domingo, 25 de maio de 2008

LUTAS DE VIDA

- Arrepiei-me toda D. Rosalinda, foi uma coisa nunca vista...
- Estás a falar de quê rapariga?
- Do festival da canção, do que é que havia de ser?
- Olha Luísa, nem sequer estava a pensar em tal coisa, mas também eu me arrepiei. Há muito tempo que não se ouvia canção tão bonita a representar Portugal.
- Também acho D. Rosalina, ainda bem que houve a Operação Triunfo para descobrir todas as bonitas vozes que por este país cantam.
- Olha Luísa, a julgar pelo resultado, continuamos a ser um país pequeno de grandes cantores. Por muito bonita que seja a canção que nos vai representar, ficamos sempre aquém das (nossas) expectativas.
- Deixe lá D. Rosalinda, ao menos vamos lá e mostramos a nossa raça!!!
- Pois pois Luísa, o que nos vale é a nossa raça.
- Olhe D. Rosalinda, vem aí a menina Alice e eu aproveitou para ir andando para o andar de cima arrumar os quartos.
- Vai lá Luísa que é quase meio-dia e ainda tens muito que fazer. Então minha filha, dormiste bem?
- Mais ou menos avó. Com esta chuva toda a noite a cair, não consegui pregar olho.
- Dormes durante a tarde Alice.
- Olha Avó, quero perguntar-te uma coisa, conheceste o Dr. Homero Pimentel?
- Claro que conheci. Todos em Penacova com a minha idade e com a idade do teu pai, conheceram o Dr. Homero. Uns como professor, outros como pessoa boa que era.
- Pois devia ser um boa pessoa, para darem o seu nome à rua junto das escolas.
- Junto às escolas cuja construção ele iniciou, convém frisar, porque foi ele que há trinta e tal anos colocou a primeira pedra no edifício onde hoje funciona o ciclo.
- Ainda bem que a nossa terra reconhece os seu filhos e, principalmente, aqueles que por ela fizeram algo de relevante.
- Não será bem assim mas, no caso concreto, acaba por ser uma justa homenagem o que não quer dizer que todas o tenham sido ou até mesmo que todos aqueles que por Penacova alguma coisa fizeram, tenham sido homenageados.
- Pois avó, mas para esses fica a memória daqueles que fazem questão de não os deixar esquecer. Quanto aos outros, se não houver quem tome a iniciativa de lhes prestar o justo reconhecimento, acabam por cair no esquecimento.
- É a vida Alice. Às vezes, mais do que todos desejariam, os que mais fizeram por uma nobre causa, são os ficam esquecidos, ou porque se tornaram incomódos em demasia ou porque, os que cá ficaram, não souberam, ou não lhes foi permitido, lutarem por esse reconhecimento.
- Olha Avó, a propósito disso estava aqui a ler um poema de Brecht que nos faz pensar precisamente na importância da obra das pessoas que nunca abandonam o objectivo pelo qual lutam durante toda a vida.
- Então Alice, porque esperas?
- Aqui vai avó:
Há homens que lutam uma hora e são bons,
Há homens que lutam um ano e são melhores,
Há homens que lutam muitos anos e são muito melhores,
Mas há homens que lutam toda a vida: Esses são os imprescindíveis.
I

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