sexta-feira, 30 de maio de 2008

Património da juventude

I
- De regresso à Pensão Jaime?
- É verdade Mário, de vez em quando perco-me por aqui.
- Mas perdeste-te por alguma coisa em especial ou apenas por ter tido saudades da terrinha?
- Olha Mário, pelas duas coisas. Aproveitei o facto de, durante este fim-de-semana, decorrer em Penacova a Festa da Juventude e, não nego, também um pouco de saudade desta terra, paisagísticamente, maravilhosa.
- Fizeste muito bem em optar por Penacova este fim-de-semana, porque a coisa promete. A D. Rosalinda é que não vai gostar muito do barulho mas, paciência, porque sem barulho não se faz nada, não achas?
- Caro amigo, Festas da Juventude sem barulho, são impossíveis de acontecer seja em que parte do mundo for!!!
- A Susana está boa?
- Sim, está tudo bem, a Susana, a Luísa, a Cristina, a menina Alice. Muita saúde e, acima de tudo, o negócio não tem corrido mal, apesar da crise.
- Pois, a crise é geral. Greves por todo o lado, preços exorbitantes, salários medíocres, enfim, o costume.
- Parece que, apesar das constantes lutas por uma melhor qualidade de vida, não evoluímos nada, não achas? As pessoas continuam com os mesmos problemas de falta de liquidez, precariedade no trabalho, deficiente assistência médica e tantas outras coisas, que diariamente nos incomodam, e nos fazem andar sem disposição nenhuma para alegrias.
- Olha Mário, não me apetece falar de tristezas. Queria perguntar-te uma coisa.
- Força Jaime, desembucha.
- Li no Notícias de Penacova que o Mirante Emídio da Silva faz 100 anos?
- Pois, parece que sim, mas é só amanhã. Também viste aquelas fotografias?
- Magníficas, mas eu gostaria de oferecer uma outra fotografia, que encontrei no baú do meu avô, e que poderá ficar pendurada na parede da Pensão para celebrar esse acontecimento.
- Por mim acho óptima ideia, mas tens primeiro que falar com a D. Rosalinda.
- Claro que sim Mário!!! Aliás até posso falar já, uma vez que ela se dirige para aqui.
- Olha que rapagão que cá está?
- Bons olhos a vejam D. Rosalinda, a senhora está com bom aspecto!!!
- Tu é que vês mal Jaime, o que eu estou é cada vez mais velha, isso sim.
- Não está nada D. Rosalinda, está é mais sábia.
- Muito obrigada pelo lisonjeio. Fico muito agradecida.
- Olhe D. Rosalinda, antes de falarmos sobre outras coisas, gostaria que a senhora aceitasse um presente meu.
- Um presente? Adoro presentes!!! Então de que se trata?
- Bom D. Rosalinda, como eu sei que a senhora gosta de ver expostas fotografias sobre Penacova, quer sejam antigas ou actuais, trouxe-lhe uma que, no fundo, servirá para celebrar os 100 anos do Mirante.
- Mostra cá Jaime. Olha, nunca a tinha visto o Mirante desta perspectiva!!! E dizes tu que vai quê, fazer 100 anos?
- É verdade D. Rosalinda. Foi inaugurado no dia 31 de Maio de 1908.
- Bom, nesse caso, vou mesmo aceitar o teu presente para pendurar na parede. Só é pena que os responsáveis pela promoção, divulgação e conservação do nosso património, não se tenham lembrado dessa efeméride na nossa terra e, em vez disso, façam uma festa cheia de barulho, mesmo ao pé da nossa porta.
- Olhe D. Rosalinda, mas também é preciso haver eventos dessa natureza na nossa vila. É sinal que está viva.
- Sabes Mário, só é pena que o Dr. Araújo já não viva em Penacova.
- Então porquê D. Rosalinda?
- Porque, ao mínimo barulho no Terreiro, chamava a G.N.R. e acabava logo com a festa.
- Então, se assim é, ainda bem que ele foi viver para Oliveira do Mondego...
I

