sábado, 13 de outubro de 2007

SENSAÇÕES (DE)GUSTATIVAS

Já passava das 17 horas quando vejo a atravessar a porta da pensão, uma elegante Srª, com cabelos pretos e de média estatura. Na mão esquerda trazia uma imprescindível "necessaire" e na direita, uma mala trolley, semi-rígida, bastante útil e funcional para quem viaja.
Sem qualquer estupefacção encarei com naturalidade a situação, ou não fosse este sítio uma pensão.
A Srª. entrou, deslocou-se até à recepção onde eu me encontrava e, tirando os óculos escuros que lhe escondiam os olhos grandes e negros, perguntou se podia falar com a D. Rosalinda.
- E quem devo anunciar? - perguntei.
- Diga-lhe por favor que é alguém que respondeu a um anúncio para ocupar um lugar de chefe de sala da pensão.
Muito surpreendido, pedi que se sentasse e que aguardasse um pouco enquanto procurava a D. Rosalinda e, muito educadamente, aquela Srª. aguardou junto à recepção.
Pelo caminho, pensava que, finalmente, e após várias insistências, a D. Rosalinda lá tinha aceite que, a qualidade do serviço que se pretende prestar na pensão tem que acompanhar a evolução dos tempos, a bem da qualidade e da concorrência.
Desci à cozinha, procurei no 1º andar e no escritório e, por fim, no jardim onde a D. Rosalinda se encontrava a cuidar das suas rosas preferidas.
- D. Rosalinda, finalmente encontrei-a. - disse eu.
- Credo Mário, você vem ofegante, que raio de bicho lhe mordeu? - perguntou.
- Não foi bicho nenhum D. Rosalinda, apenas lhe venho dizer que se encontra na recepção, a Srª. que respondeu ao anúncio para chefe de sala. - respondi.
- Mas....a Cristina disse que apenas viria amanhã à noite e por isso andava para aqui descansada!!! - disse a D. Rosalinda muito admirada.
- Pois é, mas a Srª. chegou hoje e está à sua espera por isso, não deve demorar-se. - disse eu já de volta à recepção.
- Olhe Mário, leve a Srª. Cristina até ao escritório, sirva-lhe algo, ponha-a à vontade que eu estarei lá num minuto. - disse a Dª. Rosalinda colocando a tesoura de poda na caixa de jardinagem e limpando as mãos sujas de terra ao avental.
Foi o que fiz logo que regressei à recepção. Disse à Srª Cristina para me acompanhar ao escritório, onde iria aguardar pela D. Rosalinda e servi-lhe, tal como me pediu, uma água sem gás, natural.
A notícia depressa se espalhou pela pensão.
A menina Alice gostou de saber da nova contratação, pois podia aprofundar o seu gosto pelas coisas (boas) da restauração, a Luísa encarou com (alguma) indiferença a chegada da nova colega, já a Susana não viu com bons olhos a contratação de uma pessoa que, a partir de dali, poderia interferir no seu trabalho, pois é sobejamente conhecida no meio, a rivalidade entre o chefe de cozinha e o chefe de sala mas, como tratei de lhe explicar, isso são coisas do passado e, tendo em conta que a Susana é uma excelente profissional, depressa entenderá que ambas se vão completar, a bem do serviço a prestar pela pensão. Quanto a mim, e tendo em conta a extrema necessidade em contratar alguém que, além de se preocupar com a conjugação entre os aromas e os paladares das refeições, também recomendasse, provasse, servisse e garantisse a boa qualidade e a adequada temperatura dos vinhos e das outras bebidas que servimos, achei muito oportuna a decisão da D. Rosalinda. Assim, conseguimos garantir a manutenção de uma boa clientela e, principalmente, fazemos com que outros, igualmente bons, nos visitem, e fiquem também eles nossos clientes, uma espécie de turismo gastronómico. Além disso, a não ser que me engane, fiquei com a sensação que me vou dar muito bem com a nova aquisição.

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