terça-feira, 29 de janeiro de 2008

SINOS, CARRILHÕES E DUAS CONSTELAÇÕES

- Que grande ajuntamento junto à igreja era aquele menina Alice?
- Olha Mário, parece que estão a colocar os sinos da torre.
- Os sinos na torre?
- Sim, os sinos na torre. Então não sabias que tinham sido retirados para serem restaurados?
- Não imaginava menina Alice. Sabe que eu pouco ligo a essas coisas e mais, até lhe vou contar uma coisa, arrepio-me sempre que eles tocam principalmente a anunciar a morte, o que ultimamente tem sido bastante frequente.
- Não te preocupes Mário porque brevemente vai ser colocado um carrilhão para tornar mais apelativos todos os chamamentos dos cristãos.
- Ainda bem que, pelo menos, o novo padre tem sensibilidade suficiente para tornar agradável a nossa relação com esses tais chamamentos. Será que também vai mudar o coro, ou pelo menos, algumas das vozes do coro.
- Não sei bem Mário mas pelo menos podia pensar em dar umas aulitas de canto a alguns elementos que dele fazem parte.
- Também acho que sim, pois os cânticos religiosos querem-se melodiosos, agradáveis e quase a roçar o celestial.
- Talvez ocorram mudanças nessa parte, e noutras claro.
- Então e o novo brinquedo, tem feito bom uso dele?
- Se estás a referir-te ao telescópio que os meus pais me ofereceram, posso dizer-te que sempre que o céu, durante a noite, está todo cheio de estrelas, não resisto a dar uma olhada a toda essa imensidão resplandecente.
- E o que é que mais gosta de observar?
- Para já estou na fase de conseguir identificar as constelações.
- E já identificou algumas?
- Sim claro, as mais vulgares e que se encontram no hemisfério norte, tais como Andrómeda ou Cassiopeia.
- Puxa menina Alice, pelo que estou a ver tem-se dedicado muito a observar os astros.
- Tem que ser Mário, para combater o stress.
- E já tem stress com essa idade?
- Claro que sim Mário!!! Como é que achas que conseguimos viver no mundo dos adultos?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

LAMPREIAS APREENSIVAS

A D. Rosalinda já tinha manifestado alguma preocupação acerca da possibilidade de podermos vir a ser visitados pela A.S.A.E.. Segundo ela, apesar de ter quase a certeza que tudo estava conforme o previsto na Lei, sentia invariavelmente um arrepio pela espinha acima, sempre que via aqueles fiscais, disfarçados de brigada anti-terrorista, a entrar por tudo o que era estabelecimento comercial e a levar tudo o que não tivesse a etiqueta respectiva.
- Mas o que mais me preocupa Mário, são as lampreias que estão no tanque à espera de serem consumidas na semana que se avizinha.
- Não se preocupe D. Rosalinda que quando eles cá chegarem o olharem para os bichos, muito compridos e escorregadios, não se vão atrever sequer a tocar neles quanto mais a levá-los para algum lado.
- Já não digo nada Mário, da maneira que isto anda eles levam tudo e mais alguma coisa.
- E, além das lampreias, ainda temos as Nevadas e os Pastéis do Lorvão que, também eles, não devem estar de acordo com as regras de higiene e salubridade exigidas por Lei.
- Ainda mais essa para me apoquentar Mário, já não bastavam as lampreias, ainda hão-de levar também a doçaria conventual.
- Olhe D. Rosalinda, tenho um amigo que me contou que, A.S.A.E. decidiu inspeccionar uma missa na Sé de Lisboa para verificar as condições de higiene dos recipientes onde é guardado o vinho e as hóstias usadas na celebração.
- Ai Deus meu, e o que é que aconteceu depois?
- Bom, D. Rosalinda, segundo esse meu amigo, o oficial que comandava as forças, sugeriu ao cardeal que se assegurasse se as hóstias tinham um autocolante a informar a composição e informaram-o que o vinho deveria ser guardado em garrafas devidamente seladas.
- Credo Mário, que até me benzo com a mão esquerda!!!
- Mas como se isso não bastasse, ainda acabaram por prender o D. José Policarpo, depois de terem reparado que ele não procedia à necessária higienização do seu anel após cada beijo de um crente.
- Olha Mário não estou a acreditar em nada do que estás para aí a dizer mas, da maneira que as coisas estão a ficar, não de admira que até a casa de Deus seja profanada por esses polícias das mercearias.
- Não se admire que isto piore, pelo menos a julgar pelas declarações de alguns políticos da nossa praça, que já compararam a A.S.A.E. à extinta P.I.D.E./D.G.S.

