terça-feira, 9 de outubro de 2007

PASTOR, PRIOR E DITADOR

"É uma herança salazarista, esta ideia que nós temos da necessidade de um líder", lia no jornal Expresso.
- Deixa-nos a pensar, esta coisa do salazarismo. - dizia eu em voz alta
- O quê? - perguntou o Paulo
- Nada - disse eu -, estava só aqui a ler, pedaços de uma entrevista que Manuel Jacinto Nunes deu ao Expresso através da jornalista Fernanda Pargana.
- Também li essa entrevista - disse o Paulo -, ele diz que "Sócrates está a gozar de um prestígio que resulta dessa mentalidade", característica dos portugueses.
- Direi eu que, nesta legislatura, Sócrates é o pastor, o prior e o ditador do povo português. - disse
- O resto são comunistas. - disse Paulo
- Exactamente - disse eu -, é um discurso que já muitas vezes foi ouvido e que, quanto a mim, só se tem quando há contestação, quando existem pessoas que pouco ou nada têm para comer, crianças com frio e desnutridas, vítimas das errâncias humanas e da frieza da sociedade.
- Eu não sou comunista. - disse o Paulo
- Eu também não. Embora de esquerda, não me identifico muito com a rigidez do Partido Comunista, contudo, considero-o indispensável, senão essencial, a qualquer democracia. - disse a Paulo
- Mas não haja dúvida que o povo português gosta que haja alguém que tome conta dele, que lhe prepare a reforma, a saúde, o ensino e, na maior parte das vezes, queixa-se que a vida está cara, mas não dispensa um ida ao futebol, uma ida ao centro comercial. Mesmo barato, acaba sempre por trazer alguma coisa. - disse o Paulo
- Nem que seja o balde das pipocas que ainda podemos comprar, com a possibilidade de poder escolher (só) a cor. - disse-lhe de caminho gracejando
- É, não damos hipóteses. Quem nos der fado, fátima e futebol, dá-nos tudo. - retorquiu Paulo bebendo mais um trago de whisky novo e macio.
Depois, ainda falámos da vitória do Benfica e do penalti, que dizem ter sido inventado, para o Porto (como se fosse necessário). Enfim, coisas do futebol.
Também falámos de fátima e dos milhões que foram gastos na nova basílica para, claro, demonstrar a influência na igreja católica na nossa sociedade e, a reboque, acabámos por falar da "abertura" de Sócrates, à possibilidade (re)negociar com a igreja, o estatuto das capelanias hospitalares.
Sem nos alongarmos muito, ainda tivemos tempo de falar no azar de Lewis Hamilton, no grande prémio da China, e do interesse que isso vai trazer ao, já de si interessante, mundial de fórmula 1.
Depois de tudo isso, e já com tudo fechado, despedimo-nos com os votos de uma boa noite.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...