quarta-feira, 21 de abril de 2010

Predisposição típica



O jantar tinha acabado de ser servido. O pato estufado estava com um aspecto magnífico!
Depois de ler a carta de vinhos pediu um Quinta dos Termos, Selecção Tinto da colheita de 2007. 
- Boa escolha! - pensei eu - De facto tudo parecia combinar. Na televisão passava a Grande Reportagem. Existe corrupção em Portugal e não se pense que é menos ou mais importante que nos outros lados, é exactamente igual. Com os mesmos contornos e com a mesma precisão. Os protagonistas podem ser diferentes mas o código de conduta é o mesmo para todos, ou seja, não existe!
-Todos sabemos que o crime compensa....
- Mas é disso mesmo que eles estão a falar. Só com grande espírito de missão e com uma fé inabalável nos valores de uma sociedade justa é que alguém se dispõe a denunciar casos de corrupção.
- E é que vão desde o maior ao mais pequeno!
- Claro que sim! É tipo uma máfia, com violência e extorsão à mistura. Esquemas que a todos passam despercebidos, ou por puro desconhecimento, ou então simplesmente porque não é nada connosco.
- Nos meios pequenos não se passa tanto. As coisas acabam por se saber todas rapidamente. Mas nas cidades, ou perto delas, já funciona de diferente maneira.
- Tens razão, é tudo em ponto grande.
- E muita gente disponível. E nos sítios com muita gente com muito dinheiro em jogo, as tentações são maiores.
- E depois todos querem  ter boa vida sem trabalhar. Querem bons carros, grandes casas, viagens para todo o lado, tudo do bom e do melhor. Enfim, anda meio mundo a enganar outro meio.
- Mas agora está pior!
- Claro, não há dinheiro para nada.
- E as previsões não apontam para melhorias, apesar de Cavaco ter vindo dizer que a coisa não está assim tão má.
- Então, é a única coisa que ele deve dizer. Não ia à televisão dizer que isto está mau, que devemos todos preparar-se para o pior.
- Pois não, claro que não podia! Tu já viste o que é que seria?
- Vira essa boca para lá. Nem quero imaginar no que iria acontecer!!
- Mas isso é um mal que afecta toda a gente. As pessoas têm que ter liquidez suficiente para consumir aquilo que uma sociedade de consumo produz, senão o mercado não funciona. E não funcionando, tudo pára. Os stocks aumentam, as coisas não se vendem, as fábricas fecham por não haver quem compre, o desemprego aumenta ainda mais e tudo acaba por se transformar numa autêntica crise social, onde a maior parte se vê privada de rendimentos que permita ter uma vida com dignidade.
- E olha que uma crise social não vinha mesmo nada a calhar neste momento!
- Nem neste nem noutro. Mas digo-te uma coisa, se os governos não derem prioridade às pessoas, as coisas podem ficar demasiado tensas e dificilmente controláveis.
- Nesse caso a corrupção acaba por contribuir para dar aos menos abonados a possibilidade de também eles se aproximarem mais um bocadinho dos que tem muito.
- E mais facilmente num país onde a corrupção é quase sempre encarada como um comportamento natural de quem tem o poder de decidir.
- Sobretudo se for supostamente perpetrada em benefício de uma comunidade ou por alguém cuja reputação nunca foi contestada, muito pelo contrário.
- Portanto, se durante todo um percurso de sucesso, houver a tentação de aproveitamento da situação em benefício próprio, inferior ao proveito de todo um conjunto de interesses, apesar da condenação,  é considerado perfeitamente normal.
- Por isso é que se torna muito difícil de combater o fenómeno da corrupção. Há um ou outro caso que escapa e se torna numa verdadeira dor de cabeça, mas no geral as coisas acabam sempre por acontecer.
- Além disso, convém não esquecer que somos portugueses, muito dados ao improviso e à solução imediata, por vezes mais onerosa, mas com aquele sabor a pequena vitória do tipo "já te lixei" ou “já enganei outro”.
- E sempre à espera da gorjeta, da ajuda financeira do Estado, da oportunidade para ganhar uns cobres sem declara porque "o Estado é um ladrão" e "são todos uns comedores".
- Somo tipicamente latinos. Parece que nascemos no meio de tudo e não pertencemos a nada. Conseguimos ser invariavelmente aqueles a quem puxam sempre as orelhas.




sábado, 17 de abril de 2010

Chá com bolos


A hora do chá na Pensão é óptima para restaurar energias. A sala é aberta para todos os que pretendam lanchar confortavelmente. Para os hóspedes que ainda não conhecem os doces tradicionais de Penacova, temos o prazer de os propor como acompanhamento. Para os que nos visitam habitualmente, não necessitamos sequer de os sugerir.
De quando em vez, abrimos algumas excepções e podemos optar por sugerir outros doces que por algum motivo nos chame a atenção ou que nos sejam indicados por um ou outro hóspede habitual.
- Continuo a achar que nada se compara às Nevadas.
- Eu também concordo contigo, mas temos que nos ir adaptando à realidade. E essa realidade é aquilo com que temos de contar. Por isso, devemos tentar ver como é que funciona.
- Mas tu já viste o preço de cada um? É uma exorbitância!
- Pois é, mas por isso mesmo é que se vendem...
- Achas?
- Não imagino!!!
- Nem eu, mas tenho a certeza que, daqueles que para cá vêm, nenhum fica por vender. Põe uma coisa na cabeça, na sociedade em que vivemos, as coisas caras vendem-se sempre.
- Quer dizer então que vais deixar estar.
- Claro.
- E as Nevadas?
- Já te disse que Nevadas são Nevadas. Portanto, não há comparação possível. Quem vem para comprar Nevadas não compra outra coisa.
- Em princípio...
- Pois. Mas olha que não me importava nada que vendessem Nevadas numa boa pastelaria de Lisboa.
- Nem eu, pois claro.
- Então. não vejo qual o inconveniente em ter para os hóspedes uns cupcakes fresquinhos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um dia de cada vez



