quinta-feira, 1 de novembro de 2007

DE BRAÇO DADO

Como católica praticante que é, a D. Rosalinda não deixa passar este dia sem que, pelos cemitérios vá visitar a última morada daqueles que lhe foram mais queridos. Levava consigo a menina Alice para, segundo diz, "lhe mostrar onde jazem os seu familiares", claro que a menina Alice não ligará muito a estas coisas dos adultos, para ela tudo isto tem o significado que tem para uma menina de 14 anos. Sabe que os cemitérios ficam todos iluminados, que as sepulturas ficam todas enfeitadas mas, também sabe, que ao lado desse bonito sentimento, também há quem ganhe imenso dinheiro. Aliás, não é só ela que é dessa opinião, eu também considero que este dia é extremamente lucrativo para todos aqueles que vendem flores e velas. Mais uma vez a religião é um negócio.
Seja por altura dos Santos, seja por altura da Páscoa ou do Natal ou até mesmo por altura das peregrinações, todos os comerciantes esfregam as mãos de contentes porque sabem que essas épocas são boas para o negócio. Não quero, como é natural, questionar a fé das pessoas até porque todos temos a nossa fé porém, ter muita fé também faz mal, à carteira pelo menos, e nestas alturas os mais devotos, não se privam de abrir os cordões à bolsa. Gostam de olhar para as suas coisas e achá-las mais bonitas do que as do vizinho, nem que para isso tenham que exagerar na dose e no gosto.
Só de pensar que nas grandes superfícies comerciais, os comerciantes, ávidos de clientes e com a corda na garganta por não ganharem para renda, além de já estarem a fazer os saldos de Inverno, já decoraram as suas montras com motivos alusivos ao Natal, de Dezembro, claro, pois não conheço outro.
As crianças quando passam, já vão dizendo aos pais que brinquedo é que preferem, não encarando sequer a hipótese de poder vir a ser outro que não aquele. Para elas o Natal já não é Natal, mas sim natal, assim como a Páscoa já não é Páscoa, mas sim páscoa e nem os casamentos fogem à regra. Portanto, o dia dos Santos já não será o dia dos Santos, mas sim o dia em que se compram umas velas grandes e vermelhas (de preferência) e o dia em que se compram as mais bonitas flores com os mais bonitos bouquets para colocar em cima de uma pedra igualmente linda e cara para assim lembrar os que já não estão entre nós, nem ali nem em lado algum. Deste modo, não sei qual dos dois resistirá isoladamente, se o negócio sem a religião, se a religião sem o negócio.
Talvez ambos vivam em função um do outro e, por ser tão ténue a fronteira entre eles, fica a dúvida se o Deus (deles) não será o capital e a Religião (deles) o dinheiro.

1 comentário:

A. João Soares disse...

Está bem colocada a tónica no binómio religião-dinheiro. O que nos descreve não é religião, quando muito é crendice. A religião é uma comunicação interior, discreta com Deus, ou algo que se considera o Criador do Universo. As manifestações exteriores, os rituais, são uma exacerbação de vaidades, ostentação de riqueza, competição pelas manifestações de fé. Os comerciantes exploram , e estão no seu papel, esta bacoquice dos incrédulos. Para eles, sem qualquer necessidade de justificação, o que conta é o volume de facturação e os lucros obtidos.
É impressionante o valor das obras de arte, em jazigos existente em muitos cemitérios. Com que finalidade? Só a ostentação de riqueza o justifica. A competição pelo top social.
Abraço

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