segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Corredor de Fundo


- Mas há um coisa que eu ainda não percebi, muito bem meu caro Herberto.
- Diz amigo Daniel, qual é a dúvida desta vez?
- Afinal, quantas juntas de freguesia é que o partido socialista ganhou nas últimas eleições autárquicas em Penacova?
- Bem, pelas minhas contas, foram cinco. Mas porquê essa pergunta?
- É que a sensação que fica, para quem não sabe quantas foram, é que o p.s. apenas ganhou uma.
- Ai sim, então porquê?
- Então, desde que tomaram posse, o único, que eu me lembre, que até agora fez algum coisa com conteúdo e digna de ser visitada, foi o presidente da junta de Travanca do Mondego, e digo-te que de muito melhor qualidade do que aquelas que se fazem na própria sede do município, o que me leva a pensar que não existe mais nenhuma junta ganha pelo p.s. em Penacova, e que aquela serve de exemplo para todas as outras.
- Bem, nesse aspeto sou obrigado a dar-te razão. De facto, não me lembro que outro presidente de uma outra junta socialista, se tenha destacado tanto na realização de eventos que envolvam toda a sociedade, como o da junta de Travanca, talvez o espaço que lá tem se proporcione, mas não deixa de ser verdade que o tem sabido aproveitar.
- Sim, e convém não esquecer que o Parque Infantil António O. Veiga e Costa foi concebido e concretizado no mandato do p.s.d., e pelo presidente cessante António Dias inaugurado, num sinal de grande maturidade, política, social e humana, por parte do presidente que foi substituir.
- Tens toda a razão, a césar o que é de césar! Não haja a menor dúvida, que a atitude do atual presidente da junta, se pautou por um enorme sentido de respeito e solidariedade para com todos os habitantes da freguesia e muito particularmente para com o seu presidente.
- Sem dúvida que sim! Sou amigo do sr. presidente e tenho a dizer-te que a atitude que nessa altura teve e presentemente tem para com a sua freguesia, é demonstrativa da sua enorme sensibilidade. Por isso, direi até que se trata de um político com muitas possibilidades de vir a obter um pelouro no próximo executivo camarário se, obviamente, for socialista, não achas?
- Bem, tudo esse empenho, não só dele mas também da equipa que o acompanha, vai dar os seu frutos. Agora se são amargos ou não, tudo depende da verticalidade com que cada um procura desempenhar as funções que lhe foram por sufrágio confiadas. Se assim for, digo-te que o seu futuro político passará pelos paços do município, para fazer o que hoje faz, mas numa outra dimensão e para um público mais exigente ou, pelo menos, mais crítico.

domingo, 6 de novembro de 2011

Arrebanhados

- Estava aqui a ouvir o sr. presidente na TSF e lembrei-me do quanto necessário é aos nossos governantes apelarem ao nosso espírito de sacrifício para ultrapassarmos este momento de privações.
- Mas conta lá o que estavas a ouvir! Afinal é sempre bom conhecermos aquilo que o sr. presidente vai dizendo aos portugueses.
- Bom, estava recordar a vida do lendário Moiral, que conduzia os rebanhos para as terras altas e que não tinha fins-de-semana, férias, feriados, ou tão pouco pontes.
- Não foi muito feliz a escolha, penso eu.
- Como assim?
- Então, se o homem vai com os rebanhos para as terras altas, como é que ele poderia ter esses tais dias de descanso. Se os tivesse que cumprir à risca, passava o tempo no caminho. Para mim, a escolha deveria recair sobre Viriato, esse sim, um verdadeiro lusitano, que não contente com o avanço dos romanos, decidiu lutar contra o fim do deu povo.
- Eu também acho, que nesta altura nos faria mais falta um Viriato do que um Moiral, apesar de ambos serem pastores, mas creio que a maior parte dos portugueses preferem um discurso de alguém que apele à calma e ao espírito de sacrifício, do que de alguém que lhes venha com ideias revolucionárias e lhes  alimente o descontentamento.
- Pois é, pelo que se vê até parece que ninguém nos está a pedir alguma coisa que vá para além das nossas reais possibilidades. Para comer os milhões de Bruxelas, bastaram alguns, por sinal bem identificados, agora para pagar a fatura já não chegam os poucos que se consolaram a gastar o dinheiro e já temos que ser todos a desembolsar o pouco que temos para ajudar a pagar a dívida. Sabes uma coisa, só espero que da próxima vez que o sr. presidente se ponha a falar de coisas sem pés nem cabeça, lhe dê uma diarreia tal, que o obrigue a quebrar o protocolo sem poder acabar a frase.
- Ora toma, assim é que se fala!