- Está, por assim dizer, instalado o caos nos aeroportos europeus, não é verdade Matias?
- E de que maneira sr. Luís. A quantidade de cinzas vulcânicas que por acção dos ventos se foram espalhando pela Europa, levaram ao cancelamento de inúmeros vôos, com os consequentes atrasos. Só aqui na Pensão, 20 por cento dos hóspedes não conseguiram chegar a tempo de se alojarem quando pretendiam. Esperemos que consigam fazê-lo amanhã.
- Não sei Matias, a julgar pelas notícias que nos vão chegando, não se perspectivam melhoras no estado do tempo, na próximas 48 horas.
- Se assim for, a coisa vai complicar-se ainda mais. Não quero sequer imaginar como vai ficar a D. Rosalinda quando souber que a situação se vai manter durante mais dois dias.
- A natureza é assim Matias. Nada a consegue controlar por muito tempo. Quando terminam os “ciclos”, as coisas começam a alterar-se para depois voltarem a estabilizar durante centenas ou milhares de anos.
- Ciclos sr. Luís, que ciclos?
- Os ciclos que marcaram a evolução geológica do nosso planeta e que causaram profundas alterações, tanto a nível morfológico como a nível biológico.
- Mas isso é um bocado assustador, não acha? Faz-me lembrar aquela profecia dos Maias que aponta para 2012 o fim do mundo.
- Sim, essa é uma das muitas teorias que têm atormentado o ser humano. Mas há outra de Leonardo da Vinci que aponta para 4006, portanto, vá-se lá saber quem tem razão.
- Essa última é bem mais simpática. Pelo menos já nos permite pensar num futuro mais longo.
- Pois é Matias, mas temos que ter sempre presente que catástrofes naturais vão existir sempre, com todas as perdas que delas advêm, sejam elas materiais ou humanas.
- Olhe sr. Luís, para mim tudo isso é um pouco assustador, mas não creio que venha a concretizar-se. Já viu as consequências que tinha para todos nós?
- E achas que a natureza está preocupada com isso Matias? Pensas que o homem consegue controlar a sua fúria?
- Obviamente que não sr. Luís, basta vermos o que aconteceu recentemente na Madeira ou na China, em que, em minutos, tudo desapareceu.
- Ora aí está Matias. Se tiver que acontecer acontecerá. O que eu faço é viver um dia de cada vez, sem estar muito preocupado com esse tipo de profecias. Sou da opinião que o mundo acaba todos os dias para milhares de pessoas, conhecidas ou não, e que se acontecer algo que modifique radicalmente as coisas que nós conhecemos, então pegarei na máquina fotográfica e captarei imagens dessa nova realidade.
- Mas isso acontecerá se por acaso o sr. Luís sobreviver!
- Obviamente Matias.
- E se as coisas não acontecerem com espera que aconteçam?
- Nesse caso, como te disse, continuarei a viver um dia de cada vez.
I

