sábado, 22 de outubro de 2011

Voo Picado, Molhado e Muito Bem Calculado

- Olha Alice, de uma coisa podes ter a certeza. Quando o homenzinho viu o carro a sair disparado da estrada, com direcção à água, tenho a certeza que rezou a todos os santinhos e mais alguns, para que a queda não fosse nada por aí além.
- Pudera Matias, só de me lembrar que até poderia nunca conseguir sair de dentro da viatura. Nem me quero imaginar numa situação daquelas.
- Tu já imaginaste o que seria, se por acaso ninguém se tivesse apercebido ou se caísse mesmo no meio do rio? De certeza que daquela não escapava e havia de ser um problema para o encontrar.
- Nem me fales numa coisa dessas, acho que seria horrível. E tu, lembras-te daquela vez que caíste num ribanceira, ali para os lados da Espinheira, lembras-te?
- Bem, lembro-me de ter acordado no fundo da ribanceira, de pernas para o ar, e com o carro todo espatifado.Mas depois lá me consegui desenvencilhar da situação e subi a barreira até à estrada. 
- Não te mataste por pouco, não foi?
- Se foi! Passei ao lado de uma cerejeira, que se deve ter arredado para eu passar. Depois, olha, fui a acordar um amigo que me ajudou a resolver a situação.
- E o carro?
- Bem, o carro ficou praticamente destruído e penso até que foi diretamente para a sucata, mas disso já não me recordo muito bem.
- São horas danadas Matias. E quando nos safamos, dizemos sempre que foi a uma boa hora. 
- Éh, nós, os portugueses, somo assim Alice. Apesar de termos passado por uma situação menos boa, acabamos sempre por arranjar uma outra bem pior da qual nos livrámos, para assim nos confortarmos. Como exemplo, tens aquele indivíduo que acabou de partir uma perna e logo a seguir, todo bem-diposto, diz que, apesar do azar ainda teve muita sorte, porque em vez de uma, podia ter partido as duas.
- Tens razão Matias. Basta vermos o que se passa hoje nosso país. Estamos com o cinto no último buraco das calças, mas mesmo assim ainda conseguimos arranjar uma qualquer situação, para nos colocarmos em vantagem relativamente a eles, que já nem sequer cinto têm.
- Mas esquece a crise e prepara-te para passar um bocado da tua noite, a ouvir umas histórias, contadas por quem sabe, e algumas músicas interpretadas por uma tocadora de harpa.
- Acho que vou aceitar a tua sugestão. Agora que vim da sessão de yoga, vou tomar um banho quente e preparar-me para ir então ao Centro Cultural.
- Fazes bem Alice. Depois, se quiseres companhia, diz qualquer coisa, quem sabe não estarei com disponibilidade para te acompanhar.

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