sábado, 26 de janeiro de 2008

A SAÚDE É ALIJÁ(Ó)

- Acho bastante inquietante toda esta polémica à volta do socorro prestado quer pelos bombeiros quer pelo i.n.e.m. em algumas localidades do país.
- Olha Mário, na minha opinião, os principais interessados em alimentar este tipo de situações são aqueles que pretendem chamar a si a responsabilidade pela administração dos cuidados de saúde.
- Bom Afonso, tu estarás em melhores condições do que eu para opinar sobre o assunto, pois trabalhaste algum tempo numa central de 112.
- O que eu sei Mário, é que quando as urgências funcionavam durante toda a noite, não ocorriam tantas situações dessas o que só prova, que nessa altura, os bombeiros prestavam um serviço eficaz e conseguiam "dar conta do recado" sempre que eram chamados para alguma emergência.
- Tens toda a razão Afonso, agora sempre que acontece algum acidente mais grave, em que a pessoa necessita de cuidados urgentes, as ambulâncias têm que esperar pela viatura do i.n.e.m. para que sejam prestados os cuidados necessários à vítima, não estando autorizadas a seguir de imediato para o hospital.
- Queres tu dizer então que tudo isto são guerras de capelinhas?
- Claro que são. Se as urgências fecham é necessário garantir às populações uma assistência médica eficaz, o que só será possível fazer com unidades móveis estrategicamente colocadas.
- Então Afonso, se bem percebo, o que se pretende com tudo isto é tentar mostrar às pessoas que a alternativa às urgências é o sistema de socorro feito por unidades móveis que se deslocam da sede até ao local do sinistro ou até a um ponto previamente definido com os bombeiros.
- Pois, basicamente é o que acontece.
- Mas assim o sistema é muito falível!!! Qualquer contratempo pode ter consequências irreversíveis para as vítimas e depois é um 31 até encontrar os responsáveis.
- Não Mário, aí é que tu te enganas. Ainda não percebeste que os responsáveis hão-de ser sempre os bombeiros e nunca o i.n.em.?
- Pois claro Afonso, até pode ser esse o resultado esperado, mas tenho toda a certeza que as populações dão muito mais credibilidade àqueles que sempre estiveram ao seu lado nos momentos mais difíceis do que àqueles que ainda agora apareceram com a solução para todos os problemas de saúde, como se eles nunca tivessem existido.
- Tudo se há-de resolver Mário, só temos que nos esforçar por estarmos todos à altura uns dos outros para que cada um saiba ocupar o seu lugar com responsabilidade pois só assim conseguimos zelar por aquilo que é o mais importante, a qualidade de vida das pessoas.