terça-feira, 27 de maio de 2008

ACONTECEU

- Foi realmente um pena.
- Pois foi D. Rosalinda, principalmente porque era uma pessoa muito divertida que, quando entrava pela cozinha da Pensão, começava logo a contar aquelas estórias divertidas que se passaram com ele.
- Lembras-te Susana, quando ele contava aquela do pousio e do catrapanázio?
- Se lembro D. Rosalinda. Era uma cobra que era dona de um terreno, ou uma coisa assim parecida!!! E quando íamos de táxi a Coimbra às compras e ele conhecia toda a gente por quem passava?
-E todos o cumprimentavam também. Era mais uma das pessoas divertidas que nos deixou para sempre.
- Olhe D. Rosalinda, o que eu costumo dizer quando isto acontece, é que ficam os bons momentos que em vida passámos e as recordações com que ficámos.
- É verdade Susana, costuma-se dizer que "a vida são umas férias que a morte nos dá".
- E é bem verdade D. Rosalinda porque, afinal, não valemos nada e, neste mundo, devemos andar sem nos chatearmos uns com os outros porque a nossa passagem por aqui é demasiado curta.
- Estão falar de quê afinal?
- Olha Mário, estamos a recordar aquelas coisas engraçadas que o Sr. Alípio Costa dizia.
- Então porquê?
- Não ouviste os sinais?
- Claro que ouvi, mas estava tão atarefado com as minhas ocupações que nem tive curiosidade em saber quem foi.
- Pois faleceu hoje.
- Que pena, era bom homem e gostava de fazer os outros felizes com aquelas estórias que contava que pareciam saídas de um filme do Mr. Bean.
- Pois era Mário, contava aquelas coisas com uma graça que era impossível não rirmos às gargalhadas.
- Olha Susana, fica a memória das coisas boas.
- Era exactamente disso que estávamos a falar.
- O funeral é quando?
- Creio que é amanhã às 18 horas.
- Vou fazer os possíveis para o acompanhar na última morada.
- Sim, é o mínimo que podemos fazer.

domingo, 25 de maio de 2008

O DITO POR NÃO DITO

- Boa tarde senhor, dá-me licença?
- Concerteza meu caro, faça favor. Então, o que o traz por aqui?
- Sabe senhor, eu sou funcionário da autarquia e vim aqui tentar corrigir um equívoco.
- Diga lá então.
- Há dias, a propósito do Parque Patrimonial do Mondego, foi aqui dito por alguém que os funcionários da autarquia andavam a despejar o limpa-fossas directamente no rio.
- E é falso meu caro?
- Completamente falso. O que se tem acontecido é muito simples de explicar. Desde que recomeçaram as obras do LIDL são inúmeros os limpa-fossas que se dirigem ao rio para abastecer de água a fim de manter limpa a estrada utilizada pelos camiões que, como sabe, está toda enlameada por causa da chuva que tem caído.
- Ah, agora compreendo, o que parecia ser um despejo, é afinal um abastecimento, não é verdade?
- Exactamente.
- Então e por tal motivo deslocou-se o senhor aqui à Pensão para desfazer tal equívoco.
- É verdade, e olhe que o meu chefe está muito chateado com essa insinuação.
- Diga ao seu chefe que está tudo esclarecido e que tal equívoco não volta acontecer. Mas diga-me cá outra coisa. Não é verdade que há uns tempos o conteúdo dos limpa-fossas era despejado em pinhais e até no próprio rio?
- Sim, nos pinhais eram despejados, mas só a pedido dos donos, e no rio também acontecia mas não me lembro há quanto tempo, em que sítios, nem quantas vezes.
- Então, não foi tão descabida a conclusão que se tirou quando os limpa-fossas foram vistos junto ao rio, não é verdade?
- Sim é possível tirar essa conclusão, mas juro-lhe que isso não acontece há muito tempo, pois as normas que regem o ambiente, são totalmente respeitadas.
- Então, nesse caso, onde é que despejam?
- Nas E.T.A.R's, pois então!!!
- Ainda bem que assim é, e que agora estamos bem melhor esclarecidos acerca do destino que é dado a tal efluente. Agora meu caro, uma vez que estamos perfeitamente elucidados e que tudo não passou de um mal-entendido, diga-me se vai tomar alguma coisa.
- Olhe senhor, só se for um tintito.
- Lamento meu caro, mas na Pensão não servimos vinho à taça.