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os problemas do (v)Bento


A conversa que os dois hóspedes, que se encontravam sentados na mesa que está ao pé da sacada, estavam a ter era tão interessante, que nem eu próprio tive coragem de a interromper, apesar de ter indicações expressas que deveria fazê-lo logo que se sentassem, pois não era hábito da Pensão fazer esperar desnecessariamente os hóspedes.
- Quer dizer que agora vais mesmo ver o papa.
- O papa, porquê!?
- Então, porque o governo vai dar tolerância de ponto nesse dia a todos os funcionários públicos.
- E o que é que te leva a pensar que eu vou ver o papa.
- Nada me leva a pensar que isso vai acontecer, mas certamente irás aproveitar a folga para, pelo menos, ires passear com a família.
- Estás enganado quanto a isso. Se realmente houver tolerância de ponto nesse dia, garanto-te que não vou ver para nenhum.
- Mas deves.
- Não devo nada porque nem sequer me revejo nesse senhor.
- Então devias ir trabalhar em vez de gozar tal tolerância.
- Nada disso meu caro, vou aproveitar essa benesse que tem como objectivo permitir que os féis se desloquem a ver o supra sumo da igreja católica e como eu não me incluo nesse grupo, não lhe devo qualquer tipo de obediência. Além disso, e mesmo que eventualmente me sentisse nessa obrigação moral, depois de ter lido, ouvido e observado acerca do envolvimento do clero em questões relacionadas com a pedofilia e a homossexualidade, não me sentia minimamente motivado para ir ver desfilar quem quer que fosse da igreja católica.
- O que eu condeno acima de tudo é a forma como foi encarada toda a situação. Em primeiro lugar, depois de detectado o problema, procurou-se não dar muita às consequências que o mesmo poderia trazer às vítimas de abusos, depois os casos aumentaram de número e mesmo assim manteve-se a política do silêncio, como se os actos praticados não constituíssem um crime hediondo, por último assiste-se por parte das hierarquias da igreja católica a um esforço em tentar transformar uma questão de polícia numa coisa sem grande importância, procurando com outros assuntos, como o aborto por exemplo, desviar a atenção dos fieis do problema.
- E como se não bastasse, ainda se atrevem a vir dizer que “muitos psicólogos e psiquiatras mostram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros revelam que existe uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, tudo isto para tentarem afastar a ideia de que o celibato dos padres não aumenta a tendência para a pedofilia.
- Acho uma grande estupidez andarem a tentar explicar o inexplicável, mas quanto a essas declarações e tendo em conta as reacções que entretanto ocorreram, o Vaticano já veio “esclarecer” as declarações do seu secretário.
- Éh, para por água na fervura, como tão bem sabem fazer.
- Mas a coisa não fica por aí.
- Então?
- Já há quem queira deter o papa quando ele for ao Reino Unido.
- Mas isso nunca irá acontecer porque poderia desencadear uma onda de vingança contra todo o clero o que, naturalmente, não é de todo desejável que aconteça, até porque não é razoável julgar a parte pelo todo.
- Mas o problema é que essa parte é também responsável pela educação religiosa de cerca de 1/6 população mundial, que é o número de fiéis com que conta actualmente a igreja católica o que, convenhamos, é muita gente.
- Olha, sabes uma coisa?
- Não, diz lá.
- Eu acabava com o problema que era um instante.
- Então como?
- Começava por acabar com celibato, para que os padres soubessem dar o devido valor à família e ao matrimónio, experimentando também eles serem maridos e pais sem terem que andar por aí quase às escondidas com as “irmãs” e depois entregava todos os prevaricadores à polícia para que fossem julgados pelas leis dos homens e não continuassem impunes a coberto das leis de Deus.
- Com toda essa convicção para resolver um problema bastante antigo, tenho a certeza que até Ele ficava contente com o teu despacho.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A hora de (continuar a) pagar



- Eu sabia que iria sobrar para nós.
- Estás a falar sozinho Luís?
- Olha Joaquim, estava aqui a olhar para as notícias e a lamentar o facto de também nós termos que contribuir para ajudar a Grécia a suportar o estado caótico em que se encontram as suas contas públicas.
- E é muito dinheiro?
- Bem, segundo aqui se pode ler, são 73 euros por português.
- E para quando é que está programado esse pagamento?
- Não te preocupes que nem vais sentir que estás a pagar.
- Mas há uma coisa que eu não estou a perceber,
- Qual?
- Então, ainda há dois meses disseram que Portugal e Grécia estavam em situações semelhantes e agora vamos ter que contribuir para resolver o problema deles? E quem é que nos resolve o nosso?
- Os gregos não são de certeza!!!
- Mas está mal, alguém nos devia ajudar neste momento de dificuldades.
- Aprende uma coisa Luís, a partir do momento em que entrámos para a Europa, assumimos os prejuízos e os lucros daí decorrentes, por isso, aquilo que recebemos durante estes anos todos vai ser pago mais tarde ou mais cedo.
- Isso eu sei, mas não estava à espera que acontecesse tão cedo.
- Pois, é para tu veres que quando se está no mesmo barco, devemos remar em sintonia e sempre na expectativa de que quando começar a correr mal, os pequenos são sempre os primeiros a sofrer as consequências. Por isso, vale mais não nos cegar-mos com a hipotéticas facilidades e nos resumir-mos à nossa situação de país periférico e totalmente dependente.
- Uma coisa te garanto, se fosse hoje acho que emigrava para o Luxemburgo.
- Para o Luxemburgo, então porquê?
- Olha, acho que é um país simpático e onde vivem muitos portugueses.
- Pois, mas para tua informação, cada luxemburguês contribui com 157 euros para ajudar a Grécia.
- Bom, nesse caso, prefiro ficar por aqui. Além disso não creio que lá exista a Pensão Viseu.
- Vês, pelo menos aqui ainda tens com quem desabafar. Se por acaso mudasses de país, não terias a oportunidade de sentir o prazer de contribuíres para a recuperação económica de um governo gastador.

Inebriante


Finalmente o sol decidiu aparecer. Quase que parece um fim-de-semana de Verão. Estava-se mesmo bem na esplanada da Pensão, tão bem que não havia uma única mesa vaga, pois os hóspedes, mal almoçaram, foram de imediato para lá. Os que não conheciam ficaram deslumbrados com a vista sobre o vale do Mondego. Os que se tornaram hóspedes assíduos da Pensão, estavam como se estivessem em casa e cultivavam a cordialidade com os que, pela primeira vez, tiveram a oportunidade de desfrutar tal beleza, na sombra proporcionada por esta pérgola delineada por Raúl Lino.
- É bom para o negócio Matias. Vai-te habituando à confusão porque de Verão vai ser todos os dias assim.
- O meu tio Mário já tinha contado como eram os dias de Verão na Pensão. Muitos hóspedes, muitos amigos de longos anos e as noites que reservavam sempre alguma surpresa.
- E tinha razão o teu tio. É muito agradável o Verão na Pensão. Olha Matias, vai lá fora ver o que quer o hóspede da mesa 7.
- É para já D. Rosalinda. O sr. vai desejar mais alguma coisa?
- Basta-me este cheiro que me inebria. Este aroma que perfuma o ar é um bálsamo para qualquer pessoa. São fantásticas estas Glicínias.
- Estão aqui há cerca de 90 anos e ambas estão catalogadas como árvores de interesse público.
- Isso é óptimo!!! Será que também farão parte das comemorações do dia internacional dos monumentos e sítios?
- Bom, isso aí já não sei mas pela lógica penso que deviam, quanto mais não fosse uma breve referência.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Um sítio especial