VULNER(H)ABILIDADES

- Já viste isto Mário? Os professores são aqueles em quem os portugueses mais confiam para governar o país.
- Muito à frente dos políticos?
- Sim, a julgar pelas sondagens, bastante à frente!
- Mas há uma coisa que eu não compreendo. Se todos consideram os políticos pessoas de mau carácter, porque razão é que continuam a votar neles???
- Olha Mário, cá para mim, os que mais participaram nas sondagens, foram os professores.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

O ÓRGÃO TERRORISTA

- Então D. Rosalinda, acha que o Sr. Presidente foi satisfeito com a estadia?
- Olha Cristina, pelo menos, o que me foi transmitido pelo chefe da casa civil do Sr. Presidente da República, foi que sua Exª. foi daqui completamente deliciado, tanto com a lampreia, como com as Nevadas de Penacova. Mas aquilo que mais o impressionou, foi a magnífica vista sobre o Mondego que ele conseguia ter da suite presidencial que lhe foi atribuída para pernoitar na pensão.
- E prometeu voltar?
- Sim, mas creio que não na qualidade de Presidente.
- Bom, nesse caso, só daqui a 8 anos.
- Provavelmente Cristina mas, pela minha experiência, virá muito antes disso pois dificilmente esquecerá o arroz de lampreia da Susana.
- Desculpe estar a meter-me na conversa D. Rosalinda, mas parece que Sua Exª. o Sr. Presidente foi um bocadito "apertado" com a questão do órgão do Mosteiro do Lorvão.
- Pois parece sim Mário, mas o homem não tem culpa que andem nessas andanças há mais de 10 anos, portanto....
- Portanto, nem daqui a mais 10 a coisa fica resolvida, pelo menos a julgar pelas palavras da Srª. Ministra da Cultura.
- Então Mário, quais foram elas?
- Então não leste Cristina? Ainda nem sequer fizeram as peritagens necessárias à sua recuperação, quanto mais o seu início.
- E agora com o aeroporto de Alcochete e com o campo de tiro, ainda vai ser pior D. Rosalinda.
- Qual campo de tiro Mário?
- Então a Srª. não ouviu falar que vai ser construído na Quinta de Carrazedos?
- Não digas parvoíces!!!!
- É verdade, pelo menos segundo alguns entendidos no assunto que terão tido acesso a informações sigilosas, a coisa está para breve.
- Olha Mário, não estou para ouvir essas tolices todas até porque tenho bastante que fazer.
- Até mais logo então D. Rosalina.
- E tu Cristina, estás bem-disposta?
- Mais ou menos Mário. A Sara anda com diarreira e um febrezita que não a deixa sossegada, por isso não durmo nada de noite com a miúda sempre muito agitada.
- Vais ver que agora com a chegada do tempo mais quente as coisas vão melhorar. Além disso essas idades são muito complicadas para as crianças por causa das defesas do organismo que ainda não estão suficientemente fortes para combater esses vírus todos que por aí andam.
- Puxa Mário, até parece que já foste pai.
- Não fui mas estou a preparar-me para o ser.
- Por falar em vírus, não achas que essa onda de terrorismo que agora por aí anda está a ser demasiado levada a sério?
- Bom, não deixa de ser preocupante pensarmos que poderão por aí andar uns indivíduos a querer rebentar com alguma coisa ou com alguém, portanto, e partindo do princípio que Portugal fez parte da famigerada Cimeira dos Açores, ficamos sujeitos a uma dessas situações.
- O meu receio é que as ameaças se concretizem.
- Pois também o meu mas, a partir do momento que nos metemos nelas, por intermédio dos nossos estúpidos governantes, temos que aguentar com as consequências, sendo certo que eles são os que menos sofrem porque são os que mais possibilidades têm de poder fugir a uma eventual situação mais complicada.
- Mas as nossas polícias não poderão evitar que isso aconteça?
- Tal como evitaram a existência de uma célula terrorista da E.T.A. no Algarve, durante 30 anos?