LUTAS DE VIDA

- Arrepiei-me toda D. Rosalinda, foi uma coisa nunca vista...
- Estás a falar de quê rapariga?
- Do festival da canção, do que é que havia de ser?
- Olha Luísa, nem sequer estava a pensar em tal coisa, mas também eu me arrepiei. Há muito tempo que não se ouvia canção tão bonita a representar Portugal.
- Também acho D. Rosalina, ainda bem que houve a Operação Triunfo para descobrir todas as bonitas vozes que por este país cantam.
- Olha Luísa, a julgar pelo resultado, continuamos a ser um país pequeno de grandes cantores. Por muito bonita que seja a canção que nos vai representar, ficamos sempre aquém das (nossas) expectativas.
- Deixe lá D. Rosalinda, ao menos vamos lá e mostramos a nossa raça!!!
- Pois pois Luísa, o que nos vale é a nossa raça.
- Olhe D. Rosalinda, vem aí a menina Alice e eu aproveitou para ir andando para o andar de cima arrumar os quartos.
- Vai lá Luísa que é quase meio-dia e ainda tens muito que fazer. Então minha filha, dormiste bem?
- Mais ou menos avó. Com esta chuva toda a noite a cair, não consegui pregar olho.
- Dormes durante a tarde Alice.
- Olha Avó, quero perguntar-te uma coisa, conheceste o Dr. Homero Pimentel?
- Claro que conheci. Todos em Penacova com a minha idade e com a idade do teu pai, conheceram o Dr. Homero. Uns como professor, outros como pessoa boa que era.
- Pois devia ser um boa pessoa, para darem o seu nome à rua junto das escolas.
- Junto às escolas cuja construção ele iniciou, convém frisar, porque foi ele que há trinta e tal anos colocou a primeira pedra no edifício onde hoje funciona o ciclo.
- Ainda bem que a nossa terra reconhece os seu filhos e, principalmente, aqueles que por ela fizeram algo de relevante.
- Não será bem assim mas, no caso concreto, acaba por ser uma justa homenagem o que não quer dizer que todas o tenham sido ou até mesmo que todos aqueles que por Penacova alguma coisa fizeram, tenham sido homenageados.
- Pois avó, mas para esses fica a memória daqueles que fazem questão de não os deixar esquecer. Quanto aos outros, se não houver quem tome a iniciativa de lhes prestar o justo reconhecimento, acabam por cair no esquecimento.
- É a vida Alice. Às vezes, mais do que todos desejariam, os que mais fizeram por uma nobre causa, são os ficam esquecidos, ou porque se tornaram incomódos em demasia ou porque, os que cá ficaram, não souberam, ou não lhes foi permitido, lutarem por esse reconhecimento.
- Olha Avó, a propósito disso estava aqui a ler um poema de Brecht que nos faz pensar precisamente na importância da obra das pessoas que nunca abandonam o objectivo pelo qual lutam durante toda a vida.
- Então Alice, porque esperas?
- Aqui vai avó:
Há homens que lutam uma hora e são bons,
Há homens que lutam um ano e são melhores,
Há homens que lutam muitos anos e são muito melhores,
Mas há homens que lutam toda a vida: Esses são os imprescindíveis.
I