sábado, 5 de novembro de 2011

Pratas da Casa



- Quer dizer então, que vais expor a partir de hoje na Pensão, não é José?
- É verdade Alice, assim vai ser. A tua avó convidou-me para expor aqui na Pensão, logo que terminada a exposição no CentroCultural, e pronto aqui estou de “armas e bagagens”.
- Para o orgulho de todos José. As tuas pinturas transmitem a tua serenidade, daí ficarem tão bem expostas na Pensão.
- Obrigado Alice. Eu é que me sinto orgulhoso em poder expor num local onde também já expôs um grande nome da nossa pintura, penacovense por opção.
- Bem observado José. Lembro-me perfeitamente do dia em que o prof. Martins da Costa nos presenteou com uma das suas exposições. Gostou tanto da forma como foi acolhido e do modo como tudo decorreu, que fez questão de nos oferecer aquelas duas telas que estão ali penduradas na parede, mesmo por cima da mesa que tanto gostava de ocupar.

o vale do mondego - 1982

caminhos paralelos - 1991
 - Era um homem de poucas palavras, aparentemente difícil de aceder, mas que trocou a sua terra natal por Penacova e isso já nos pode muito bem encher de orgulho por vivermos numa terra que ele escolheu para viver o resto dos seus dias.
- Sim, sem dúvida que sim. Só pelo simples facto de ter escolhido Penacova, já demonstra bem o seu amor por esta vista sobre o Mondego. Como podes ler aqui nesta brochura, "escolheu viver na província, na casa-atelier que ali construiu. Um lugar para invejar, sobre o vale do Mondego, no meio das oliveiras e dos bandos de passarada que, nas suas viagens de ida e volta, por ali passam obrigatoriamente".  
- Se fosse vivo teria 90 anos, como não está, deixou as suas obras para o imortalizar.
- Exatamente José, tal como tu.
- Sim, talvez seja um objetivo que todos gostaríamos de alcançar, mas quanto às telas, se calhar não vou deixá-las por cá desta vez.
- Claro que não José, não era essa a intenção. Além disso, terás outras oportunidades para o fazer.



quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Brilhos do nosso (des)contentamento

- Então D. Rosalinda, sente-se bem?
- Sim Matias estou bem, apenas um pouco comovida.
- Então porquê, posso saber?
- Sabes Matias, este Dia de Finados põe-me sempre muito ansiosa e triste. Faz-me recordar os que já partiram e sobretudo aqueles de quem eu mais gostava.
- E ainda por cima com o cemitério aqui em frente, todo iluminado, por mais que quisesse dificilmente se esqueceria deste dia.
- Pois é Matias, com esta vista ainda mais difícil se torna! Mas pronto, é sinal que cá estamos e que, apesar de não gostarmos muito, ainda vamos conseguindo viver para ver as coisas boas da vida.
- Quando as temos, não é D. Rosalinda?
- Sim claro, quando as temos. Mas também, deixa-me dizer-te que temos um grande defeito. Quando vemos muita fartura, pensamos logo que os tempos de crise já passaram, e a prova disso está na situação em que nos encontramos. Sabes Matias, sempre me disseram que devemos começar a poupar à boca do saco.
- Mas fique descansada D. Rosalinda, porque parece que as coisas vão melhorar, pelo menos não param de aparecer interessados nas nossas riquezas do subsolo, sinal de que ainda há muito para explorar neste país.
- Bem, no meu tempo de jovem, falava-se que o Salazar sabia da existência de inúmeras riquezas por explorar em Portugal, e que havia de vir o dia em que a sua exploração, nos salvaria de uma eventual crise.
- Pois olhe D. Rosalinda, parece que chegou a hora de começarmos a trocar essas riquezas por algo que nos permita sair deste tormento. Por acaso não há nada assim aqui para estes lados, pois não D. Rosalinda?
- Olha Matias, ouvir dizer uma vez, que há muitos anos, lá para os lados do Mont'alto, alguém enterrou uma pipa cheia de ouro e que só uma cabra branca, a escavar com as patas, a encontraria.
- A sério D. Rosalinda!? Está a falar daquele ouro brilhante, sem ser o dos tolos?
- Não sei de qual é, mas que eu ouvi falar ouvi, agora se é a sério meu rapaz, não te sei dizer. 
- E nunca ninguém tentou encontrá-la?
- Talvez alguns tolos o tenham tentado, mas nunca se ouviu dizer que tivessem encontrado alguma coisa.
- Seria da cabra?
- Penso que não, pois não creio que por falta delas alguém tivesse alguma vez ficado enrascado.
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