O regresso do tempo quente tem destas coisas. Um passeio à noite pelas ruas da vila, dão prazer a qualquer um, sobretudo àqueles que o fizeram pela primeira vez. A iluminação amarela favorece o percurso pelas ruas estreitas da parte mais antiga da vila, emprestando-lhe um ar mais acolhedor.
É agradável passear à noite! Tão agradável que alguns hóspedes fazem questão de fotografar os sítios de que mais gostam.
- Desta vai ter que me arranjar uma cópia para colocar num sítio especial da Pensão!
- E que sítio é esse, posso saber?
- Então, basta olhar à sua volta e verificar de que sítio especial se trata.
- Bom, o que vejo são várias fotografias de Penacova penduradas nas paredes da Pensão, logo, presumo que seja nelas que pretende pendurar a cópia que me está a pedir.
- Exactamente! É numa dessas paredes que a pretendo pendurar, para dar seguimento a uma tradição da Pensão.
- Que é?....
- Cada hóspede da Pensão que queira deixar um testemunho fotográfico da sua passagem por Penacova pode, e deve, fazê-lo, entregando a mim directamente ou ao Matias. Depois, serão afixadas em função da sua beleza ou oportunidade.
- Quer dizer então que gostou desta fotografia, não é?
- Gostei bastante! Principalmente por mostrar um dos monumentos de Penacova que, após de já ter sido colocado em três lugares diferentes, parece que finalmente está onde deveria ter estado sempre.
- Olhe que gostei bastante da forma como o colocaram e sobretudo da disposição das luzes que o iluminam.
- De facto favorece-o bastante. Por acaso sabe que foi construido em 1909.
- Bem sei. Deu para ver a data que tinha inscrita. Faz 101 anos este ano.
- Precisamente!
- E não houve festa de aniversário?
- Não, Penacova não tem cultivado muito o hábito de preservar e respeitar os monumentos que tem. Salvo raras excepções, tem-se verificado um abandono quase total de grande parte do nosso património edificado.
- É pena que assim seja. Por aquilo que me foi dado a conhecer, Penacova consegue rivalizar com algumas das mais bonitas vilas históricas do nosso país. Está como que situada num promontório e a disposição das casas forma uma seta imaginária cuja ponta se situa no Mirante, que por sinal também é centenário. Por isso é importante trabalhar no sentido de preservar essa singularidade e o legado dos mais velhos.
- Olhe caro hóspede, nem sempre temos à frente desses departamentos pessoas com sensibilidade suficiente para zelar por eles.
- Então D. Rosalinda, se assim é, fique com a foto para que, pelo menos desse, se mantenha uma boa recordação.

sábado, 3 de abril de 2010

Virtuosidades


Nesta época do ano a Pensão é muito procurada sobretudo por casais que, recém-casados ou não, procuram a calma que se vive nesta vila apenas "perturbada" pelos festejos pascais que são sempre dignos de serem apreciados, sobretudo pelos fiéis mais devotos. Além disso, também procuram apreciar a qualidade da cozinha da Pensão, antes com a Susana, hoje com a D. Rosalinda porque ainda não apareceu outra cozinheira com capacidade para as substituir. É certo que a Luísa dá uma mãozinha, mas não tem aquela sensibilidade necessária a uma cozinha com a qualidade que se pretende para a Pensão.
Os hóspedes que hoje chegaram à Pensão só o puderam fazer, como habitualmente, até às 17 horas. Todos fizeram as reservas com a devida antecedência e de certeza que daqui a pouco começam a descer para se instalarem na sala de estar onde, de aperitivo em aperitivo, aguardavam ansiosamente pela refeição. Curiosamente, um hóspede, porventura o mais actualizado, perguntou se servíamos um vinho do Porto Dow`s Vintage 2007, ao que eu, orgulhosamente, lhe servi um cálice de tão afamado néctar, que o diga Robert Parker, reconhecido provador da Wine Spectator. Satisfeitíssimo, levou o cálice para  virtuoso canapé, onde deliciosamente continuou a ler o seu jornal.
Entretanto, o apetite para o jantar começou a ser tema de conversa entre os hópedes. Uns tentavam adivinhar aquilo que os outros iriam escolher para comer. Alguns adivinhavam, outros nem por isso, mas as escolhas andavam todas à volta do Cabrito, das Migas, da Chanfana ou até mesmo da Lampreia. Curiosamente alguns optavam por um Filé-mignon em crosta de 4 pimentas sob uma Galette de Batatas acompanhado de um Molho Rosé ou até mesmo por uma costeleta de cordeiro com mostarda, nada que me espantasse, tendo em conta a variedade com que gostamos de presentear os nossos comensais. Mas mais curioso ainda, foi o pedido feito por aquele hóspede que há pouco me pediu que lhe servisse o vinho do Porto. Perguntou-me se por acaso, serviamos Trufas. Surpreendido com tão inusitado pedido, de imediato respondi  que sim, apenas lhe perguntado se preferia as pretas ou as brancas. Respondeu-me que preferia as pretas, por terem qualidades extraordinárias.

