quinta-feira, 4 de outubro de 2007

O DIA DO "RIÇAS"

O Riças está connosco desde que, há 10 anos, a D. Rosalinda o encontrou a vaguear pelo Terreiro. Na altura, a menina Alice, que já ia no seu 4º aniversário, manifestou, de imediato, o seu afecto pelo bicho, insistindo com a avó para que o acolhesse na pensão.
De início não foi fácil mantê-lo no espaço que a D. Rosalinda me incumbiu de lhe arranjar. Estava demasiado habituado à liberdade e à ausência de coleira e, não encarava com muita facilidade o facto de ter sentir o seu raio de acção (bastante) limitado. Apenas encarava a pensão com um sítio para comer e não para viver, tal como alguns dos nossos clientes que apenas cá vêm tomar as suas refeições. Não que isso faça deles maus clientes, pelo contrário, alguns até são bem melhores do que certos que cá temos alojados. Mas, voltemos ao Riças.
Mal começou a "frequentar" a pensão e a comer os restos da comida que a Luísa lhe deitava na taça comprada propositadamente para o efeito, logo se tornou "hóspede" permanente, não sei se pelo comer, se pelo conforto das instalações que lhe foram atribuídas.
Quando por todos nós, e muito especialmente pela menina Alice, foi acolhido, não pesaria mais que 6 quilos e, pela aparência, não comia uma refeição "decente" há já alguns dias, pois tal era a forma com que as suas costelas sobressaíam na sua pele rosada e brilhante. Os seu olhos eram tristes mas, ao mesmo tempo, bonitos e negros como a noite. Talvez por isso nos tivesse cativado a todos.
Depois de lavado, escovado, vacinado e microchipado, o veterinário passou a respectiva caderneta de identificação. Dela constava o nome, a (possível) idade e todos os outros elementos relativos às características exteriores do animal. Quanto à raça não houve a mais pequena dúvida, tratava-se de um Cão d'Água Português. Com aquele pêlo comprido e luzidio, todo enrolado e a cair para a frente dos olhos que lhe davam-lhe em aspecto terno e fofo, era concerteza um exemplar de uma das nossas mais conceituadas raças. Quanto à idade, a julgar pelo tamanho dos dentes, pelo tamanho das patas e do crânio, o veterinário "apontou " para os 2 anos. Se fosse humano, teria 22 anos, a julgar por uma das muitas tabelas que podemos consultar na internet.
Com 12 anos já não é necessária a vigilância cerrada que inicialmente se impunha. Já não estraga as pernas das mesas da sala de jantar, já não rói os sapatos ou as pantufas que, distraidamente, os hóspedes deixavam cair dos pés quando se deixavam dormitar no conforto do sofá ou quando, por não quererem estar com os pés apertados durante as refeições, os deixavam cair para debaixo da mesa. Quanto às flores, é melhor nem sequer falar. Os dedos das duas mãos não chegam para contar as vezes que a D. Rosalinda via o seu jardim despedaçado pela necessidade que o Rifas tinha de roer alguma coisa, e que era superior à beleza das plantas e à extrema dedicação que aquela Srª. demonstrava ter, e que tinha, por aquele tão belo e singular espaço de lazer da pensão. Enfim, momentos passados que, olhando para trás, nos deram algumas alegrias e nos ajudaram a passar a monotonia dos dias (não todos) e de algumas noites que, quando ficavam mais frias, ele adorava passar junto à lareira a ouvir a lenha crepitar.
Hoje o Rifas vai ter uma surpresa. A Susana fez questão de pedir ao senhor do talho umas aparas mais bem guarnecidas com carne para lhe oferecer uma refeição especial, não que ele faça anos, mas tão simplesmente, porque se comemora o dia Mundial do Animal.

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