quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os problemas do (v)Bento


A conversa que os dois hóspedes, que se encontravam sentados na mesa que está ao pé da sacada, estavam a ter era tão interessante, que nem eu próprio tive coragem de a interromper, apesar de ter indicações expressas que deveria fazê-lo logo que se sentassem, pois não era hábito da Pensão fazer esperar desnecessariamente os hóspedes.
- Quer dizer que agora vais mesmo ver o papa.
- O papa, porquê!?
- Então, porque o governo vai dar tolerância de ponto nesse dia a todos os funcionários públicos.
- E o que é que te leva a pensar que eu vou ver o papa.
- Nada me leva a pensar que isso vai acontecer, mas certamente irás aproveitar a folga para, pelo menos, ires passear com a família.
- Estás enganado quanto a isso. Se realmente houver tolerância de ponto nesse dia, garanto-te que não vou ver para nenhum.
- Mas deves.
- Não devo nada porque nem sequer me revejo nesse senhor.
- Então devias ir trabalhar em vez de gozar tal tolerância.
- Nada disso meu caro, vou aproveitar essa benesse que tem como objectivo permitir que os féis se desloquem a ver o supra sumo da igreja católica e como eu não me incluo nesse grupo, não lhe devo qualquer tipo de obediência. Além disso, e mesmo que eventualmente me sentisse nessa obrigação moral, depois de ter lido, ouvido e observado acerca do envolvimento do clero em questões relacionadas com a pedofilia e a homossexualidade, não me sentia minimamente motivado para ir ver desfilar quem quer que fosse da igreja católica.
- O que eu condeno acima de tudo é a forma como foi encarada toda a situação. Em primeiro lugar, depois de detectado o problema, procurou-se não dar muita às consequências que o mesmo poderia trazer às vítimas de abusos, depois os casos aumentaram de número e mesmo assim manteve-se a política do silêncio, como se os actos praticados não constituíssem um crime hediondo, por último assiste-se por parte das hierarquias da igreja católica a um esforço em tentar transformar uma questão de polícia numa coisa sem grande importância, procurando com outros assuntos, como o aborto por exemplo, desviar a atenção dos fieis do problema.
- E como se não bastasse, ainda se atrevem a vir dizer que “muitos psicólogos e psiquiatras mostram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros revelam que existe uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, tudo isto para tentarem afastar a ideia de que o celibato dos padres não aumenta a tendência para a pedofilia.
- Acho uma grande estupidez andarem a tentar explicar o inexplicável, mas quanto a essas declarações e tendo em conta as reacções que entretanto ocorreram, o Vaticano já veio “esclarecer” as declarações do seu secretário.
- Éh, para por água na fervura, como tão bem sabem fazer.
- Mas a coisa não fica por aí.
- Então?
- Já há quem queira deter o papa quando ele for ao Reino Unido.
- Mas isso nunca irá acontecer porque poderia desencadear uma onda de vingança contra todo o clero o que, naturalmente, não é de todo desejável que aconteça, até porque não é razoável julgar a parte pelo todo.
- Mas o problema é que essa parte é também responsável pela educação religiosa de cerca de 1/6 população mundial, que é o número de fiéis com que conta actualmente a igreja católica o que, convenhamos, é muita gente.
- Olha, sabes uma coisa?
- Não, diz lá.
- Eu acabava com o problema que era um instante.
- Então como?
- Começava por acabar com celibato, para que os padres soubessem dar o devido valor à família e ao matrimónio, experimentando também eles serem maridos e pais sem terem que andar por aí quase às escondidas com as “irmãs” e depois entregava todos os prevaricadores à polícia para que fossem julgados pelas leis dos homens e não continuassem impunes a coberto das leis de Deus.
- Com toda essa convicção para resolver um problema bastante antigo, tenho a certeza que até Ele ficava contente com o teu despacho.

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