Parados no tempo


- A chuva não ajuda em nada a 46ª edição dos Solteiros X Casados.
- Pois, se não parar vai ficar complicado jogarem no Campo da Serra, se bem que agora tem outras condições e a água já não será um problema para quem lá joga.
- Tens razão. Desde que lá instalaram o relvado sintético, aquele campo de futebol ficou mais favorecido, não só para estas alturas, como é óbvio, como também para os jogos do próprio clube.
- Estava aqui a ler o suplemento "Fugas", do Público, e dei-me com um artigo sobre os moinhos.
- Ai sim, e o que escrevem acerca deles?
- O habitual, mas desta vez tem a ver como o Dia Nacional dos Moinhos. E curiosamente fazem referência à azenha que existe no Vimeiro, em São Pedro de Alva.
- Qual, a do sr. Américo Dinis?
- Exactamente essa, como é que sabes!?
- Bem, não é difícil de identificar porque é a única que, com mais de 160 anos, ainda funciona.
- E segundo aqui diz, pode ser visitada sempre que se quiser, desde que o sr. Américo por lá se encontre, como é lógico.
- E se não estiver, como é que se pode encontrar?
- Deixa cá ver.....há encontrei! Pode ser contactado pelo telemóvel nº 938247880
- Isso quer dizer que ainda lá vamos?
- Sim, se tudo correr bem.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Tecnologia divinal


A D. Rosalinda encontra-se acamada, não que tenha tido algum acidente ou alguma indisposição, mas apenas porque apanhou uma gripe que a mandou de molho para a cama.
- Olhe sr. doutor, tenho o meu corpinho todo dorido. Quando me viro parece que se quebram os ossos todos!
- Sabe D. Rosalinda, a srª. já não é nenhuma criança e com a sua idade é preciso ter muito cuidado. Por acaso tomou a vacina para a gripe?
- Por acaso tomei sr. doutor! Não fosse a minha neta Alice tinha-me esquecido, mas aquela menina não se esquece de nada e, mal viu chegar o tempo frio, disse-me logo para a ir tomar.
- Pois, fez muito bem. Se assim não fosse, esta gripe atacava-a com muito mais força e os resultados não seriam os mesmos. Poderia até apanhar uma pneumonia.
- Credo sr. doutor, vire essa boca para lá!
- É verdade D. Rosalinda, hoje em dia todo o cuidado é pouco. Lembra-se da gripe suína?
- Olhe sr. doutor, tudo isso foi um grande embuste para encher de dinheiro alguns laboratórios farmacêuticos. Sem dúvida que foi uma gripe, mas a maneira como a apresentaram é que foi um exagero.
- Sim, por um lado foi, mas por outro não deixou de ser uma gripe muito perigosa que em alguns casos conduziu à morte do paciente. Mas o que eu pretendia dizer com o exemplo da gripe AHN1, foi que a vacinação é importante e, em determinadas idades, é indispensável, como muito bem sabe. De qualquer maneira, não deixa de ser necessário um repouso absoluto, agasalho e um leitinho quente com mel.
- Olhe sr. doutor, já não bebo leite desde os meus 13 anos...
- Então se não bebe leite, beba chá que também faz bem.
- E quando é que me posso levantar?
- Talvez lá para sexta ou Sábado..
- Nem pense nisso sr. doutor. Já viu que estamos na Semana Santa e eu tenho que fazer as minhas orações.
- Então, pode fazê-las em casa!!
- Mas não é a mesma coisa sr. doutor. Não temos companhia, nem sequer ouvimos toda a gente a rezar, tal como eu gosto.
- Engana-se D. Rosalinda, agora para rezar com acompanhamento já não necessita de sair de casa.
- Ai não, então como é que pode ser isso!?
- Muito simples. Vai à internet, ao site Passo a Rezar e com a voz de Ruy de Carvalho e da sua filha, pode ouvir todas as orações da Semana Santa, de segunda a sexta-feira.
- Mas eu não percebo nada de internet...
- Pede à sua neta, ou ao Matias que eles são capazes de saber.
- Bom, sendo assim, e se a coisa for tão boa como o sr. doutor diz, até posso começar a gostar de ficar doente. O sr. doutor, por acaso, não sabe se essas orações se prolongam para além da Páscoa?

segunda-feira, 29 de março de 2010

Ecologia dispendiosa

O João mantém o hábito de ver futebol na Pensão. Só lamenta não poder estar sempre presente para  ver todos os jogos, mas faz sempre um esforço para ver a grande maioria. O meu tio Mário falou-me dele. Deu melhores referências acerca da sua pessoa e garantiu-me que seria uma boa companhia. Talvez por isso não tenha sido difícil para mim simpatizar com ele.
 - O Porto lá conseguiu fazer um brilharete. Não foi João?
- E bem merece Matias. Há um tempito que não ganha nada e uma equipa daquelas não se pode dar ao luxo de ficar abaixo do terceiro lugar....De qualquer maneira, convenhamos que o Porto este ano não tem equipa.
- Pode ser que com o regresso do Hulk as coisas melhorem para os lados do Dragão. Sim porque não tenho dúvidas nenhumas que este ano o campeonato é para o Benfica.
- Já não era sem tempo! E por falar em Benfica, aderiste à Hora do Planeta?
- Mais ou menos!! Sabes que numa casa como esta é impossível trabalhar às escuras e apagar as luzes àquela hora seria complicado.