quarta-feira, 21 de maio de 2008

BONITAS MULHERES SEM POLITIQUICES

- Então rapaz, bom olhos te vejam!!!
- É verdade Mário, há algum tempo que não passava por aqui.
- Tens andado ocupado?
- Muito ocupado meu caro, tenho que andar de um lado para o outro, todos os dias sem parar, e por isso não tem sido fácil dispor de algum tempo para passar por aqui e conversar contigo.
- Pois, imagino que não seja fácil. E a vida corre?
- Tem que correr, apesar da crise, o dinheiro não se ganha se ficarmos em casa, se bem que, ao preço que estão as coisas, não compensa muito andar de um lado para outro a tentar ganhar algo mais.
- Está terrível esta vida, não está Luís?
- Se está Mário, então a julgar pelo preço dos combustíveis que não para de aumentar.
- Olha amigo, mais vale não pensar nisso porque senão não saímos de casa e tu bem sabes que em casa não ganhamos dinheiro.
- Pois está bem, mas também não o gastamos.
- Falemos de coisas mais alegres. Por cá está tudo bem?
- Olha amigo, tivemos um fim-de-semana em cheio. Um desfile de moda e um festival de fanfarras.
- Fogo, tanta coisa em dois dias?
- É verdade Luís e digo-te uma coisa, não imaginas as beldades que por aqui temos.
- Nem tu imaginas o quanto eu imagino Mário. Sei muito bem que Penacova é uma terra de bonitas mulheres que, quando se cuidam, ficam tão bonitas como qualquer modelo de capa de revista.
- E este fim-de-semana, vai haver alguma coisa por aqui?
- Claro que vai, ultimamente tem sido uma coisa fora do comum. Todos os fins-de-semana há qualquer coisa nas diversas localidades do nosso concelho e este não é excepção.
- Então conta lá.
- Olha amigo, a partir de amanhã, vai ter lugar em Lorvão a Feira de Artes e Cultura que se vai prolongar até Domingo.
- Bom, nesse caso, vou ficar por aqui mais uns dias e aproveitar para visitar a vila do mosteiro.
- Se ficares por cá, vais ter a oportunidade de assistir ao IV Encontro de Coros na Casa do Povo.
- Ena pá, tanta coisa em quatro dias!!!!
- É para tu veres. Não há fome que não dê em fartura.
- É sinal que a sociedade está activa e a funcionar e que as colectividades demonstram ter capacidade para organizar eventos interessantes.
- Sem politiquices.
- Exactamente. Apenas com objectivo de valorizar a terra onde vivem e contribuir para preservar o património que a todos pertence.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

COMPARAÇÕES DE MERDA

- Desculpe Sr. Joaquim mas, como bem sabe, é proibido fumar em recintos fechados.
- Tem razão Mário mas, perante a notícia hoje tornada pública, a proibição afinal pode ser contornada.
- Pois é meu caro Joaquim, mas apenas por ministros.
- Então quer dizer que se o Sr. Sócrates e o Sr. Pinho entrassem pela pensão dentro de cigarro na boca, o meu amigo até lhe ia levar o cinzeiro, não era?
- Bem, o cinzeiro não lhe levaria mas, provavelmente ficava um bocado embaraçado.
- Mas tinha que, pelo menos, fazer algum reparo.
- Poderia, por exemplo, começar a limpar os avisos que se encontram nas várias salas da pensão, assim como quem não quer a coisa mas sempre a querê-la.
-Já percebi Mário. Você limitava-se a provocar um situação que os alertasse para a infracção que estavam a cometer.
- Exacto.
- Então porque é que eu não tenho o mesmo tipo de tratamento?
- Então meu caro Joaquim, é fácil de perceber porquê.
- Vá, diga lá.
- Muito simplesmente porque o nosso primeiro-ministro não entraria na pensão a fumar um cigarro mas sim um charuto e, por tal motivo, as regras a aplicar seriam outras uma vez que se tratava de algo que, pelas suas características, não podia ser comparado a um simples cigarro.
- Olhe Mário, sabe uma coisa?
- Diga Joaquim.
- Vá à MERDA.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