domingo, 20 de janeiro de 2008

A VISITA DO SR. PRESIDENTE

- Bons olhos te vejam Paulo, finalmente regressaste de Marrocos!!!
- Já estava com saudades Mário, dá cá um abraço.
- Então, foste triplicar o saldo da tua tia a Marrocos?
- Não percebi essa Mário....
- Deixa lá, é um slogan que uma operadora de telemóveis adoptou por altura dos Reis e que ficou no ouvido. E então novidades?
- Por lá nada de especial. Tirando a areia e o calor, a única coisa que me fez ficar triste foi terem cancelado o "Paris Dakar".
- Pois é amigo, por cá também foi um balde de água fria para muita gente.
- E prejuízo...
- Claro, prejuízo e de que maneira.
- E por cá Mário?
- As novidades estão à vista meu caro. Nova pintura, madeiras envernizadas, nova decoração, mobiliário novo e algum restaurado e, claro, novas pessoas na pensão.
- Ah sim, a quem te referes?
- Vez aquela menina pequena que está ali entretida a fazer aquele puzzle?
- Sim claro.
- É filha da Cristina e tem quatro anos, a caminho dos cinco.
- Qual, a tua mais que tudo?
- Exactamente, foi fruto de uma relação atribulada que a Cristina teve.
- E agora?
- Agora, faz parte da família.
- Ainda bem para ela e para vocês, claro!!!
- Obrigado Paulo.
- E o resto do pessoal está todo bem de saúde?
- Tudo em forma amigo. A D. Rosalinda teve cá o filho e a nora o que para a menina Alice foi extraordinário pois recebeu como prenda um telescópio.
- Sim eu lembro-me de ser uma das coisas que ela gostava de ter como presente.
- A Luísa ficou noiva do António, tendo até recebido um anel de noivado.
- E a Susana?
- Bom, a Susana ficou um bocado triste com a tua ida para Marrocos mas, são coisas que vocês, a seu tempo, resolverão.
- Então está tudo a correr bem, não é assim?
- Claro que está Paulo, a qualidade da pensão está cada vez melhor, os hóspedes estão cada vez mais satisfeitos e as reservas não param de aumentar.
- Óptimo para todos então.
Nisto chega à recepção a D. Rosalinda e, de imediato, deu as boas vindas ao Paulo não deixando de salientar a tez morena que ele trazia norte de Marrocos e a magreza que aquelas paragens lhe deram ao corpo.
- É do calor D. Rosalinda, seca-nos a gordura toda.
- Pois é Paulo, devias ter levado também contigo uma boa cozinheira.
- Pois devia D. Rosalinda mas, nesse caso, a Srª. teria ficado sem ela. (risos)
- Olha Mário.
- Sim D. Rosalinda.
- Está tudo preparado para a visita do Sr. Presidente da República amanhã?
- Tudo preparadíssimo D. Rosalinda.
- Não quero que falte nada a Sua Excelência, compreendeste?
- Claro que sim D. Rosalinda, nada faltará.
- Ai vem cá a Penacova o nosso Presidente?
- Vem a Lorvão, depois de ter passado por umas quantas localidades da zona centro.
- Sim senhor, muito bem. Na volta vai ver o que falta no órgão.
- Pois, tal como os que vieram cá antes dele.
- Bem, enquanto o órgão estiver como está temos sempre visita garantida.
- E depois Mário?
- Depois vem almoçar à pensão.
- Não me digas que vem ao cheiro da lampreia?
- Penso que não a vem só cheirar.
- Naturalmente que não meu caro.
- E o Hotel Penacova?
- Bom, o Hotel Penacova acolheu o reveillon e, depois, dispensou onze trabalhadores com o argumento de que não eram necessários na época baixa.
- Não foi muito bom começo mas, até certo ponto, tem a sua razão.
- Vamos ver se vinga.
- Pode ser que sim, para variar, porque nesta terra tudo morre à nascença.
- Tens razão Paulo. A princípio é tudo muito lindo, cheio de boas perspectivas mas depois vai-se tudo embora a dizer que Penacova não presta, que não há incentivo, que não há acompanhamento nem infra-estruturas para apoiar os grandes investimentos que aqui se têm feito.
- Quais Mário?
- Olha, enquanto eu penso, vamos comemorar o teu regresso.
- Boa ideia Mário.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...