- Pois, compreendo e aceito. Só não aceito que, pelo menos grande parte dos edifícios públicos não tenham aderido ao movimento, apesar de este ano terem aderido o dobro dos municípios em relação ao ano passado
- Tens toda a razão João!! Além disso, deviam penalizar as pessoas que não optam por iluminação mais amiga do ambiente. Se todos contribuirmos um bocadinho que seja, o resultado será bastante satisfatório e o planeta agradece.
- Penalizar não digo, porque penalizado já é quem adquire, por exemplo, uma lâmpada economizadora. O preço é uma exorbitância comparado com o das convencionais e as pessoas na hora da compra, olham para o preço, e mandam a ecologia às urtigas.
- Talvez por isso as coisas não andem mais depressa. Como é moda, e são bastante procuradas, quem as vende aproveita para as encarecer, não permitindo assim que o cidadão com menos rendimentos as instale, também ele, na sua casa. É a lei da oferta e da procura meu caro João.
- Pois, mas não deixa de ser injusta, apesar de ser de mercado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Boa noite, vou verificar

Sempre que dá um clássico de futebol na televisão, o ambiente da Pensão fica um pouco mais animado, por vezes até animado de mais. Embora tenha as minhas preferências clubísticas, não as devo manifestar, pois como recepcionista, tenho o dever de receber com simpatia e profissionalismo todos os hóspedes, independentemente das suas militâncias.
Da sala onde se encontra a televisão, ouço alguma agitação, perfeitamente normal a meu ver, ou não fossem as duas equipas em jogo as mais rivais do futebol português. Quando posso vou pondo o olho e, tal como eles, também me detenho perante um ou outro passe mais perigoso.
Neste momento o jogo entrou nos minutos finais e parace que a equipa azul branco não consegue dar a volta o resultado. Já conta com dois golos lá dentro, sem resposta.
Entretanto senta-se na mesa junto à lareira um jovem casal. Pela forma como se apresentam só podem ser recém-casados, talvez sejam eles que vão ocupar a suite principal da Pensão a qual, decorada como está, só pode estar mesmo destinada a uma bela noite de núpcias, pena a lua que teima em não se mostrar....
O jogo lá acabou, não sem antes o Benfica ter marcado mais um golo, o terceiro. Palermas!!!
As notícias dão conta naquilo em que se transformou a chegada dos adeptos portistas ao Algarve. Tanta violência, tanta destruição! Quem é alimenta toda esta raiva? É pena que o futebol seja também isso e não consiga libertar-se dessas euforias, muitas das vezes levadas ao extremo.
- Boa noite. O que vão desejar?
- Boa noite. Fizemos reserva em nome de Inês Monteiro.
- Um momento, vou verificar.
De relance vejo o primeiro-ministro a falar. Foi correr mais uma meia-maratona de Lisboa. O homem lá continua a correr.....
- Desculpem-me, são o casal Monteiro?
- Exatamente.
- Acompanhem-me por favor à receção
- Vêm por quantas noites?
- Esta e a próxima.
- Podem subir. Têm aqui a chave do quarto. Desejo-vos uma boa noite. Se precisarem de algo, por favor, não hesitem em ligar.

domingo, 21 de março de 2010

Contra as lixeiras, limpar, limpar!

- Então Alice, tão cedo?
- Olha Luísa, começou a chover e decidiram adiar a limpeza para Abril.
- Foi pena! A Alice ía tão bem equipada. Aquelas botas de cano alto, o impermeável, a pá e aquela pinça para apanhar os papéis. Estou convencida que apanharia mais lixo do que qualquer um dos outros voluntários.
- Não exageres Luísa! Tenho pena, isso sim, de adiar por mais uns dias a recolha de toda a lixaria que por aí está espalhada. Quanto mais cedo for retirada para os locais adequados, mais depressa o ambiente agradece e mais bem cuidados ficam os nossos espaços verdes.
- Tem razão Alice. Mas eu prefiro não sujar, para não ter que limpar.
-Pois, era assim que todos os que sujam e não limpam deviam pensar. Em vez de continuarem a poluir deveriam privar-se de o fazer, porque se isso não acontecer e continuarmos a varrer o lixo para baixo do tapete, qualquer dia sufocamos com os desperdícios que por todo lado abandonamos.
- E depois já não há solução para o problema.  Provavelmente até se esgota a capacidade de regeneração da natureza.
- Não duvides Luísa! Toda este desrespeito pelo meio ambiente, já lhe provocou danos irreversíveis. São inúmeros os casos em que a capacidade de regeneração de alguns ecossistemas mais frágeis foi completamente destruída.
- Mas Alice, foi sem dúvida um movimento cívico sem igual! Foram mais de cem mil os voluntários que apareceram. Gostei muito de ver o Presidente da República a participar também na limpeza.
- Olha Luísa, só espero que valha a pena. Só espero que as pessoas tomem consciência de uma vez por todas de que não devem poluir o mundo em que vivemos, sob pena de acelerarmos ainda mais a degradação do nosso planeta. 
- Fique descansada Alice! Estou convencida que toda a gente vai mudar de hábitos. Além disso, se cada país fizer o mesmo, fica tudo limpo que é um instante.
- Olha Luísa, ainda é cedo para apurar resultados, até porque algumas localidades não puderam fazer. Porém, desde que teve início, o movimento "Let's do it!" que só no ano seguinte a ter sido criado, mobilizou cerca de 50 mil pessoas que num só dia recolheram mais de 10 mil toneladas de resíduos ilegalmente depositados. Fantástico não é?
- Só prova que o ser humano, quando quer, consegue surpreender-se pela positiva.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Excessos de confiança


