sábado, 29 de setembro de 2007

OPOSIÇÃO PARTE I - O REGRESSO DAS MANAS

O sol descobriu-se timidamente pela manhã. À tarde desapareceu por completo, dando lugar à chuva miúda ou "molha-tolos", como lhe costumamos chamar. Estava, perante as expectativas, um dia ideal para acender a lareira e passar o resto do dia ao borralho, bebendo algo quente e passar o tempo a jogar um xadrez ou, quem sabe, um jogo de snooker no bilhar aquecido da pensão. Se ao menos aparecesse um hóspede com vontade ou até mesmo um daqueles amigos com quem gostamos de falar, sempre ajudava a passar melhor o tempo.
Se mais depressa o tivesse dito, mais depressa acontecia. O Paulo estava a acabar de chegar à pensão. Vinha um pouco molhado porque não trazia chapéu e foi surpreendido pela chuva cujas pingas entretanto engrossaram. O Paulo era a companhia ideal para passar um bocado a jogar snooker.
Mal entrou, perguntei-lhe logo se estava com essa disponibilidade. respondeu-me que sim, mas só depois de tomar um café bem quente. Levantei-me e fui na direcção da máquina para tirar uma "bica" ou "cimbalino", caso prefiram.
- Então Paulo, novidades? - perguntei.
- Além do novo padre, só a vitória de Luís Filipe Menezes sobre Marques Mendes. - respondeu.
- Pois tens razão - disse eu - foi um sinal de que os militantes do P.S.D. querem uma mudança de estratégia face à hegemonia do governo P.S.
- Sim - disse o Paulo -, também partilho da tua opinião, mas acho que faltou ali alguém, igualmente importante naquele partido, normalmente, sem papas na língua e sempre com vontade de dizer o que pensa, nem que isso seja uma grande asneirada.
- Tens razão - disse eu -, talvez te estejas a referir ao actual presidente da Câmara Municipal do Porto.
- Esse mesmo - disse Paulo -, o Rui Rio em pessoa.
- Deve estar à espera de outra oportunidade, mais próxima de 2009, altura em que Portugal vai de novo a eleições legislativas. - disse eu.
- Sim, porque até agora, o que o P.S.D. fez, foi queimar candidatos a primeiro ministro - disse Paulo - primeiro o Mendes, agora o Menezes e, quando o ano de 2009 estiver quase a começar, há-de aparecer alguém que se intitule "salvador" do partido e do país, pensando estar preparado para defrontar Sócrates.
- E, provavelmente, será mesmo o Rio que se estará a guardar para essa altura. - disse eu.
- É bastante provável que seja ele a reclamar o lugar. - disse Paulo rindo.
- Mas repara Paulo, eu comparo muito o estado em que se encontra actualmente o P.S.D. ao de um exército sem guerra.
- Como assim? - perguntou Paulo, enquanto dava a tacada de saída.
- Repara só. - disse eu - Quando vivemos em clima de paz os militares encontram-se nos quartéis, onde passam horas, dias, semanas, meses e até anos sem pôr em prática aquilo que aprenderam, ou seja, lutar. Toda essa "espera", leva a que se dediquem a outro tipo de actividades, mais ou menos saudáveis, que normalmente abrem portas a pensamentos diversos, obscuros, perniciosos, que muitas das vezes originam crises de liderança, com a consequente substituição de quem lidera.
- Tal como diz o ditado "cabeça desocupada é oficina do diabo" - disse Paulo, enquanto metia 3 bolas da série grande.
- Exactamente. - disse eu - Assim, e como não existem nem pelouros, nem cargos mais ou menos importantes, nem avenças, nem outras mordomias para distribuir dentro do P.S.D., começam, entre eles, a magicar formas de alterar o "status quo" para combater a monotonia instalada.
- Tens razão. - disse Paulo enquanto metia mais duas bolas.
- A partir daí - continuei eu -, começam todos às turras uns com os outros perante a ineficácia da estratégia (reactiva) que escolheram para fazerem oposição à maioria governativa. Perante isso, e como bem sabes, voltamos ao velho ditado que diz que " em casa onde não há pão, todos ralham e nenhum tem razão".
- Vendo as coisas por essa perspectiva, és capaz de ter razão. - disse Paulo - mas acho que Filipe Menezes não vai tirar muito proveito do facto de ter ganho as directas, isto porque, não tendo assento parlamentar, não vai ter oportunidade de atacar directamente o governo, tendo que delegar essa tarefa no novo líder da bancada laranja que será, ao que tudo indica, Santana Lopes, de quem é bastante amigo.
- Muito bem visto. - disse eu - E, nesse caso, volta tudo à mesma. Santana de um lado, Portas do outro. Vai ser giro ouvi-los de novo.
Enquanto em me mantinha distraído a tirar conclusões, o Paulo acabava o jogo metendo a bola 8 num dos buracos do meio, deixando-me com 4 bolas em cima do bilhar.
- Continuamos? - perguntou Paulo.
- Claro. - respondi eu - É uma série de três, para ver quem paga o jantar - continuei.
- E qual é a ementa? - perguntou Paulo.
- Lombinhos de lebre com molho de vinho do Porto, acompanhada com batata conflitada e regados com um branco das Serras de Azeitão. - respondi.
- Época de caça, já percebi, a Susana é o máximo, pago eu o jantar - disse Paulo.
Terminámos de imediato o jogo e descemos à cozinha para jantarmos descansadamente.

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