GUERRA DAS CAPELINHAS

- Conta-me cá Leonardo. Tu, que foste polícia, achas que foi boa a escolha de Almeida Rodrigues para director nacional da Polícia Judiciária?
- Acho que sim Mário, até acho que já devia ter sido assim há muito tempo.
- Mas normalmente quem é investido nesse cargo, é um magistrado judicial ou do ministério público.
- Pois, assim tem sido e se calhar é por causa disso que os problemas teimam em não ser resolvidos.
- E achas que agora vão desaparecer de um dia para o outro?
- Isso não direi Mário, mas sou da opinião que poderá ser uma boa solução para, pelo menos, restituir à polícia judiciária o estatuto de que sempre gozou.
- Sim, na verdade a PJ sempre foi a menina dos olhos do ministério da justiça e sempre foi tida como uma das melhores do mundo, do tipo que resolvia os casos mais bicudos e aparentemente irresolúveis.
- Olha Mário, eu creio que o grande problema da PJ foi não ter conseguido lidar com as vozes que se levantaram contra o método utilizado no caso Madeleine. Até ali nunca tinham sido questionados porque os resultados iam aparecendo de forma positiva, sem muito mediatismo, sempre com a prata da casa, obtendo confissões alegadamente à força, enfim, tudo na maior das tranquilidades. Depois do caso da menina McCann, as coisas nunca mais foram iguais.
- Sim Leonardo, também me apercebi que eles não estavam muito à vontade para esclarecer as dúvidas, quer dos advogados dos pais da menina quer dos jornalistas e dos peritos ingleses.
- Por tudo isso amigo Mário, por acharem que não tinham que prestar esclarecimentos a ninguém é que se começaram aperceber que não eram assim tão infalíveis e depois disso, começaram a aparecer os pontos mais fracos daquela polícia, com a substituição dos responsáveis pela investigação, enfim uma grande trapalhada.
- E achas que vai resolver alguma coisa?
- Acho que sim Mário, mas para mim o ideal era que todos pertencessem a um só organismo, tutelado por um só ministério.
- Tal como defendia o Alípio Ribeiro?
- Exactamente!!! Assim acabavam as capelinhas e todos trabalhavam para o mesmo sem andarem a esconder as coisas uns dos outros e a ver a quem é que cabe fazer isto ou aquilo.
- E sempre à custa dos contribuintes...
- Claro, como se os problemas do dia-a-dia não bastassem para nos incomodar, ainda temos que andar preocupados em saber se as polícias desempenham convenientemente o papel para que foram criadas.
- Olha amigo, vamos mudar de assunto e beber mais uma imperial, acompanhada por um pires de tremoços da Luz para desanuviar um pouco e para arranjar apetite para o jantar.

