino, a fazia lembrar alguém que já viu algumas vezes na televisão, só não lhe vinha à ideia de quem se tratava pois, a televisão faz as pessoas diferentes.
Passada uma boa meia hora, reparei que os talheres já se encontravam na posição que nos transmite o fim da refeição. Então, delicadamente, aproximei-me da mesa e perguntei se pretendia algo mais.
- Olhe - disse -, o que eu realmente pretendia, era poder ver esta maravilhosa paisagem, sempre que estivesse cansado dos meus espectáculos de magia.
Aí fez-se luz, era ele mesmo. Como podia ter sido tão distraído, tinha à minha frente o mágico Luis de Matos.
Muito linsongeado, perguntei-lhe porque razão tinha optado por jantar na pensão e respondeu-me que tinha estado o fim-de-semana na cidade de Coimbra a apresentar a Grande Gala Internacional de Magia e, em conversa com colegas, soube que, em Penacova, existia uma pensão bastante acolhedora, com uma óptima cozinha e ideal para relaxar.
- Olhe Sr. Luis de Matos - disse eu -, quem lhe deu essa informação não o enganou. Provavelmente - continuei - até por cá já passou e, pelos vistos gostou.
- Penso que sim - retorquiu -, penso que já foi hóspede desta pensão e não se enganou quanto à paisagem e quanto à comida.
- Muito obrigado - respondi com orgulho -, fazemos todos os possíveis para agradar.
- Agora - disse -, só preciso de saber onde ir para fazer a digestão deste extraordinário manjar.
- Posso sugerir um passeio até ao Mirante, um local de grande beleza, onde pode apreciar o Mondego e a paisagem que o envolve.
- Óptima ideia, acho que vou aceitar a sugestão. Mas antes disso - disse -, pretendo reservar um quarto, com vista para o rio, onde possa passar esta noite, porque amanhã vou ter que ir para o Norte, para mais uma ronda de espectáculos de magia.
- Assim seja. - disse eu - Quando chegar, terá à sua espera, um dos melhores quartos da pensão.
- Já agora, se me permite - perguntei eu - estaria na disposição de nos presentar com um pouco da sua magia?
- Com todo o prazer. - disse sem um pingo de hipocrisia - Quando chegar do meu passeio, espero encontrar todos os hóspedes no salão para assistirem a uns minutos de ilusão.
Agradeci e, correndo, fui avisar todas as pessoas da surpresa que iriam ter esta noite.

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