sexta-feira, 19 de março de 2010

Excessos de confiança


Às sextas-feiras ao fim da tarde, invariavelmente se reúnem no bar da Pensão um número de habituais frequentadores. Já era assim no tempo do meu tio Mário e parece que fazem questão de manter viva a tradição. Aproveita-se para falar da semana, daquilo que de mais relevante se passou para cada um deles ou simplesmente para beberem algo na companhia de uns peixinhos do rio ou de umas enguias fritas, iguarias nossas, que muito bem casam com um bom tinto, para quem bebe claro.
Hoje ao balcão do bar da Pensão, encontrava-se o Luís, o mais assíduo dos hóspedes e o Joaquim, bancário de profissão, que também gosta de passar o final da tarde na Pensão. Às vezes pernoitam outras vezes apenas jantam , mas é sempre difícil saber o realmente pode acontecer. Para já estão por aqui e da maneira como o tempo está chovoso, podem muito bem ficar por cá até de manhã, o que não deixa de ser óptimo, tendo em conta a agradabilidade da companhia de ambos, não desfazendo claro da companhia dos outros hóspedes que, tal como eles, são muito bem-vindos à Pensão.
- Foi uma pena para o Sporting não ter conseguido passar à fase seguinte.
- Pois é, foi uma pena. Melhor sorte teve o Benfica que lá conseguiu, mais uma vez, impor o ritmo que se exigia para ganhar a eliminatória.
- Matias.
- Diga Luís?
- Tem acompanhado a polémica gerada pela morte de um indivíduo pela polícia?
- Mais ou menos Luís. Quando posso, vou deitando uma vista de olhos na televisão.
- E aqui o meu amigo Joaquim, viu alguma coisa sobre o assunto?
- Olha Luís, para ser sincero fiquei chocado com toda a situação e com a forma com que ela ocorreu. Não consigo aceitar que aqueles que existem para nos proteger se descuidem ao ponto de se tornarem nos nossos piores inimigos.
- Também acho Joaquim. Não consigo compreender como é que alguém é capaz de colocar uma arma nas mãos de um polícia sem o ter treinado primeiro a utilizá-la. É estranho que os jovens que são recrutados para serem agentes de autoridade não estejam habilitados a utilizar o equipamento que lhes é fornecido.
- É muito estranho que isso aconteça e inadmissível que ocorra nos dias de hoje. Uma coisa vos digo, ou é juventude a mais ou preparação a menos. Estou convencido que no meio disto tudo, os culpados são aqueles que têm o dever de zelar pela salvaguarda da segurança dos cidadãos e pela capacidade profissional dos elementos que compõe as instituições a quem legalmente foi atribuída essa função. Se não houver essa preocupação, então mais casos irão ocorrer concerteza.
- Mas Luís, o homem viu-se ali perante o dever de impedir a fuga do suposto meliante e a necessidade de o deter com o disparo que, provavelmente, nem soube muito bem como é que o efectuou..
- Ora aí está Joaquim. Se até aqueles que treinam com bastante frequência não têm a absoluta certeza de que o disparo que efectuam vai acertar no alvo que pretendem, como é que alguém que nem sequer conhece a arma que lhe foi distribuída pode acertar onde quer?
- Só por muita sorte é que isso acontece.

Sem comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...