segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

MÍSCAROS COM ENTRECOSTO

- E a confusão ontem na feira da Espinheira?
- Deixe-me aqui D. Rosalinda. Quando vi aqueles homens todos encapuzados, com armas a tiracolo a apontar para toda a gente, confesso que fiquei de tal maneira apavorada que só me apeteceu largar tudo e vir embora.
- Mas oh Luísa, tu não achas que todo aquele aparato foi desnecessário?
- Claro que acho D. Rosalinda. Se andassem à procura de terroristas ou de indivíduos violentos ou de criminosos evadidos, ainda se compreendia, agora, chegar ali naquele preparo, a querer assustar toda a gente, só por causa de material contrafeito, acho que foi muito exagerado por parte da ASAE. Por causa disso acabei por não comprar umas calças de ganga ao meu António e o último CD do Toni Carreira, tudo por 15 euros.
- Pois minha cara, foi exactamente por causa disso que eles lá foram.
- Mas D. Rosalinda, umas calças de ganga parecidas com aquelas que eu queria comprar, não custam menos de 50 euros e o CD do meu Toni, não o trago para casa por menos de 15 euros, por isso, vale a pena aproveitar.
Nisto, chega Xavier à recepção. É um indivíduo pacato, pouco falador, e metido consigo, apenas sai do seu "casulo" quando falam do seu Benfica que, por sinal, não foi muito bafejado pela sorte neste fim-de-semana que passou.
- É assim a vida caro Xavier, quem não marca sofre.
- Pois é Mário, mas para castigo, haviam de receber o ordenado mínimo durante dois meses para saberem o que custa a vida.
- E tu Xavier, quanto é que ganhas por mês?
- Pouco mais que 500 euros.
- E mesmo assim, ainda foste ao Estádio da Luz ver o teu Benfica.
- Bem...., sabes como é, um homem não se pode privar de tudo.
- E também fumas, gostas de beber o teu copinho com os amigos e além disso a tua mulher está desempregada.
- Sabes que um homem não é de ferro Mário.
- Claro que sei Xavier, como também sei que esses vícios todos, aos quais tu (legitimamente) tens direito porque não és de ferro, não te ficam nada baratos.
- Claro que não, só quem tem dinheiro é que tem vícios.
- Mas os teus filhos andam um bocadito mal vestidos e, segundo me consta, as refeições lá em casa não são nada por aí além. Além disso deves 2 meses de renda à D. Rosalinda que, ao que tudo indica, vão passar a três.
- Olha Mário, eu não vim aqui para receber lições de moral, nem para que tu me lembres aquilo que eu devo e que posso vir a dever, por isso, aponta aí o meu "favaios" que eu vou-me embora.
E saiu disparado pela porta fora, sem pagar o "favaios" e, ainda por cima, a vociferar acerca da minha pessoa.
Parece que já o estou a ver a chegar a casa e a correr toda a gente à bofetada e ao pontapé, sem receio que dele façam queixa porque, nestes pequenos meios, "entre marido e mulher, ainda há quem não meta a colher".
- E tu Paulo, está aí há muito tempo?
- Olha meu caro, há tempo suficiente para ver que te ficaram a dever um "favaios".
- Aquele rapaz não tem emenda.
- Nem adianta estares com isso preocupado. Então e o Chávez?
- Lá levou por tabela, sinal que o povo ainda não esqueceu que aconteceu recentemente no Chile.
- E o que está a acontecer em Cuba.
- Mas mesmo assim, aquela derrota ainda não o convenceu.
- Não duvides Mário, vais ver que daqui a uns tempos vai voltar à carga.
- Na Rússia foi o esperado, com o Putin a vencer confortavelmente os seus opositores, apesar das alegadas irregularidades e das manifestações de força que antecederam as eleições.
- De lamentar meu caro Mário, de lamentar que os opositores continuem a ser calados tal como acontecia no tempo da U.R.S.S.
- Tens razão Paulo só que neste caso, é um silenciamento democrático.
- Olha, sabes uma coisa, apetece-me um "favaios", mas desta vez a pagar.
- Acompanho-te Mário, para ver se fico mais relaxado, porque o apetite já cá tenho. Sabes o que é que a Susana preparou para o jantar?
- Arroz de Míscaros, com entrecosto.
- Jura?
- A sério, só que de viveiro, claro.
- Pois, bem sei, mas ao menos servem para matar saudades daqueles que tu e eu íamos apanhar por esses pinhais fora, fossem amarelos ou pretos.
- Velhos tempos Paulo, mas desde que começaram a plantar eucaliptos por todo o lado, sem qualquer tipo de coerência, desapareceram essas e outra maravilhas que a terra nos dava.
- É o progresso meu caro.
- Claro que é o progresso, mas o progresso também não pode servir de desculpa para tudo. Não ouviste o que disse ontem o Sr. Arquitecto acerca do caos urbanístico que tomou conta de Penacova?
- E tem toda a razão, só quem manda não quer saber disso, constroiem-se depois ficam para aí às moscas como aquele edifício que foi construído junto à "Fonte do Castanheiro".
- E nas "Malhadas" também. Naquela zona só se vêm imóveis edificados em total desencontro com os já existentes e em desrespeito pela harmonia paisagística.
I

1 comentário:

Anónimo disse...

...ou como aquele junto ao 'Penedo Raso'.
...ou como aquele junto ao 'Penedo Castro'.

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