quinta-feira, 11 de outubro de 2007

BLASFÉMIAS, BARBARIDADES E OUTRAS REALIDADES

A D. Rosalinda estava muito impressionada com o que tinha ouvido nas notícias das 13 horas, acerca da detenção de 18 indivíduos (presumíveis) autores de cerca de 100 furtos em automóveis e residências em Portugal. Para ela era inadmissível que tal acontecesse, ainda por cima quando os autores daqueles actos de vandalismo tinham idades compreendidas entre os 16 e os 26 anos.
- Aqueles jovens ainda deviam andar na escola - dizia ela - ou, se assim não fosse, a trabalhar para começarem a ter consciência do que custa a vida e do sacrifício que por vezes é, ter que ir trabalhar nos lugares mais indesejáveis e a troco, em alguns casos (mais frequentes do que o desejável), de remunerações que mal chegam para comer.
- Partilho em absoluto da sua indignação D. Rosalinda - disse eu também indignado -, tenho a certeza que, se esses jovens fossem educados de outra maneira, comportar-se-iam de forma diferente.
- De outra maneira como? - perguntou a D. Rosalinda.
- Olhe, por exemplo, da maneira como são educados os adolescentes canadianos. - respondi.
- Mas canadianos porquê? - perguntou sem perceber muito bem.
- Porque são habituados, incentivados e quase obrigados pelos progenitores, a fazerem-se à vida desde cedo para, entre outras coisas, suportarem os encargos dos estudos. - respondi
- Mas como é que o Mário sabe dessas coisas, como é que sabe que os jovens canadianos são educados, desde cedo, a serem responsáveis pela sua formação e pelas suas despesas? - perguntou de novo a D. Rosalinda, ainda não muito convencida de que aquilo que eu dizia correspondia à verdade.
- Muito simplesmente porque, a julgar pelas palavras de alguém que lá esteve e lá viveu durante vários anos, é exactamente isso que se passa. - disse eu -. E mais, D. Rosalinda, das palavras (sempre discutíveis) dessa pessoa, tal comportamento deve-se, essencialmente, ao facto de termos sido educados à luz dos ensinamentos da Igreja Católica.
- Não blasfeme Mário, vejam lá se a Igreja Católica tem alguma coisa a ver com o facto dos rapazes e raparigas andarem para aí a cometer essas "barbaridades". - disse a D. Rosalinda já a ficar um pouco corada.
- Pode ter razão, D. Rosalinda, mas o que é certo é que o indivíduo de quem lhe falo, explica as coisas tão claramente, que somos levados a pensar que ele tem razão. - disse eu, já a tentar baralhar a D. Rosalinda.
- Olhe Mário, não estou como muito tempo para brincadeiras mas, já que falou no assunto, mostre-me lá onde é que foi ler isso para que eu possa dizer algumas coisas a esse Sr. - disse a D. Rosalinda indignada.
- Mostro-lhe como todo o gosto, D. Rosalinda, chegue-se um pouco para aqui e leia. - disse eu, afastando-me um pouco do monitor do computador da recepção da pensão.
E a D. Rosalinda lá começou a ler, fazendo-o em voz alta para não se perder.
"
Nos países de tradição protestante as crianças são educadas desde cedo, na família e na escola, a tornarem-se independentes e auto-suficientes, e essa educação prossegue pela adolescência. Pelo contrário, nos países católicos as crianças são profundamente mimadas na família, essa atitude prossegue na adolescência, com o resultado final de que os jovens ficam até muito tarde, às vezes até à idade adulta, dependentes da família, e ocasionalmente dos amigos."
A certa altura, já com os olhos a arder por não ter colocado os óculos, a D. Rosalinda disse-me para não sair do sítio onde aquele texto se encontrava porque, entendi eu, o seu conteúdo lhe estava a despertar bastante interesse e, quem sabe, a pensar naquilo que poderia fazer em relação à menina Alice, não que ela necessitasse, pois a menina Alice, durante as férias de Verão, trabalhava com afinco na pensão mas, nunca se sabe o porquê do interesse manifestado. Talvez quisesse dar razão ao autor daquele texto mas, não o devia fazer, por causa da religião.

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