terça-feira, 6 de maio de 2008

DESPUDORADAMENTE EMBRIAGADOS

O Riças andava extremamente inquieto, não parando de se coçar e de lamber aquelas partes que só os cães gostam de lamber despudoradamente, como se não soubessem o significado do termo, ou talvez por isso mesmo.
Com o tímido chegar do tempo quente, a esplanada já acolhia os hóspedes que adoravam apreciar a vista sobre o Mondego.
Uns eram ingleses, outros finlandeses, alguns espanhóis e outros portugueses. Por norma, nem uns nem outros gostam de exagerar no consumo de bebidas alcoólicas, não que às vezes não lhes apeteça mas, ao olharem para o aspecto respeitável da pensão, logo pensam duas vezes antes de iniciarem uma viagem com um regresso quase sempre conhecido mas esquecido. Em todo o caso a D. Rosalinda fez questão de me advertir da necessidade de "controlar" os casais com filhos pequenos, para a eventualidade de cometerem alguns excessos do tipo daquele que aconteceu em Vilamoura.
I
- Oh D. Rosalinda, fique descansada que ao primeiro sinal de embriaguez vou logo direito à pessoa na tentativa de a dissuadir de tal comportamento.
- Fazes bem Mário, não quero cá crianças embaraçadas a olhar para os pais embriagados.
- Sabe uma coisa D. Rosalinda, os papéis parece estarem a inverter-se.
- Achas Mário?
- Claro que sim D. Rosalinda. Se até aqui eram os pais que ficavam embaraçados com o comportamento dos filhos agora são os filhos que ficam embaraçados com o comportamento dos pais.
- Tens toda a razão Mário. Parece que à medida que crescem ficam mais irresponsáveis.
- É do stress D. Rosalinda.
-Bom, hoje em dia o stress é desculpa para tudo.
- Para quase tudo D. Rosalinda, porque para a estupidez e para a irresponsabilidade não é desculpa concerteza.
- Olha Mário, cá para mim a culpa principal é do alcoól.
- Como assim D. Rosalinda?
- Então, se eles não beberem não fazem asneiras.
- E se calhar também não vinham para Portugal?
- És capaz de ter razão Mário mas, pelo sim e pelo não, vai deitando o olho àquele casal de inglês com os dois meninos que estão na mesa 9 da esplanada.
- E se eles se portarem mal?
- Nesse caso tens que ser tu a levá-los para a cama.
- E os meninos?
- Chamas a Luísa que ela leva-os para a cozinha onde, com a Susana, tratará muito bem deles.
- Eu vi logo que ia sobrar para mim. A partir de agora só bebem água ou cerveja que não embebede.

sábado, 3 de maio de 2008

ESPIRITUALIDADES

- D. Rosalinda, então que cara é essa?
- Olha Mário é cara de cansada....Sabes que vir a pé desde a "Rotunda da Roda" e depois estar ali em pé uma data de tempo já não é bem para a minha idade, não achas?
- Bom D. Rosalinda, costuma-se dizer que quem corre por gosto não cansa...
- Pois está bem, já sei, mas não tenho tempo para essas conversas pois tenho que ir para a cama descansar as pernas.
- Faz bem D. Rosalinda, daqui a nada vou fazer o mesmo porque a noite está fresca demais para estarmos lá fora na esplanada.
- Então, fica cá dentro e vê se chegam clientes.
- É o que vou fazer D. Rosalinda. Durma bem!!!
- Até amanhã para vocês os dois.
- Até amanhã D. Rosalinda - responderam em uníssono.
- Esteve muita gente no Terreiro esta noite, não esteve Mário?
- Se esteve Luís!!! Dúvidas não existam de que este padre sabe cativar os católicos da nossa terra...
- Soube unir o rebanho, queres tu dizer.
- Sim, pode ser visto dessa maneira, mas também é certo que o rebanho necessitava de outro pastor.
- Olha meu caro Luís, nunca gostei muito dessas coisas de rebanho, parece que cada um não sabe tomar conta de si.
- Pelos vistos, a julgar pela quantidade de pessoas que lá estavam!!!
- Pois tens razão amigo, mas o que eu acho estranho, e até difícil de aceitar, é que a igreja na nossa terra é a única "organização" que consegue atrair o interesse das pessoas a ponto de reunir num só espaço uma quantidade significativa de fiéis.
- Isso só acontece porque as outras "organizações" da nossa terra, não estão reunidas à volta de um interesse comum e talvez por isso não sejam tão atraentes aos olhos dos que procuram algo mais para além dos problemas do dia-a-dia muitas das vezes tão extenuantes.
- Estás então a dizer que todos aqueles que lá estavam, faziam-no apenas pela busca do conforto e da paz de espírito, do reencontro com Cristo, despojados das riquezas aparentes, da vaidade, da hipocrisia ou até mesmo da avareza ou da mentira?
- Bem....não direi que toda a gente estivesse lá imbuída desse espírito mas, pelo menos um devia estar.
- Quem?
- O Sr. Padre, pois claro.

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