Às sextas-feiras ao fim da tarde, invariavelmente se reúnem no bar da Pensão um número de habituais frequentadores. Já era assim no tempo do meu tio Mário e parece que fazem questão de manter viva a tradição. Aproveita-se para falar da semana, daquilo que de mais relevante se passou para cada um deles ou simplesmente para beberem algo na companhia de uns peixinhos do rio ou de umas enguias fritas, iguarias nossas, que muito bem casam com um bom tinto, para quem bebe claro.
Hoje ao balcão do bar da Pensão, encontrava-se o Luís, o mais assíduo dos hóspedes e o Joaquim, bancário de profissão, que também gosta de passar o final da tarde na Pensão. Às vezes pernoitam outras vezes apenas jantam , mas é sempre difícil saber o realmente pode acontecer. Para já estão por aqui e da maneira como o tempo está chovoso, podem muito bem ficar por cá até de manhã, o que não deixa de ser óptimo, tendo em conta a agradabilidade da companhia de ambos, não desfazendo claro da companhia dos outros hóspedes que, tal como eles, são muito bem-vindos à Pensão.
- Foi uma pena para o Sporting não ter conseguido passar à fase seguinte.
- Pois é, foi uma pena. Melhor sorte teve o Benfica que lá conseguiu, mais uma vez, impor o ritmo que se exigia para ganhar a eliminatória.
- Matias.
- Diga Luís?
- Tem acompanhado a polémica gerada pela morte de um indivíduo pela polícia?
- Mais ou menos Luís. Quando posso, vou deitando uma vista de olhos na televisão.
- E aqui o meu amigo Joaquim, viu alguma coisa sobre o assunto?
- Olha Luís, para ser sincero fiquei chocado com toda a situação e com a forma com que ela ocorreu. Não consigo aceitar que aqueles que existem para nos proteger se descuidem ao ponto de se tornarem nos nossos piores inimigos.
- Também acho Joaquim. Não consigo compreender como é que alguém é capaz de colocar uma arma nas mãos de um polícia sem o ter treinado primeiro a utilizá-la. É estranho que os jovens que são recrutados para serem agentes de autoridade não estejam habilitados a utilizar o equipamento que lhes é fornecido.
- É muito estranho que isso aconteça e inadmissível que ocorra nos dias de hoje. Uma coisa vos digo, ou é juventude a mais ou preparação a menos. Estou convencido que no meio disto tudo, os culpados são aqueles que têm o dever de zelar pela salvaguarda da segurança dos cidadãos e pela capacidade profissional dos elementos que compõe as instituições a quem legalmente foi atribuída essa função. Se não houver essa preocupação, então mais casos irão ocorrer concerteza.
- Mas Luís, o homem viu-se ali perante o dever de impedir a fuga do suposto meliante e a necessidade de o deter com o disparo que, provavelmente, nem soube muito bem como é que o efectuou..
- Ora aí está Joaquim. Se até aqueles que treinam com bastante frequência não têm a absoluta certeza de que o disparo que efectuam vai acertar no alvo que pretendem, como é que alguém que nem sequer conhece a arma que lhe foi distribuída pode acertar onde quer?
- Só por muita sorte é que isso acontece.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Falta de fé ou fraqueza dos homens

