quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CANTORIA DA LEGALIDADE

- Avó, posso fazer-te uma pergunta?
- Claro que sim minha filha.
- Achas que a menina Esmeralda vai ficar bem o pai biológico?
- Bom minha querida, as crianças devem estar sempre com os pais, biológicos ou não, desde que eles as eduquem, não as maltratem e nem delas abusem.
- Então, nesse caso posso concluir que concordas com a decisão do tribunal?
- Se estiver de acordo com a legalidade, sim, concordo.
- É interessante essa coisa da legalidade... Quer dizer então,
que os sentimentos das pessoas, aos olhos da Lei, pouco importam, não é?
- Olha minha querida, eu não sou jurista, mas acho que, se todas as pessoas tivessem a oportunidade de considerar de sua propriedade um ser humano que, biologicamente, sabem não lhes pertencer, creio que estaria aberto um precedente.
- Desse modo, o caso da pequena Esmeralda pode servir de exemplo?
- Sim, talvez para prevenir situações futuras.
- Olha avó, queria perguntar-te outra coisa.
- Hoje estás muito perguntadeira, o que queres saber?
- Achas que os meus pais vêm cá este Natal?
- Olha minha filha, espero que no Natal e no Fim-de-Ano.
- Estou com muitas saudades deles, dos carinhos do papá e da mamã....
- Está descansada que virão, aliás, como sempre fazem.
- Espero por eles a toda a hora.
- Também eu minha filha, também eu.....e por falar em hora, não achas que já devias estar na cama?
- Já é tarde, tens razão avó, mas ainda tenho que ir treinar um pouco a minha voz.
- Oh filha, olha que amanhã tens que te levantar cedo e, além disso, sabes como fica a Luísa quando tu a acordas com as tuas cantorias.
- Mas avó, a actuação é no Sábado às 21 horas e, começo a ficar nervosa.
- Não te preocupes com isso porque, até lá, ainda vais ter muito tempo, além disso estás a ficar constipada e tens que ir para a cama logo depois de beberes o leite quente com mel.
- Tens razão avó, acho que vou mas é descansar.
- Mas olha, se cantares, canta só para ti.
- Está bem avó, um beijo.
I

3 comentários:

Anónimo disse...

Eis duas reflexões que poderão a formar uma opinião.

REFLEXÃO 1

a) Gostava de saber qual é o homem minimamente sensato que aceitaria a paternidade só porque a mãe da criança, com a qual teve uma relação ocasional lhe diz que vai ser pai;
b) Como veio várias vezes referido na comunicação social, o pai da menina requereu a sua guarda ao Tribunal, logo três dias depois de ter sido notificado da paternidade, pelo que essa acção estaria já antecipadamente preparada;
c) Muitas vezes o casal que tem tido a criança à sua guarda têm sido apelidados de pais, o que é até um abuso de linguagem. Ao casal nem sequer foi concedida a adopção, a qual carecia de autorização do pai, que nunca a deu por razões óbvias;
d) Se o casal tivesse tido em consideração o interesse da criança teria chegado facilmente à conclusão que o pai era a pessoa mais indicada para ficar com a menina, teria acatado as ordens do Tribunal;
e) O casal que tem tido a menina à sua guarda não tem acatado as ordens do Tribunal e não a entregou ao pai, conforme a determinação do Tribunal, o qual também não foi capaz de fazer cumprir a sua ordem e desde então passaram vários anos, por isso a menina tem hoje 5 anos;
f) Qualquer criança está sujeita a um drama semelhante, de deixar de repente os seus pais e passar a viver com outras pessoas, por exemplo se os pais forem vítimas de um acidente de automóvel e ambos morrerem;
g) Com o passar do tempo a Esmeralda irá compreender a situação e não lhe vai faltar informação sobre o assunto. Será que vai concordar com o rapto, a que esteve sujeita e que a impediu de ter vivido sempre com o seu verdadeiro pai que a queria?
h) O pai tem sido impedido de exercer o poder paternal que lhe foi atribuído por sentença do Tribunal, parece-me que tem por isso direito a uma reparação monetária. Quem vai pagar?

REFLEXÃO 2

Ainda não há muito tempo foi julgada no norte do país uma mulher que raptou uma criança recém-nascida numa maternidade e tratou irrepreensivelmente dela durante cerca de um ano. Para aquela criança aquela mulher era a sua mãe e teve que mudar de família.
A raptora tratou muito bem a menina e tem uma situação económica muito mais confortável do que a verdadeira mãe que é pobre, tem vários filhos e até já tinha dado um irmão mais velho para adopção. Lá por isso ninguém ousaria defender que a criança deveria ficar com aquela mulher porque seria melhor prá criança.
Poderá argumentar que a menina a que me refiro tem apenas um ano enquanto que a Esmeralda tem cinco. Então se o rapto só tivesse sido descoberto passados cinco anos também seria conveniente que a menina permanecesse com a raptora POR RISCO DE TRAUMA E NO INTERESSE DA CRIANÇA?

Este país está louco!

recepcionista disse...

Sem dúvida duas pertinentes reflexões.

Anónimo disse...

...antes de mais quero dar os parabens ao autor do comentário anterior,pela forma justa,imparcial e esclarecedora da situação; depois dizer que esse dito sargento se fosse realmente militar de corpo e alma,á muito que deveria ter pedido a reforma,pois os seus actos afectam e poderão ser confundidos com uma instituiçao centenária que se pauta por principios e defesa de direitos e deveres fundamentais do homem.mais pela linha de ideias desses pseudo-pais,só os ricos e poderosos é que tem direito a ter filhos,já que os pobres provavelmente não dão condições dignas ás suas crianças! para terminar e já que assumi uma postura parcial deixo as seguintes questões:
1) o amor dado a um filho avalia-se em dinheiro?onde é que se pode comprar esse amor?
2)será que os principios de cidadania e justiça são apenas aplicados pelos mais endinheirados?
3)porque é que a amizade e o espirito de entre-ajuda é mais notado nas aldeias e vilas do interior?tem mais poder economico?
...bom...já vai longo o comentário...mas...mais longo é o sofrimento do 'verdadeiro' pai da menina,que sem poder, sem dinheiro,com dificuldades de expressão,de conhecimentos,sem lobbies de apoio,aguarda serenamente,sem prevaricar,por algo que mais do que lhe pertencer,é parte de si,do seu ser...haverá algo mais forte do que o amor a nós e aos nossos?

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