- Porque razão é que estás a mudar de canal Matias?
- Olhe D. Rosalinda, não só porque o restaurante da Pensão está cheio, mas também porque os comensais não têm, a meu ver claro, que estar sujeitos a ver os espectáculo degradante que está a pssar naquele canal.
- E é tão degradante assim?
- Olhe D. Rosalinda, para mim não tem palavras que o descrevam. Só de imaginar fico todo perturbado?
- Ai homem, não me assustes!!! O que é que estava a dar exactamente?
- Era a notícia sobre os actos de pedofilia praticados por alguns sacerdotes da Igreja Católica...
- Pois, eu sei Matias. Também tenho acompanhado como posso o desenrolar dos acontecimentos ligados a esse escandaloso processo.
- E para si deve ser muito doloroso saber que tudo isso se passou e, pior ainda, que tudo foi abafado pelos responsáveis daqueles que praticaram tão hediondos actos.
- Eu sempre fui muito devota, e continuo a ser, mas tudo isto me incomoda sobremaneira.
- E abala a sua fé?
- Claro que não Matias! A minha fé não está condicionada pelos actos que o ser humano pratica, seja ele padre ou não. A minha fé é para com Cristo e apenas tenho o compromisso para com ele, daí que não saia abalada, apenas triste com a fraqueza dos homens que se comprometeram com a Igreja, agir de acordo com os seus ensinamentos
- Mas ressente-se de alguma maneira, como é óbvio.
- Ressinto-me principalmente na maneira como passei a olhar para os sacerdotes. Não quero, nem devo, acreditar que todos são culpados, mas também não sou inocente ao ponto de achar que todos estão isentos de culpa.
- Todos!?
- Claro que sim. Seria muita ingenuidade da minha parte acreditar que não há um conhecimento geral acerca daquilo que se passou. Sei perfeitamente que uns escondem os outros e as coisas não se souberam há mais tempo, da forma como hoje de sabem, porque estavam todos convictos que tudo acabava por ser esquecido.
- Mas não isso que aconteceu.
- Claro que não e ainda bem. Nem eu, como fiel, me poderia sentir cúmplice dessa atrocidade, como aliás se sentem todos os verdadeiros fiéis. Sinto-me defraudada isso sim. Não consigo aceitar que, por detrás da batina se esconda um criminoso e, principalmente, alguém a quem a maior parte das mães confiou em algum momento da sua vida, a guarda dos seus filhos.
- E preconizaria algum tipo de castigo para tais meliantes?
- Olha Matias, não costumo ser radical, até porque tenho por norma respeitar o próximo mas, num caso desses, não me chocaria que esses pseudo-sacerdotes fossem castrados quimicamente e arredados definitivamente do sacerdócio.
- Não está mal não senhora. Eu até iria mais longe, mas provavelmente o castigo que eu proporia, seria mais fácil de suportar do que aquele que a Srª. tinha em mente.

quarta-feira, 17 de março de 2010

O dom da imortalidade


- Gosto muito dessa música Matias!
- A sério menina Alice?
- Claro que sim! Tem um ritmo que nos faz balançar e não se compara nada com algumas que hoje por aí ouvimos e que certas pessoas teimam em chamar de música 
- Eu também acho. Gosto muito do estilo de Michael Jackson, das músicas que compôs e da forma como se move em palco. É de facto um artista que me dá prazer ver e ouvir!!
- Foi, queres tu dizer..
- Sim claro, que cabeça a minha, foi e será sempre um dos meus preferidos.
- E não só teu Matias. Tendo em conta o montante do acordo assinado entre os herdeiros e a Sony, estou em crer que muitos ainda se irão render à fenomenalidade de Michael Jackson.
- Espero bem que sim menina Alice. Acho que a obra dele é extraordinária e é sem dúvida alguma um marco importante na música dos últimos trinta anos. Revolucionou toda a indústria musical a impor o seu estilo invulgar. Pena que se tenha metamorfoseado daquela maneira, sempre em busca da brancura total.
- Da brancura total e não só Matias. Era um homem um bocado estranho, com hábitos pouco ortodoxos, próprios de quem atingiu o estrelato desde muito cedo. Essa busca da ribalta obrigou-o, não só a ele como também aos irmãos, a suportar a personalidade algo violenta do pai que, pelo que dizem, não permitia que eles falhassem.
- Depois também vieram as suspeitas de envolvimento com menores e as inevitáveis e chorudas indemnizações. Enfim uma vida de ascensão e queda.
- Para ele já seria muito complicado enfrentar a realidade. Mantinha aquela fobia pelas contaminações e atrás dele arrastava os filhos, os quais acabariam de sofrer como ele e por ele...
- É assim Matias, nem sempre a fama é sinónimo de felicidade. Também para isso é preciso ter sorte...
- E inteligência menina Alice. Imagine que, tal como ele, se encontrava numa situação ascendente. Muitos êxitos, muitos contratos, muitos fãs, muitas tentações, muitas emoções e muitas frustações também. A dada altura o mundo que conhecia desde ali, começava a desmoronar-se. Outros cantores apareciam, mais ousados, mais ambiciosos e, obviamente, mais novos. É bastante provável que se começasse a sentir ultrapassada e com isso mais irritada, com tendência para começar a consumir susbstâncias que lhe iriam amenizar a dor que estava a sentir.
- Pois, és capaz de ter razão. Só não sei se me comportaria dessa maneira, mas aceito que o efeito fosse esse e que a tendência para muitas das vezes se chegar ao ponto a que ele chegou. Porém, se fosse se raça negra, estou convencida que não correria atrás do sonho de me tornar branco. Aí acho que ele exagerou e estou em crer que terá sido essa busca incessante que o levou à morte. Pelo menos a julgar pelas circunstâncias em que ela aconteceu.
- Seja como for, independentemente daquilo que o matou, o mais importante é que, pelo menos a sua obra não vai cair no esquecimento e os herdeiros sempre vão poder ficar mais confortados pela perda que tiveram. Além disso, de acordo com o que foi noticiado, vão ser editados temas inéditos que nem os fãs mais devotos conheciam.
- Quer dizer então que ainda vamos ter Michael Jackson por mais uns anos!
- Sim menina Alice! Que sejam muitos e bons para nos animar.
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